Safra recorde

A saída da BrasilAgro para vencer a pressão logística

Empresa antecipou negociações para travar custos logísticos; derivativos levaram a companhia a um prejuízo no segundo trimestre da safra 2024/25

A logística para escoar a provável colheita recorde — e altamente concentrada — de soja é o grande desafio desta safra. Não é diferente na BrasilAgro, um dos maiores produtores agrícolas do Brasil, que vem adotando medidas para evitar que o aumento esperado nos preços de frete afete as suas margens.

“Hoje, o Mato Grosso tem cerca de 10% da soja colhida, mas era para estar com 18%, 19%. Tem um represamento de soja pronta que deveria ter sido colhida e não foi. Isso tudo vai encavalando a logística”, diz André Guillaumon, CEO da BrasilAgro.

Os impactos da concentração da safra são acompanhados pela empresa desde o fim do ano passado com atenção, levando a gestão a tomar algumas iniciativas para minimizar os impactos da concentração elevada. “Pode ser que todos os remédios atenuem e não curem, mas fizemos remédios para curar”, frisa Guillaumon.

Na safra 2024/25, a companhia deve produzir 242 mil toneladas de soja, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. No milho, a produção deve somar 44 mil toneladas, um salto expressivo em relação às 18 mil toneladas do ano anterior. No milho safrinha, o aumento deve ser de 39%.

Para driblar os gargalos logísticos, a companhia tem armazenado a soja nos silos que possui até a demanda por transporte desafogar. Onde não há silos, a companhia se antecipou, no fim do ano, para fechar negociações com operadores logísticos e travar preços da soja com as tradings.

A dinâmica é a seguinte: a ferrovia cobra das tradings um montante em reais por tonelada pelo transporte do campo ao porto (ou à planta de esmagamento). Como o dólar estava alto, a logística, em reais, custava menos dólares por tonelada — o que significa, no fim do dia, um desconto menor para a BrasilAgro no cômputo do preço total da soja. 

“Para levar grãos ao porto, custava R$ 300 no dia 31 de dezembro, menos de US$ 50. Hoje, já está US$ 60. Aproveitamos na época para travar a logística”, explica Guillaumon.

O terceiro ponto da estratégia da BrasilAgro é a utilização de armazenagem em silo bags, em unidades onde isso é possível — ou seja, nada no Mato Grosso, onde a colheita tem sido chuvosa. 

“Principalmente no Matopiba, regiões onde a colheita é seca, nós preparamos todas as unidades de negócio que não têm silo a ter uma estrutura de silo bag para poder armazenar”, afirma o CEO.

Hoje, a empresa produz em 271 mil hectares divididos em seis estados brasileiros, além de Paraguai e Bolívia.

Derivativos derrubam lucro

Guillaumon falou a jornalistas para comentar os resultados da BrasilAgro no segundo trimestre da safra 2024/25, encerrado em dezembro. O bom desempenho operacional da companhia foi ofuscado pela marcação a mercado dos derivativos no período.

De setembro a dezembro, a companhia manteve a receita no patamar de R$ 153 milhões, trouxe o Ebitda do campo negativo para o positivo, mas, ainda assim, o prejuízo disparou em relação ao mesmo período do ano passado, passando de R$ 5,8 milhões para R$ 19,6 milhões. 

Na parte operacional, a decisão de segurar estoques de soja e a melhora das margens na cana trouxeram impactos positivos para o balanço. No semestre, a companhia ainda foi beneficiada por um ganho de capital com a venda das fazendas Alto Taquari e Rio do Meio, de R$ 107,9 milhões.

Todos esses fatores poderiam levar a companhia a um resultado positivo na última linha do balanço, não fosse o efeito da marcação a mercado dos derivativos.

A BrasilAgro tem como política fixar a margem em reais, a cada safra, para minimizar prejuízos. São operações em dólar e nos contratos futuros de soja feitas em bolsa.

No trimestre, as operações em Chicago tiveram um resultado positivo. Hoje, a companhia tem soja negociada a US$ 11,65, preço muito maior do que o do final de dezembro de 2024. Mas, no dólar, os impactos prejudicaram o balanço da companhia.

Em julho, quando a empresa faz seu orçamento e começa a fazer as operações de derivativos, a projeção de economistas — levada também ao conselho da BrasilAgro — era de um dólar a R$ 5,30. Com a escalada da moeda norte-americana ao longo do ano, a empresa fixou o câmbio de 67% da soja vendida a R$ 5,43. 

No fim do ano, entretanto, a explosão do dólar cobrou seu preço. “Vivemos um início de trimestre com dólar de R$ 5,60 a R$ 5,70 e fatidicamente, em 30 de dezembro, chegou a R$ 6,20”, lembrou Guillaumon.

A companhia tem de marcar esse ajuste de câmbio no balanço — ou seja, registrar a diferença entre os R$ 5,43 e os R$ 6,20, no limite. Esse foi um dos principais motivos pelos quais o resultado financeiro ficou negativo em R$ 75 milhões no segundo trimestre (ante uma receita de R$ 25 milhões no mesmo trimestre do ano anterior). 

O resultado negativo, no entanto, não significa desembolso de caixa. “No momento da colheita, vamos ter uma receita que vai compensar parte desse resultado negativo. Por enquanto, não há efeito caixa. Os desembolsos serão feitos somente no vencimento dos contratos, em maio, junho e julho”, afirmou Gustavo Lopez, CFO da BrasilAgro, na coletiva.

O executivo afirmou que, para referência, se a marcação a mercado fosse feita no câmbio de fevereiro, o impacto no resultado financeiro seria reduzido em R$ 30 milhões. 

Fazer projeções sobre dólar é “o cemitério dos economistas”, como definiu Guillaumon, em tom de brincadeira, na entrevista. Mas, mesmo assim, o executivo deu um panorama a respeito das expectativas mais recentes da BrasilAgro. 

“O que a gente vê por enquanto? O que todo mundo está falando de novo, que deve voltar para R$ 5,70, R$ 5,80. Os R$ 6,20 vieram no calor do momento. Acreditamos que o dólar deve ficar próximo de onde está agora, beneficiando o agronegócio e trazendo muita competitividade para o setor de carnes, o que tem impactos na corrida pelo milho que temos visto nos últimos três meses”, afirmou.