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Belgas levam Biotrop por R$ 2,8 bilhões

Transação muda os parâmetros para os M&As de companhias de biológicos, um dos setores mais quentes do agro brasileiro

Os belgas da Biobest desbancaram os grandes players de insumos agrícolas e acabam de assinar um contrato bilionário para adquirir a brasileira Biotrop, uma das principais companhias de biológicos.

Pelos termos da transação, a Biobest avaliou a Biotrop em R$ 2,8 bilhões. Inicialmente, os belgas compraram 85% da companhia. A participação remanescente será adquirida depois de três anos.

A venda da Biotrop é uma vitória para o Aqua Capital, gestora comandada pelo argentino Sebastian Popik. A fabricante de insumos biológicos foi criada em 2018 pela firma de private equity, tendo o biólogo Antonio Carlos Zem como arquiteto e CEO.

Biobest foi a primeira a usar abelhas no controle biológico, em 1987: agora, vai pagar R$ 2,8 bi para assumir a Biotrop | Crédito: Divulgação

O investimento também trará bons retornos para o fundo soberano de Singapura (GIC), que adquiriu uma participação minoritária na Biotrop em 2021. O capital injetado pelo GIC foi usado para expandir a capacidade industrial da companhia e ajudar na internacionalização.

O Itaú BBA assessorou o Aqua Capital na transação, como The Agribiz antecipou em maio. O Demarest foi o assessor jurídico. Pelos belgas, trabalharam Morgan Stanley e os escritórios Stocche Forbes e Jones Day. E&Y e McKinsey também prestaram assessoria à Biobest.

Nova referência

A venda da Biotrop era o negócio mais aguardado por vários players e investidores da indústria de biológicos. “Esse negócio vai deixar muitas viúvas” era uma frase frequente por quem acompanha o mercado.

No processo de venda, a Biotrop atraiu mais de 11 interessados, incluindo gigantes como Yara. Conforme o processo afunilou, alguns players desistiram – como é convencional – e houve quem questionasse se a companhia conseguiria chegar mais próximo de R$ 3 bilhões, como o Aqua Capital desejava.

Com o M&A, cria-se uma referência de valuation para o mundo dos biológicos no Brasil. A R$ 2,8 bilhões, a transação saiu a mais de 11 vezes o Ebitda projetado para 2023 e mais de 20 vezes o resultado do ano passado. Para se ter uma ideia, a Vittia — listada na bolsa brasileira — negocia entre 7 e 8 vezes o Ebitda.

A expectativa da Biotrop é faturar R$ 679 milhões em 2023. Quando começou a prospectar vendedores para a companhia, o Itaú BBA preparou um teaser com projeções que apontavam uma margem Ebitda de 36% para a Biotrop neste ano.

No Brasil, a Biotrop era uma das principais referências em biológicos. Outros players relevantes são a própria Vittia e empresas como Agrivalle, Simbiose, Gênica e Ballagro. A Koppert também tem forte atuação no Brasil, mas é holandesa.

Os novos donos

Ao comprar a Biotrop, os belgas da Biobest terão uma importante plataforma de biológicos na principal agricultura tropical do mundo. O Brasil é também um dos países mais avançados na adoção e desenvolvimento de produtos biológicos.

Para financiar a compra, a Biobest fará um aumento de capital de 400 milhões de euros. Sofina, firma de investimentos belgas liderada por Gustava Boël que já era acionista, vai acompanhar. A Biobest também atraiu novos acionistas, como Tikehau Capital, M&G Investments, Unigrains, Sofiprotéol.

A Biobest é controlada pelo grupo belga Floridienne, que é listado na bolsa de Bruxelas e vale pouco mais de 650 milhões de euros.