Depois de entregar um balanço que superou todas as expectativas dos analistas, a SLC reiterou hoje uma percepção disseminada entre quem é do campo. A empresa, um exemplo mundial de retornos na operação agrícola, negocia na bolsa com descontos que parecem injustificados.
“O pessoal sempre vem com uma narrativa de downside, mas a SLC é sempre consistente”, disse um executivo graduado de uma companhia de insumos agrícolas — ele próprio investidor da empresa da família Logemann.
Em relatório, o BTG Pactual também chamou atenção para o valuation descontado. Nos cálculos dos analistas Thiago Duarte, Henrique Brustolin e Pedro Soares, as ações da SLC negociam a um múltiplo (EV/Ebitda) de 4,8 vezes, um desconto de mais de 20% sobre o histórico da companhia.
Ao longo do ano, as ações da SLC caíram 9,2%. Nem mesmo os bons resultados do terceiro trimestre, divulgados ontem à noite, conseguiram puxar os papéis. No pregão desta quinta-feira, o papel caiu pouco quase 1,4%. No fechamento, a SLC valia R$ 8,2 bilhões.
Uma dificuldade para a SLC é o efeito dos grãos mais baratos sobre a percepção dos investidores, o que no fim das contas limita a recuperação dos papéis. Geralmente, as ações da companhia seguem a tendência das commodities agrícolas, mesmo que o negócio entregue retornos consistentes e acima da média.
Dentro da companhia, o valuation descontado vem justificando uma postura ativa na recompra de ações. Em teleconferência com analistas, o diretor financeiro e de relações com investidores da SLC, Ivo Brum, argumentou que, nos preços de hoje, faz muito mais sentido recomprar as ações da companhia do que adquirir terras.
Em outras palavras, as propriedades agrícolas do grupo são as terras mais baratas disponíveis. Segundo o executivo, as ações da SLC negociam com um desconto de quase 30% sobre o valor líquido dos ativos (NAV, na sigla em inglês).
Mais recompras
“Hoje, a ação está abaixo de R$ 40. Se não ajustar, vamos ter programas de recompras de ações abertos”, prosseguiu Brum, respondendo a uma pergunta do analista Gabriel Barra, do Citi, sobre alocação de capital.
Em 19 de outubro, a SLC concluiu um programa de 5 milhões de ações que estava aberto desde maio. A previsão original era que esse programa durasse um ano e meio, mas com as ações nos atuais patamares a companhia já recomprou todo o volume. De janeiro a setembro, a companhia gastou R$ 182,9 milhões com recompras.
Por causa disso, a conselho de administração da SLC aprovou ontem a abertura de um novo programa, para até 4 milhões de ações (volume avaliado em R$ 151,8 milhões, no preço de fechamento desta quinta-feira).
Nas atuais condições, a SLC deve continuar entregando um fluxo de caixa livre ao acionista de dois dígitos, escreveram os analistas do BTG. Com isso, o payout aos investidores (somando dividendos e recompra) deve continuar na ordem de 50%, mesmo com a normalização dos preços dos grãos após os picos históricos das duas últimas safras.
Arrendamentos
Com um balanço confortável para fazer recompras de ações (o índice de alavancagem deve terminar o ano abaixo de 2 vezes), a SLC também vê os arrendamentos como uma oportunidade de crescimento relevante.
Na teleconferência, Brum disse que a SLC está olhando ativamente para terras que podem ser arrendadas. “Tem um potencial de crescimento importante”, indicou.
Depois de um momento em que as terras ficaram muito caras — assim como o preço dos arrendamentos —, as propostas voltaram a circular no mercado. “Estamos tentando achar a melhor oportunidade para fazer alocação. Não depende só da gente, São duas partes negociando”, ponderou o diretor financeiro.
Para a SLC, o ideal é fechar os arrendamentos até o fim do ano ou, no mais tardar, até abril. É o prazo necessário para organizar a fazenda para a próxima safra, adquirindo as máquinas agrícolas e fertilizantes necessários para a nova área.
Com a queda dos preços dos fertilizantes, a conversão de pastagens em agricultura voltou a ser uma boa opção de investimentos e a companhia vem avaliando essa possibilidade, destacou o analista da XP, Leonardo Alencar, num resumo sobre os principais tópicos da teleconferência.
Nos próximos anos, a SLC também deve investir para ampliar a capacidade de beneficiamento de algodão e em máquinas para a colheita da pluma. Esses investimentos serão necessários porque a companhia chegou ao limite de sua capacidade para plantar algodão.
Diante das margens pífias do cultivo de milho safrinha para a safra 2023/24, a SLC foi ao máximo de sua capacidade ampliando a área prevista para o plantio de algodão. O cultivo da pluma nas áreas da companhia vai chegar a 187 mil hectares, um salto de 15,5%.