Sementes

A Boa Safra disparou – Marino Colpo acha é pouco

A Boa Safra é um dos poucos IPOs com retorno positivo, mas a alta de 26% parece tímida para um negócio que aumentou as vendas em 70%

Marino Colpo sabe bem que a bolsa não tem dado motivos para alegria, mas acha que a Boa Safra merece mais. O negócio de sementes é um dos poucos IPOs dos últimos tempos com retorno positivo, mas a alta de 26% parece tímida para um negócio que aumentou as vendas em 70% e viu o lucro mais que duplicar desde então.

“É lógico que é um momento ruim para todas as empresas da bolsa, mas acho que está bem aquém do que deveria. Na minha visão, a Boa Safra é muito melhor do que os 26% sugerem”, diz o empresário. Para ele, o negócio poderia ter dobrado de valor desde a abertura de capital.

Ontem, a reação dos investidores ao balanço da Boa Safra deu alguma razão a Marino. Os papéis subiram mais de 8% e a empresa terminou o pregão a R$ 12,52, avaliada em R$ 1,46 bilhão. “Acho que o mercado não acreditava que a gente tinha força para manter um crescimento tão forte”, avalia Marino.

Os dados do quarto trimestre vieram com uma receita de R$ 690 milhões, crescimento de 71%. A Boa Safra também bateu as estimativas dos analistas para o Ebitda. Enquanto Daniel Sasson, do Itaú BBA, esperava R$ 85 milhões, a companhia entregou R$ 118,8 milhões. A estrutura de  capital é saudável, com caixa líquido de R$ 223 milhões.

Sazonalizade

Num negócio como a Boa Safra, a fotografia trimestral nunca é uma boa métrica. Pelas características da mercado, as vendas de sementes ficam concentradas no segundo semestre — no ano passado, particularmente, o atraso nas chuvas jogou as vendas mais para o último trimestre. 

Mas quando se considera o ano, melhor janela para analisar o ativo, o crescimento da receita líquida da Boa Safra também impressiona: 69%, chegando a R$ 1,7 bilhão em 2022.

O salto do ano passado não é uma exceção. Graças aos investimentos que vem fazendo desde o IPO, ampliando a capacidade de beneficiamento de sementes, a companhia também já contratou o crescimento para este ano.

A Boa Safra terminou o último ano com uma capacidade instalada para 170 mil big bags (cada uma comporta 1 mil quilos de sementes de soja), vendendo o equivalente a 136 mil big bags. Com os investimentos já pagos e em andamento, a capacidade chegará a 200 mil big bags ao longo deste ano.

Como resultado, a companhia vem ampliando sua participação no mercado de sementes. Desde 2017, o market share da Boa Safra passou de 4% para 7,4%. Num setor pulverizado, a empresa é a líder mesmo com uma fatia pequena, mas o movimento de consolidação da indústria está apenas no começo.

Consolidação e M&As

A tese é que o mercado brasileiro ficará mais parecido com o americano, onde três players detém 60% de share ؅ — por lá, a Corteva é a líder, com mais de 35%. Nesse movimento, é inevitável que exista concorrência, como evidencia o crescimento da SLC nessa área.

“Acho que outros players também vão ocupar posição de destaque. Mas queremos manter a liderança”, diz Marino. Para isso, o ritmo não pode diminuir.  “É uma jornada de muito investimento, mas que traz muito crescimento e um payback rápido”, argumenta Marino.

Desde o IPO, a Boa Safra investiu R$ 320 milhões. Com esses recursos, já aumentou o lucro em R$ 105 milhões. “Eu penso muito como alocador de recursos e ainda tem pista para crescer organicamente”.

Não à toa, a Boa Safra tem sido muito seletiva em M&As desde a abertura de capital. A única aquisição ocorreu no ano passado, com a entrada no mercado de sementes de milho ao assumir o controle da Bestway Seeds (a empresa injetou R$ 35 milhões no ativo, ficando com uma participação de 66%). Antes, só atuava com semente de soja.

Marino até acha que aquisições fazem sentido, mas os M&As em geral ainda estão salgados. “O pessoal pede um múltiplo maior que o nosso. Aí eu prefiro construir do zero, com payback de três a quatro anos”, conta. A considerar as projeções para o resultado da Boa Safra em 2023, SOJA3 negocia a um múltiplo (preço/lucro) de 6 vezes.

Nos últimos anos, a Boa Safra ampliou a capacidade das unidades de beneficiamento de sementes de Cabeceiras (MT) e Buritis (MG), construiu uma planta em Jaborandi (BA) e dois centros de distribuição, em Balsas (MA) e Sorriso (MT). A companhia também está construindo uma unidade em Primavera do Leste (MT).

No que depender de Marino, a expansão está longe de terminar. No Boa Safra Day programado para 17 de abril, o empresário deve anunciar mais investimentos.