Balanço

Depois do pico, JBS vê desalavancagem consistente pela frente

"Temos um conforto grande para voltar ao nível entre duas e três vezes de alavancagem”, disse Guilherme Cavalcanti

O ciclo negativo da pecuária nos EUA está longe de acabar, mas na JBS o pior está ficando para trás. Depois de um início de ano atípico, quando todas as áreas da companhias apresentarem resultados negativos ao mesmo tempo, a estratégia de diversificação geográfica e proteínas começa a aparecer.

No balanço que acaba de divulgar, a JBS veio com um resultado forte na Austrália, onde a ampla oferta derrubou os preços do gado e engodou as margens do negócio de carne bovina, e mostrou uma inflexão nos resultados de carne de frango da Pilgrim’s Pride, colhendo um benefício dos grãos mais baratos que também beneficia a Seara.

No terceiro trimestre, a companhia registrou um Ebitda de R$ 5,4 bilhões, com margem de 5,9%. Trata-se de uma queda relevante de 43,3% sobre o mesmo período do ano passado, quando o ciclo da pecuária americana ainda era positivo. Na última linha do balanço, o lucro caiu 85%, passando de mais de R$ 4 bilhões no terceiro trimestre do ano passado para R$ 572 milhões.

Ao retirar o Ebitda do ano passado nas contas para acumulado em doze meses, a JBS viu o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) saltar de 1,81 vezes para 4,8 vezes em um ano. No balanço de 31 de junho, o indicador estava em 4,1 vez.

Os números são altos, mas Guilherme Cavalcanti, CFO global da JBS, explicou que, a partir do quarto trimestre, o Ebitda volta a melhorar até por um efeito estatístico, colocando a alavancagem em trajetória descendente.

“No quarto trimestre do ano passado, a JBS teve um Ebitda de US$ 870 milhões. Agora, vai ter um Ebitda muito provavelmente maior”, sinalizou.

Ritmo de desalavancagem

“Temos um conforto grande para voltar ao nível entre duas e três vezes”, disse Cavalcanti ao The Agribiz, citando o nível do indicador necessário para preservar o grau de investimentos.

As agências de classificação de risco, vale lembrar, não mudam a nota de crédito por apenas um trimestre, justamente para suavizar o impacto de ciclo de negócios, considerando uma média móvel para fazer as avaliações.

Ao traçar um cenário a partir das projeções que os analistas do sell side têm para a JBS nos próximos dois anos, com estimativas de margem considera conservadoras, Cavalcanti reiterou como já deve reduzir o índice de endividamento a partir do quarto trimestre.

“Se eu pegar o que o mercado está projetando, e não a nossa estimativa interna, termino o ano com 4 vezes de alavancagem”, disse Cavalcanti. Para o ano que vem, os analistas trabalham com uma margem Ebitda de 6,5%, o que já levaria o indicador para 3 vezes em 2024, voltando a 2,5 vezes em 2025.

“Começamos um processo consistente de desalavancagem”, reiterou.

Geração de caixa

Cavalcanti também destacou a forte geração de caixa da JBS no terceiro trimestre. No período, a gigante de carnes registrou um fluxo de caixa livre de R$ 3,4 bilhões, com destaque para a melhora nas contas de capital de giro, que devolveram R$ 1,7 bilhão para o balanço da companhia.

A melhora de capital de giro reflete, principalmente, os custos mais baixos dos grãos, reduzindo os desembolsos necessários para fazer o estoque, e com a maior concentração de recebimentos de importadores da China e Oriente Médio.

No quarto trimestre, o capital de giro também deve contribuir com o desempenho financeiro da JBS. A expectativa de Cavalcanti é que a libera mais US$ 150 milhões com capital de giro, além de um reembolso de impostos da ordem de US$ 100 milhões. “Vai gerar caixa, e a alavancagem cai”.

Além do fluxo de caixa, a companhia também mantém uma estrutura de capital saudável. Com as emissões feitas no terceiro trimestre (US$ 2,5 bilhões em bonds e R$ 1,7 bilhões em CRA, além de US$ 500 milhões em bonds da Pilgrim’s), a companhia vai pagar dívidas de curto prazo, ficando com cronograma de vencimento médio de 12 anos.

O custo das dívidas também é barato, considerando os atuais níveis dos juros nos EUA. Na JBS, as dívidas custam, em média, 6,05, enquanto os títulos do Tesouro americano para dez anos estão em 5,25%. Até 2027, a JBS não tem desembolsos relevantes.

Nos próximos anos, o ritmo de investimentos também cai em relação aos últimos anos, com a conclusão dos projetos de expansão da Seara e do negócio de alimentos processados nos Estados Unidos.

Por todos os ângulos, Cavalcanti vê um quadro tranquilo para a redução da alavancagem. Afinal, manter o grau de investimento é palavra de ordem.