Uma startup israelense fundada em 2016 está prestes a fazer do Brasil a sua base para a produção de um ingrediente que promete revolucionar a indústria de alimentos e bebidas: uma proteína doce e sem calorias que pode diminuir o teor de açúcar nas preparações entre 40% e 70%.
O cientista Ilan Samish, fundador da Amai Proteins, esteve no Brasil na semana passada acertando os últimos detalhes de um investimento que pode chegar a US$ 125 milhões. Entre uma viagem e outra, Samish contou ao The AgriBiz porque escolheu o País para ser uma plataforma de exportação de seu primeiro produto, a proteína doce Sweelin.
“O Brasil tem uma oferta abundante, a preços competitivos, de componentes chave na produção do sweeling: açúcar e energia”, disse o israelense, que também fez muitos elogios à capacidade de inovação e à abertura de empresas locais em trocar experiências.
Apesar de reduzir o teor de açúcar nos alimentos industrializados, o Sweelin usa a commodity como matéria-prima — o açúcar alimenta as leveduras usadas no processo de fermentação que dá origem à proteína.
Para produzir 1 quilo de Sweelin, são necessários aproximadamente 20 quilos de açúcar. E cada quilo de Sweelin pode substituir 3 toneladas de açúcar, o que dá uma dimensão do potencial transformador que a inovação pode ter na indústria de alimentos. O produto pode ser utilizado em várias aplicações, como sucos, bebidas alcoólicas e sem álcool, ketchup, molhos para salada, laticínios e barras energéticas, por exemplo.
“Para nós, faz todo sentido construirmos a planta muito próxima de uma usina de açúcar”, disse o fundador da Amai. “Nós vemos a indústria do açúcar como parceira. Estamos buscando uma colaboração sinérgica com usinas”, revelou.
A Sucden, a maior trading de açúcar do mundo com um share de 15% nas exportações brasileiras, é acionista da Amai, com uma participação de 10%. A startup tem conversado com produtores locais do alimento para explorar outras oportunidades de sinergias.
Na semana passada, Samish visitou as instalações da Jalles Machado em Goiás — e ficou impressionado com o que viu. “Visitei diferentes lugares, mas fiquei muito impressionado com a fábrica deles, o comando e controle. Não é algo que se vê muito frequentemente”.
O elevado grau de profissionalização das empresas e de talentos no estado foi, inclusive, um dos motivos que levou a Amai a escolher Goiás para a localização de sua fábrica. O fundador preferiu a cautela e não forneceu mais detalhes sobre quando começam as obras e a previsão de conclusão. “Precisamos assinar primeiro.”
Em busca de investidores
Para financiar a construção da planta, a Amai busca o apoio de investidores de capital de risco no Brasil e no exterior com a ajuda da Harpia Capital, que atua como seu assessor financeiro.
O objetivo é captar US$ 100 milhões com investidores estratégicos, financeiros e conglomerados industriais, segundo Ric Scheikman, diretor da Harpia Capital. Além da unidade no Brasil, os recursos serão usados também em pesquisa e desenvolvimento e para comercializar os produtos.
Essa será a maior rodada de captação da empresa, que levantou cerca de US$ 25 milhões em capital de risco desde a sua fundação.
Vizinho das usinas
Além de abastecimento constante de açúcar, a proximidade com a usina de açúcar também pode fornecer à Amai uma possibilidade de fornecimento de energia, o que é fundamental para garantir constância no suprimento de clientes, que são as grandes multinacionais de alimentos e bebidas. A empresa israelense já tem PepsiCo e Danone como parceiras.
Os custos logísticos não assustam. “A logística de abastecimento é muito barata. Imagine que, em vez de 3 toneladas (de açúcar), você transporta apenas 1 quilo (de Sweelin). Você coloca isso num avião e transporta para qualquer lugar do mundo. É quase insignificante”, acrescentou. A ideia, portanto, é transformar o Brasil numa plataforma exportadora da proteína.
O Sweelin obteve as duas primeiras aprovações regulatórias nos Estados Unidos e espera conseguir a aprovação das autoridades de Singapura no início de 2025. A Amai está buscando a aprovação do produto em mais de 50 países.
Proteína com sabor de açúcar
Para Samish, as alternativas atuais para substituir o açúcar não atendem a todos os requisitos da indústria: saudabilidade, custo competitivo e sustentabilidade. “Podemos fazer isso. Não estamos competindo com os adoçantes. Não fazemos eliminação de açúcar, mas redução de açúcar”, explica.
Na produção de ketchup, por exemplo, a proteína da Amai reduz o teor de açúcar em 70% e, na manteiga de amendoim, em 50%. “Quando você provar o nosso ketchup, não notará que ele não é açúcar integral. Mantemos o sabor”, promete o fundador.