Em busca de melhores margens, a SLC Agrícola quer aumentar a área de algodão em detrimento do plantio de milho safrinha na temporada 2023/24. A competitividade do cereal foi prejudicada pela drástica redução no preço — um retrato do momento atual da agricultura no Brasil —, alterando o planejamento da companhia.
“Nossos dados mostram que o algodão está mais competitivo do que o milho”, Aurélio Pavinato, CEO da SLC, disse hoje em teleconferência com analistas.
Enquanto a perspectiva para o preço do milho é baixista, a companhia aposta em alta da pluma no mercado internacional enquanto importantes produtores globais, como Estados Unidos e Índia, enfrentam problemas climáticos. Não por acaso, a sua posição de hedge em algodão está muito abaixo da média: só 3,6% da produção estimada na safra 2023-24 havia sido hedgeada até 7 de agosto, contra 37,5% um ano atrás.
Na soja, mais de metade da produção futura está hedgeada. A SLC aproveitou a recuperação nos preços internacionais nos últimos meses para avançar na comercialização da oleaginosa e na compra de insumos. A empresa concluiu a compra de fertilizantes e defensivos químicos no segundo trimestre, que Pavinato classificou como “melhor momento” da relação de troca. “Os preços de alguns insumos já iniciaram uma recuperação à medida que os produtores aceleraram a comercialização”, disse.
CEO daquele que provavelmente é o maior grupo agrícola do país, Pavinato prevê que os preços do frete devem continuar altos até o quarto trimestre, com a safra recorde de milho que está sendo colhida precisando chegar aos portos. Ao mesmo tempo, esse movimento pode favorecer a logística reversa dos fertilizantes ao campo, evitando graves problemas na entrega dos nutrientes necessários para o plantio da soja.
“A logística do porto para a fazenda está um pouco estrangulada. O momento é desafiador, mas acho que não faltará produto para o agricultor. O grande volume do plantio começa em outubro”, disse. “No nosso caso, não há preocupação nenhuma”, emendou.
Algodão
Ainda não está claro quantos hectares de milho safrinha devem migrar para algodão na próxima safra. Os executivos da SLC evitaram falar em números. Eles dizem que não há uma limitação na qualidade do solo para essa transição, mas sim na operação agrícola.
No momento, a SLC está fazendo as contas de quantas colheitadeiras de algodão a mais a empresa precisará ou se há limitações na capacidade de beneficiamento. O clima também precisa ajudar. Quanto mais cedo a empresa conseguir plantar a soja, melhor será a janela para o cultivo do algodão.
Além do preço, que vem subido nos últimos meses, o algodão também apresenta a maior probabilidade de ganho de produtividade, considerando os significativos aumentos que já ocorreram na soja, segundo Pavinato. Na safra atual, a produtividade do algodão segunda safra, cuja colheita está começando, deve ficar 12,7% superior ao estimado inicialmente. E há espaço para mais nas seguintes.
“Acreditamos que elevadas produtividades serão particularmente importantes para sustentar resultados operacionais em um ano em que os preços das soft commodities começaram a se normalizar e os custos de produção estiveram perto do pico”, escreveu Thiago Duarte, analista do BTG Pactual, em relatório divulgado hoje.
Sustos
A SLC reportou queda de 28% no lucro líquido em relação ao segundo trimestre do ano passado, para R$ 349 milhões, enquanto o Ebtida caiu 30,5%, atingindo R$ 570 milhões. A receita teve retração de 13%, para R$ 1,4 bilhão, devido à queda no preço das commodities e menor volume faturado refletindo atrasos na colheita da soja e, como consequência, na safra de milho.
Embora os números apresentem uma retração expressiva, o que era esperado, as margens estão “em linha com os resultados históricos”, ressaltou a SLC. O balanço trouxe alguns exemplos do atual momento da agricultura no país: margens em queda com preços mais baixos e custos mais altos, resultando em aumento na dívida e necessidade de caixa.
Dívida
A dívida líquida ajustada da SLC aumentou 70% em relação ao fechamento de 2022, atingindo R$ 3,98 bilhão no final do segundo trimestre. O endividamento foi impactado principalmente pelo pagamento de insumos agrícolas da safra 2022-23 e arrendamentos. O aumento da dívida no segundo trimestre reflete o ciclo financeiro do negócio, segundo a SLC, mas também houve alta em relação ao mesmo período de 2022, provocando um aumento na alavancagem de 1 vez para 1,6 vezes nessa mesma comparação.
Durante a call, um investidor chamou a atenção para o aumento na dívida de curto prazo, que esteve maior do que o caixa nos últimos trimestres. Neste ano, a companhia tem R$ 2,1 bilhões em dívidas vencendo.
“No início do ano, com a mudança de governo, os spreads dos bancos cresceram e fizemos renovações mais de curto prazo. Hoje, os spreads estão bem menores e estamos acessando linhas de crédito mais interessantes”, disse Ivo Marco Brum, diretor financeiro e de relações com investidores.
No próximo trimestre, o caixa deve crescer com um avanço dos recebimentos e o perfil de dívida vai melhorar, assegurou. No fim de junho, a SLC tinha R$ 1,16 bilhão em caixa.
Se o cenário ficou mais desafiador para a SLC, imagina para os outros.