Titã das commodities agrícolas, a Cargill é uma companhia de capital fechado (a maior do gênero nos Estados Unidos, com US$ 165 bilhões em vendas) que aproveita bem a condição de estar fora da bolsa. Nas divulgações de dados financeiros, costuma ser comedida.
Mas ao acessar o mercado europeu pela primeira vez em quase uma década para emitir bonds, a trading revelou aos investidores alguns dos dados do atual exercício fiscal.
Em nove meses (até fevereiro), a Cargill acumulou um lucro de US$ 3,2 bilhões, mostrou uma reportagem dos colegas Priscila Azevedo Rocha e Tarso Veloso, da Bloomberg.
Ainda é um bom lucro quando comparado aos resultados entre 2018 e 2020, mas os dados mostram que a companhia ficará longe de repetir o excepcional 2022, quando teve um lucro líquido de mais de US$ 6 bilhões. O achatamento das margens na operação de carnes é um dos grandes detratores do resultado.
A Fitch projeta que o Ebitda da Cargill no exercício fiscal de 2023 (que vai até maio) deve ficar próximo de US$ 7 bilhões, o que ainda é expressivo, mas bem aquém dos mais de US$ 11,5 bilhões do ano anterior.
Apesar da piora dos resultados em carnes (o que também afeta outros players nos EUA, como as brasileiras JBS e Marfrig), o apetite dos investidores pelos papéis da Cargill foi voraz.
A demanda pelos eurobonds emitidos pela Cargill chegou a 9 vezes, bem acima da média do mercado (3,3 vezes). A trading foi ao mercado para levantar 500 milhões de euros.
Para a Bloomberg, a demanda é mais uma demonstração de como as questões ambientais e de sustentabilidade ficaram em segundo plano nos últimos tempos. O sucesso da captação indica que a nova regulação europeia sobre desmatamento passou ao largo da avaliação de riscos.
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