Depois da revolução que a transgenia provocou na produtividade da agricultura mundial a partir do início do século XXI, o mundo pode estar diante de uma nova era genética, capaz de transformar o rendimento das lavouras com variedades mais adaptadas às mudanças climáticas.
Na Corteva, uma das líderes globais em biotecnologia agrícola, a edição gênica não só está no centro da estratégia de inovação, como já começa a dar frutos. Na última terça-feira, a gigante criada a partir da fusão das divisões agrícolas das químicas Dow e DuPont apresentou os primeiros frutos: um nova semente híbrida de trigo, com previsão de lançamento em 2027.
“Essa é uma das tecnologias mais transformadoras que a nossa indústria já viu nos últimos 50 anos. Tem o potencial de mudar a forma como a agricultura é feita e resolver questões como a segurança alimentar e as mudanças climáticas”, afirmou o CEO da Corteva, Chuck Magro, durante um evento com investidores.
O executivo não poupou palavras para falar das potencialidades, com trunfos que se espraiam até mesmo pela agenda regulatória global. “Nós acreditamos que se trata de um potencial quase ilimitado”, disse.
Para Magro, a edição gênica deve contar com uma posição mais benevolente das agências regulatórias com esse tipo de tecnologia do que o que existia com os transgênicos, que ainda enfrentam grande resistência na União Europeia.
A técnica, conhecida pela sigla em inglês CRISPR, permite a melhora de variedades sem a necessidade de inclusão de DNA de outras espécies, o que a distingue de um transgênico.
Atualmente, a Corteva conta com quatro rotas de edição gênica, incluindo dez culturas e mais de 1.400 genes mapeados. Com a tecnologia de edição gênica, é possível inativar (com a molécula de RNAi) genes específicos que se manifestam na planta.
Os lançamentos da Corteva
Foi assim que surgiu a semente híbrida de trigo, que a Corteva pretende lançar em 2027. Além de aumentar a produtividade de 10% a 20%, a semente tem como objetivo permitir que produtores usem o trigo como uma cultura de verão de forma financeiramente viável.
“Os produtores ainda vão continuar plantando soja e milho, mas poderão usar o trigo como uma cultura de verão. Terão mais uma opção financeiramente viável com mais produtividade. Isso permite usar o sistema de agricultura de inverno para os biocombustíveis”, explicou Magro.
A Corteva também vem trabalhando no desenvolvimento de um milho híbrido mais resistente a doenças, com previsão de lançamento também em 2027. Segundo a companhia, o híbrido tem uma altura 30% menor que a convencional, melhorando a aplicação de fungicidas e fertilizantes — algo possível de ser feito sem precisar que a produção seja geneticamente modificada.
“É um conceito novo, que engloba a resistência a quatro doenças que causam perdas de US$ 1 bilhão na América do Norte”, explicou Sam Eathington, CTO da Corteva.
Além de trigo e milho, soja e canola também estão na mira da Corteva, acrescentou Tim Glenn, vice-presidente de sementes.
Para conseguir desenvolver iniciativas como essa, a companhia aponta como diferencial um vasto banco de dados de genes “de elite”. Com os dados e a tecnologia proprietária, a empresa consegue criar variações de três a quatro vezes mais rápido do que no cruzamento tradicional, fazendo mais de 70 edições de genes em uma única planta.
Ao buscar se posicionar na fronteira de inovação agrícola, a Corteva busca preservar o protagonismo no mercado. Atualmente, o mercado endereçável de companhia é estimado em US$ 38 bilhões e vai continuar crescendo rapidamente. A estimativa é que, em dez anos, esse montante atinja US$ 50 bilhões, um quinhão relevante para disputar.