Balanço

Seara faz maior margem da história; JBS gera US$ 1 bi em caixa

“Temos um terço do negócio apenas no breakeven e estamos entregando dois dígitos de margem”, comemorou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS

Gilberto Tomazoni, CEO da JBS

Quando o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, se reaproximou do dia a dia da Seara, a marca de frango e alimentos preparados passava por um momento desconfortável (e raro) na história da companhia dos irmãos Batista.

Aquém das próprias expectativas, o negócio via a diferença de desempenho para a rival BRF aumentar. Naquele momento, um pessoa graduada da Sadia sinalizou à reportagem, tentando afastar a soberba. “Eles são bons operadores. Isso é passageiro. Pode escrever”.

Um ano depois, a Seara acaba de entregar a maior margem Ebitda de sua história (21%), aproveitando o excepcional ciclo da carne de frango — com custo barato e demanda nas alturas — mas também reduzindo as ineficiências operacionais que a JBS chegou a reconhecer em 2023.

A disparada da rentabilidade da Seara ajudou a JBS a fazer um resultado histórico no terceiro trimestre. No balanço recém-divulgado, a gigante brasileira bateu o consenso dos analistas, com uma geração de caixa de R$ 5,5 bilhões (cerca de US$ 1 bilhão).

“Tínhamos falado que a Seara estava abaixo. Agora, grande parte do trabalho foi feito, mas ainda podemos entregar importantes resultados com gestão de preços e dos pontos de venda”,  disse Tomazoni em entrevista ao The AgriBiz.

A melhora da Seara, que responde por 11% do faturamento da JBS, não foi isolada. Com exceção da operação de carne bovina nos Estados Unidos, que segue com margens pressionadas pela escassez de gado, os demais negócios contribuíram positivamente.

Listada na Nasdaq, a americana Pilgrim’s Pride, indústria de carne de frango controlada pela JBS, já havia reportado, há duas semanas a maior margem em sete anos, um reflexo do ciclo positivo para o frango.

Na operação brasileira, os resultados da Friboi surpreenderam, com a margem superando o desempenho da Minerva, algo que não costuma ocorrer. De julho a setembro, a margem Ebitda da Friboi saltou mais de oito pontos na comparação anual, atingindo 11,6%.

Na Friboi, foi a maior margem Ebitda em mais de quatro anos graças à demanda aquecida pela carne brasileira e aos preços do boi gordo, que ainda estavam baixos em boa parte do terceiro trimestre. A partir de agora, com o boi acima de R$ 300 por arroba, a margem voltará ao patamar histórico da Friboi — entre 5% e 8% —, indicou Tomazoni.

Não é fora da curva

As margens globais da indústria de frango e o bom momento para a produção de carne bovina no Brasil levaram a JBS a um recorde de receita no balanço consolidado, em reais ou dólares.

Globalmente, a receita líquida da JBS cresceu 20,9% e passou de R$ 110 bilhões (cerca de US$ 20 bilhões) no terceiro trimestre. O lucro líquido aumentou mais de seis vezes, marcando R$ 3,8 bilhões.

“Temos um terço do negócio apenas no breakeven e estamos entregando dois dígitos de margem”, disse Tomazoni, referindo-se ao negócio carne bovina nos Estados Unidos — que fez uma margem Ebitda de apenas 1,9% enquanto a companhia como um todo registrou 10,8%, um salto de 4,9 pontos na comparação anual. Ao todo, o Ebtida da JBS somou R$ 11,9 bilhões, 18% acima do consenso Bloomberg.

Para Tomazoni, o bom momento operacional reflete o “vento a favor” nos negócios de carne de frango, mas não apenas. “É um excelente trimestre, mas não é um ponto fora da curva. Nos últimos seis anos, geramos um fluxo de caixa livre de US$ 14,4 bilhões”, ressaltou.

Aquisições no radar

Com essa geração de caixa, a JBS consegue manter um ritmo forte de crescimento ao mesmo tempo em que remunera os acionistas. Desde 2018, a companhia investiu US$ 7,7 bilhões em crescimento (M&As e investimentos orgânicos) e US$ 6,7 bilhões em remuneração aos acionistas (via dividendo ou recompra de ações).

Com um índice de alavancagem de apenas 2,1 vezes, a JBS deve continuar entregando crescimento e remuneração ao acionistas, disse Tomazoni. “Vamos continuar acelerando”, ressaltou.

O executivo evitou comentar alvos específicos — como se sabe, a americana Oscar Mayer interessa à JBS —, mas reconheceu que aquisições continuam do radar, numa estratégia que faz parte do DNA da companhia dos irmãos Batista.

Além disso, a remuneração aos investidores continua a todo vapor. O conselho de administração da JBS aprovou nesta quarta-feira a distribuição de R$ 1 por ação em dividendos, totalizando mais R$ 2,2 bilhões em dividendos que serão distribuídos em janeiro de 2025. No mês passado, a empresa já havia distribuído R$ 4,4 bilhões.

Com isso, dividend yield da JBS chegou a 8,4% ao ano, considerando o preço das ações nãos atuais níveis. Desde 2018, o retorno total aos acionistas da JBS é de mais de 20% ao ano, batendo o S&P 500. Nesse mesmo intervalo, a rival americana Tyson deu um retorno de apenas 5% ao ano.

Na B3, a JBS está avaliada em R$ 79 bilhões. No ano, as ações (JBSS3) sobem mais de 40%.

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A JBS revisou para cima a projeção de receita e Ebitda para 2024. A companhia projeta uma receita de R$ 411,8 bilhões (US$ 77 milhões), 16% acima do guidance anterior. O Ebitda ajustado deve ficar entre R$ 37 bilhões e R$ 38 bilhões, o que sugere uma margem acima de 9%. Na projeção anterior, divulgada em setembro, a companhia estimava um Ebitda entre R$ 33,4 e R$ 36,2 bilhões.