No mercado imobiliário rural, a “crise do agro” que tanto preocupa a Faria Lima é só uma marolinha. A queda no preço da soja resultou num aquecimento do mercado, com um aumento na procura por propriedades para compra, segundo a BrasilAgro, um dos maiores players neste segmento.
Nos últimos meses, a seguinte lógica dominou o mercado de terras: com a queda no preço dos grãos, a rentabilidade do produtor vai cair e ele vai deixar de comprar fazendas.
“Começa a acontecer o movimento inverso”, diz André Guillaumon, CEO da BrasilAgro. “Estamos vendo uma aceleração porque a moeda de troca do produtor agrícola, a soja, está muito desvalorizada”.
Em 12 meses, o preço da soja em Paranaguá caiu quase 30%. A saca, que valia cerca de R$ 160, agora é negociada perto de R$ 115 —ao produtor, os preços chegam perto de R$ 100 dependendo da região.
“O produtor que está capitalizado pensa: vou entregar a soja para a trading a R$ 105 ou vou comprar terra?”, explicou Guillaumon o racional do agricultor durante uma conversa com jornalistas nesta quarta-feira. “Ninguém tinha essa leitura de mercado, nem nós. Isso tem dado um aquecimento importante no mercado imobiliário brasileiro. Temos visto uma aceleração na prospecção de áreas”.
“Estamos vislumbrando uma liquidez importante nos próximos meses”, disse. Existem na mesa possibilidades de compra e de venda sendo levadas ao conselho da companhia, revelou. “Eu acredito que vamos ser uma empresa de resultados imobiliários este ano”.
Por enquanto, a BrasilAgro parece estar mais na mão vendedora. “Estamos sendo beneficiados por essa procura. Cabe a nós encontrar produtos de venda ou formas de recebimento que nos contemplem nisso”.
Vender uma fazenda à vista, neste momento, não faz sentido. Mas fechar um negócio com pagamento a prazo pode ser um bom negócio. Nesses casos, a BrasilAgro inclui no seu balanço um recebível de soja — que é marcado a mercado no balanço de acordo com as variações no preço da commodity, do dólar e taxas de juros futuras.
Resultados
No segundo trimestre da safra 2023/24, aliás, o balanço da BrasilAgro foi beneficiado por essa marcação a mercado, que gerou um ganho financeiro. Não fosse isso —e ganhos com operações com derivativos—, a empresa teria registrado um prejuízo líquido maior do que os R$ 5,8 milhões reportados nesta quarta-feira. O Ebitda ajustado da empresa foi negativo em R$ 12,6 milhões ante um resultado positivo de R$ 17,1 milhões no mesmo período da safra anterior.
A empresa teve um prejuízo com a venda de milho e um lucro marginal na comercialização de soja. Os preços dos grãos caíram mais do que os custos, derrubando as margens. Mas, para a próxima safra, o cenário é mais promissor, já que os preços dos insumos continuam em queda.
“Se os custos se ajustarem e tivermos os preços mantidos, podemos voltar a ter uma margem na casa de 40% no caso da soja”, estimou Guillaumon, considerando apenas os custos diretos.
Colheita e plantio
Na parte agrícola, Guillaumon segue otimista com a colheita da soja na região do Vale do Araguaia. Chuvas frequentes têm atrapalhado os trabalhos de campo, mas o CEO acredita que será possível alcançar uma produtividade parecida com a da safra passada.
No Maranhão, Piauí e Bahia, a regularidade das chuvas a partir de dezembro tem ajudado no desenvolvimento das lavouras. Havia uma preocupação com a previsão de chuva insuficiente em fevereiro, mas os últimos mapas meteorológicos mostram um nível adequado de precipitação.