Nova fábrica

Da Big Frango aos empanados: como a Seara mudou Rolândia

Depois de investir R$ 1 bilhão, JBS inaugura duas fábricas no complexo industrial no norte do Paraná

Em outubro de 2014, a JBS estava prestes a fechar mais uma das dezenas de aquisições feitas para dar musculatura à Seara. Em dificuldades financeiras, a avícola paranaense Big Frango foi adquirida por apenas R$ 430 milhões, trazendo mais de R$ 1 bilhão em faturamento à companhia dos irmãos Batista e uma fábrica em Rolândia.

Nove anos depois, os números daquela transação parecem irrisórios tamanho o porte que o grupo alcançou. No ano passado, a JBS faturou mais de R$ 1 bilhão por dia, globalmente.

A avícola paranaense também ficou bem maior. Amanhã, na mesma Rolândia onde ficava a antiga Big Frango, a JBS faz uma celebração para inaugurar oficialmente a expansão do complexo industrial da Seara, um investimento de R$ 1 bilhão feito para construir duas fábricas.

Instalações da antiga Big Frango, na região de Londrina: Companhia foi adquirida pela JBS em 2014, por R$ 430 milhões | Crédito: Divulgação

A cerimônia deve contar com a participação do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e do governador do Paraná, Ratinho Jr, o que dá uma dimensão do projeto. No Paraná, a JBS emprega 14 mil pessoas e, segundo estimativas da Fipe, responde por 1,6% do PIB estadual. Só em Rolândia, o número de funcionários pode sair de 4,5 mil para 6 mil com as novas fábricas.

No moderno complexo de Rolândia — a cidade fica próxima de Londrina —, onde já existia um abatedouro de frango, a Seara construiu uma fábrica de empanados e outra de salsichas. A primeira começou a funcionar no primeiro semestre, mas a segunda entra em operação agora.

O investimento nas fábricas paranaenses faz parte de um projeto maior, um pacote de R$ 8 bilhões anunciado pela JBS no fim de 2019 com potencial para fazer a Seara dobrar de tamanho. De lá para cá, a companhia já fez a maior parte desses aportes. A ideia agora é encher a nova capacidade instalada, o que deve levar alguns anos.

Restrição de capacidade

“Tínhamos restrição de capacidade para atender a demanda”, disse Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, ao The Agribiz. Sem capacidade, a companhia não tinha como crescer em salsichas e em algumas outras categorias de maior valor agregado, uma obsessão da companhia.

Até 2025, a JBS quer ter dez marcas com ao menos US$ 1 bilhão de faturamento em todas as operações, uma meta já divulgada por Tomazoni. De todos os negócios do grupo, a Seara é o negócio mais importante de marca e valor agregado. “O Brasil é prioridade no nosso crescimento de valor agregado”, frisou Tomazoni.

Com as fábricas prontas, a Seara vai não só atender à demanda reprimida por alguns de seus produtos, como também trazer inovação para desenvolver categorias no Brasil, ressaltou João Campos, presidente da Seara.

Funcionário da JBS na nova fábrica da Seara em Rolândia, no Paraná: mercado de empanados pode dobrar de tamanho | Crédito: Divulgação

“A categoria de empanados pode dobrar de tamanho”, afirmou o executivo. Atualmente, essa categoria movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano, segundo dados da Nielsen.

A Seara aposta que a penetração dos empanados de frango no Brasil ainda tem muito potencial para crescer. No Brasil, 33% dos lares consomem a categoria, enquanto nos Estados Unidos essa taxa chega a 54%. No Reino Unido, são 66%.

Para crescer nessa categoria, a Seara lançou uma linha de empanados crocantes, que chegou às gôndolas com a inauguração da fábrica de Rolândia, em março.

Segundo Tomazoni, o ramp up das duas linhas de produção de empanados da nova fábrica estão mais adiantados do que a companhia esperava. “Empanados está acima da curva”.

Não à toa, a fábrica já foi modulada para ter mais sete linhas. Na fábrica de salsichas, que começa a operar agora, a companhia pode passar de uma linha para três linhas.

Recuperação do consumo

A conclusão dos investimentos da Seara também ocorre num momento melhor para a avicultura, que passou os últimos anos lidando com os custos elevados. A Seara também tropeçou na produtividade interna, um problema que a JBS já vem endereçando.

Agora, a ração está mais barata e, do lado da demanda, o consumidor está em melhores condições por causa da queda do desemprego e da inflação. Internamente, a companhia também tomou medidas para ganhar eficiência.

“Vemos o mercado mais otimista, mas ele ainda não está onde poderia”, ponderou Campos. Segundo ele, já é possível notar um crescimento dos volumes no mercado brasileiro.

As expectativas para Natal, data relevante para os comemorativos da Seara, também são positivas, sinalizou.