Balanço

JBS bate o S&P 500 e rompe a barreira dos R$ 100 bi pela primeira vez

Com um desempenho acima da média nos negócios no Brasil e um ciclo favorável para a carne de frango, companhia bateu recorde de faturamento

JBS touro de Wall Street

Há uma década, o irlandês Jerry O’Callaghan fazia as contas do gigantismo que a JBS estava tomando. Com a aquisição da Seara, sacramentada em setembro de 2013, a companhia dos irmãos Batista se aproximava dos R$ 100 bilhões de faturamento anualizado. Em retrospectiva, parece até pouco.

Maior companhia privada de capital brasileiro, a JBS acaba de romper os R$ 100 bilhões de receita líquida em apenas um trimestre, mostra o balanço que acaba de ser divulgado.

Graças às margens polpudas das operações de carne de frango e ao bom desempenho de Seara e Friboi no Brasil, a JBS suplantou as dificuldades do negócio de carne bovina nos Estados Unidos, batendo as expectativas dos analistas com um fluxo de caixa livre de R$ 5,5 bilhões no segundo trimestre e reduzindo a alavancagem em dólar para 2,7 vezes.

“Conseguimos isso mesmo com o negócio de bovinos nos EUA, que representa 30% da companhia, estando no breakeven”, disse o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, ao The AgriBiz.

De abril a junho, a JBS entregou um Ebitda ajustado de quase R$ 9,9 bilhões, 25% acima do que as estimativas de analistas coletadas pela Bloomberg esperavam. Na comparação anual, o Ebitda mais que dobrou, com as margens pulando de 5% para 9,8%.

“A maior estimativa de um analista para o Ebitda era R$ 9 bilhões. Estamos mostrando um resultado 10% acima disso, e com um fluxo de caixa livre US$ 1 bilhão em três meses”, contou Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS. No trimestre, a companhia teve um lucro líquido de R$ 1,7 bilhão — uma melhora substancial sobre o prejuízo de R$ 263 milhões de um ano atrás.

S&P 500 ou JBS?

A JBS não surpreende apenas os analistas que cobrem a companhia. Com uma estratégia que remunerou os acionistas com dividendos, recompras de ações e ainda investiu em crescimento — orgânico ou via M&As —, a companhia dos irmãos Batista faria inveja a muito gestor da Faria Lima.

Desde 2018, o retorno total para o acionista da JBS chegou 19,31% ao ano, em dólar e 26,9% em reais. É um retorno que bate ninguém menos que o S&P 500. O índice mais importante do mercado americano rendeu 16,6% ao ano no mesmo período.

“Tivemos esse retorno mesmo tendo um custo de capital mais alto”, argumentou Cavalcanti, citando o processo de listagem das ações da companhia na bolsa de Nova York.

Quando isso acontecer, o que ainda não tem um prazo certo e depende da SEC, a JBS deve se beneficiar de um custo de capital mais baixo, além de pavimentar o acesso a investidores mais globalizados.

Listada nos EUA, a JBS confia que poderá ser negociada com múltiplos mais próximos à concorrente americana Tyson Foods. Atualmente, os papéis da companhia brasileira negociam a um múltiplo (EV/Ebitda) de 6 vezes, enquanto a Tyson negocia perto de 9 vezes.

Quando se comparam os resultados, a diferença entre Tyson e JBS também chama atenção em favor da brasileira, o que sugere que o potencial de valorização realmente existe.

No segundo trimestre, a companhia dos irmãos Batista fez uma margem Ebit de 12% no negócio americano de carne de frango (Pilgrim’s Pride) enquanto a Tyson reportou 7,5%.

A diferença é ainda maior na divisão de carne suína, com a JBS registrando uma margem Ebit de 10,4% e a Tyson, de apenas 1,5%. Na carne bovina, negócio que vem sofrendo com a escassez de gado, ambas ficaram no vermelho, mas o resultado da Tyson veio pior, com uma margem negativa de 1,3%. Na JBS USA, a margem Ebit foi negativa em 0,5%.

Friboi e Seara entregam

Se nos Estados Unidos a JBS bateu a concorrência, no Brasil os resultados também responderam, o que certamente vai reduzir a diferença de margem que a Seara vinha sofrendo em relação à líder BRF.

No segundo trimestre, a Seara registrou uma impressionante melhora — algo que já havia começado a aparecer —, aproveitando o mercado internacional mais equilibrado e forte queda dos preços dos grãos.

Ao todo, a Seara fez um Ebitda de R$ 2 bilhões, praticamente quintuplicando os resultados na comparação anual. Há um ano, o mercado de carne de frango sofria com margens apertadas em razão do excesso de oferta global e dos grãos caros.

Com uma ajuda da valorização do dólar, a Seara fez uma margem Ebitda de 17,4% no segundo trimestre, a maior em quase nove ano — no terceiro trimestre de 2015, a companhia chegou a uma margem de 20,3%.

A Friboi também vem colhendo boas margens, surfando no ambiente de consumo mais benigno no mercado brasileiro e nos preços mais baixos do boi gordo — um reflexo do ciclo da pecuária. No segundo trimestre, a margem Ebitda da JBS Brasil (que inclui a Friboi e outras áreas, como couros e novos negócios) chegou a 7,5%, o maior patamar desde o segundo trimestre de 2024.

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Listada na B3, a JBS está avaliada em R$ 74,3 bilhões. Em doze meses, os papéis sobem quase 80%.