Revendas

Qual é a situação da Agrogalaxy? Falamos com Sebastian Popik e Welles Pascoal

CEO e chairman dizem que revenda tem caixa privilegiado e estoques normalizados, mas atrasos nos recebimentos levam Agrogalaxy a priorizar recursos

As últimas semanas foram agitadas na Agrogalaxy. A rede de revendas controlada pelo Aqua Capital vem implementando uma porção de ajustes para lidar com os atrasos nos pagamentos de produtores, um problema que atinge todos os players do setor, mas a visibilidade da companhia a torna um alvo fácil para boatos.

Do lado de fora, informações desencontradas passaram a circular numa velocidade típica de grupos de WhatsApp, afetando o preço dos ativos. No mercado secundário de dívida, por exemplo, a taxa do CRA da Agrogalaxy saltou de 4,25% para 6% ao ano desde o início de junho, sinalizando o nível de stress dos investidores com a boataria em curso.

“Você viu a Galaxy?” A pergunta, algumas vezes direcionadas a estes repórteres, foi um assunto recorrente nas rodas de conversas da indústria nos últimos tempos. Mas a resposta não é dramática. Pelo contrário.

Se é fato que as revendas brasileiras sofrem num mercado complexo — estoques altos de insumos e preços dos grãos em baixa —, também é verdade que a situação da Agrogalaxy está bem longe do caos pintado nas mensagens apócrifas, a começar pelo caixa. As disponibilidades da companhia aumentaram desde o fim de março, quando o balanço marcava R$ 891 milhões em caixa, apurou The Agribiz.

Na sexta-feira à tarde, fomos recebidos na sede do Aqua Capital por Sebastian Popik, o gestor que criou e comanda a firma de private equity. Com Welles Pascoal, CEO da Agrogalaxy, por videoconferência, abordamos a situação da rede de revendas. A dupla não quis abrir números, mas deixou mensagens bem claras.

“Fechamos junho com um caixa bastante privilegiado. Dá para ter uma segurança muito grande de honrar os compromissos”, disse Pascoal

Popik complementa. “Estive com um gestor de crédito de revenda hoje. Ele viu nossos indicadores de crédito, inadimplência, posição de caixa. Disse que estamos muito na frente da média do mercado. Não estou dizendo que está tudo legal, mas não temos problema de crédito”, assegurou.

De fato, a Agrogalaxy — assim como as demais revendas — precisa passar um período de turbulência, o que vem conseguindo fazer tanto nas negociações com os fornecedores de insumos quanto nas conversas com os produtores que atrasaram os pagamentos. Nas palavras de Pascoal, a situação é como atravessar um rio em correnteza. “A margem já está lá na frente e é visível.”

Estoques

Aos poucos, Agrogalaxy vem conseguindo reduzir os problemas. Os estoques de químicos — que estavam abarrotados como nunca se viu na indústria — voltaram aos níveis normais para a companhia agora em julho. Nem todo o mercado ainda conseguiu isso, o que mantém uma pressão sobre os preços dos insumos, mas a situação está a caminho de uma normalização.

“Pela primeira vez vi um inventário de químicos no campo de 30% o volume vendido no ano anterior”, destacou Pascoal, sinalizando o desafio das revendas e da indústria de insumos, que precisa absorver esse impacto também.

Nas negociações com os fornecedores de insumos — gigantes como Bayer, Corteva e Syngenta, entre outras —, parte dos estoques são devolvidos, especialmente aqueles que não serão vendidos no curto prazo (leia-se, até outubro). Em alguns casos, os fornecedores deram mais prazo de pagamento.

A normalização dos negócios das revendas, no entanto, só deve se completar em abril do ano que vem, quando termina a colheita de soja da safra 2023/24. É o período necessário para que os produtores que atrasaram pagamentos se ajustem.

Pouco a pouco, os produtores estão renegociando, até porque precisam renovar o crédito com revendas como a Agrogalaxy para comprar os insumos necessários ao plantio da safra, que começa em setembro. Em média, os pagamentos dos agricultores estão atrasados em 45 dias, disse Pascoal. A entrada dos recursos do Plano Safra deve ajudar.

Ajustes

Enquanto negocia com os produtores, a Agrogalaxy também apertou o cinto internamente, enxugando custos. Parte disso inclui uma nova rodada de demissões feita há poucas semanas, quando a companhia cortou mais de 40 vagas. No início do ano, a empresa já havia feito outra rodada.

O burburinho sobre as demissões ajudou a alimentar o boato infundado de que a Agrogalaxy pediria recuperação judicial, o que não faz muito sentido lógico. Afinal, por que alguém gastaria com rescisões se numa RJ o negócio estaria protegido desses pagamentos por um bom tempo? Porque não há recuperação judicial em discussão.

Segundo Welles, a Agrogalaxy também adiou alguns investimentos, como a implementação do sistema de gestão SAP. “Postergamos um gasto da ordem de R$ 30 milhões a R$ 40 milhões para o próximo ano. É uma questão de priorizar onde estamos colocando nossos recursos”.

A meta de abertura de novas lojas também foi reduzida para “quatro ou cinco”, que já estão compromissadas, de 18 anteriormente projetadas. É a segunda vez que a empresa corta o número de lojas a serem abertas este ano – a meta inicial era de 20 a 25.

A companhia também fez demissões na área de tecnologia, mas manteve a divisão. “Num ambiente de crescimento do digital como foi na pandemia, você tem uma guerra nuclear para ser o primeiro e todo mundo investe demais. Hoje, com menos investimentos você consegue estar na frente”, resume Popik.

Ao priorizar investimentos e se concentrar na gestão, a Agrogalaxy quer melhorar em produtividade. “É o momento de começar a olhar para dentro”, disse Welles lembrando que a companhia é resultado de uma série de aquisições. “Eu não posso ficar pedindo margem somente para o meu fornecedor”.

Uma revenda bem administrada, acrescentou Popik, tem uma margem Ebitda de 8% a 9%. Nos últimos 12 meses, a margem da Agrogalaxy ficou em 5,6% — porque houve mais gastos no crescimento —, mas a companhia quer reduzir essa diferença.

Em bolsa, a empresa vale R$ 1 bilhão. No ano, a ação cai 40%.