Joint venture

Projeto bilionário de etanol muda demanda por milho no Pará

Construção de usina em Redenção, no sudeste do Pará, vai impulsionar o cultivo do cereal no Estado, aposta Carlos Mafra Jr. Investimento de R$ 2 bilhões será feito em sociedade com a CMAA

Em mais um movimento de expansão do etanol de milho para além das fronteiras de Mato Grosso, a família Mafra e a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) se uniram para construir uma usina de porte relevante em Redenção, na região sudeste do Pará.

Os sócios acabam de criar a Grão Pará Bioenergia, uma joint venture na qual a família Mafra e a CMAA compartilharão o controle do negócio, com 50% do capital cada. A nova companhia promete investir R$ 2 bilhões no projeto de etanol de milho até 2029. Flavio Inoue, ex-presidente da Insolo, vai comandar a operação.

Ainda não há um terreno definido, mas os sócios já alinhavaram a expansão gradual da capacidade da usina que será construída. No Pará, será a primeira usina de etanol feito exclusivamente de milho, disse Carlos Mafra Jr, diretor do Grupo Mafra.

A expectativa é que a joint venture invista R$ 600 milhões na usina de etanol de milho neste ano, inaugurando a unidade em meados de 2025 — moendo o grão colhido na safrinha paraense.

Colheita de milho, Grão Pará Bioenergia vai demandar milho

Na primeira etapa do projeto, a usina será capaz de produzir 106 milhões de litros de etanol. Até 2029, quando o projeto atingir a maturidade, a capacidade chegará a 424 milhões de litros, contou Mafra Jr ao The AgriBiz.

Para se ter uma ideia da dimensão do projeto, a Inpasa — maior indústria de etanol de milho do País — tem capacidade para produzir cerca de 2,5 bilhões de litros do biocombustível. A FS, a segunda do ranking, é capaz de produzir 2 bilhões de litros.

Expertise dos sócios

A sociedade entre os Mafra e a CMAA une as expertises agrícola, industrial e comercial de ambos.

Originalmente, o Grupo Mafra fez fortuna no negócio de distribuição de insumos hospitalares (atualmente, a família é sócia minoritária da Viveo, companhia listada na B3 e avaliada em R$ 2,1 bilhões) mas começou a diversificar as operações há duas décadas, quando entrou na agropecuária no Pará.

No municípios de Cumaru do Norte e Santa Maria das Barreiras, a família Mafra detém uma área de 150 mil hectares, sendo que aproximadamente 75 mil são agricultáveis. O restante é área de preservação.

Nos últimos anos, os Mafra vêm convertendo pastagens em agricultura, uma tendência na região. Com isso, os Mafra acreditam que haverá uma oferta cada vez maior de milho, viabilizando uma usina de etanol.

“Vai ter muita oferta de milho no Pará”, aposta Mafra Jr. Pelos cálculos do grupo, a usina da Grão Pará Bioenergia demandará mais de 1 milhão de toneladas de milho por safra, o que é praticamente toda a produção atual do cereal no Estado. Ou seja, a oferta precisa mesmo crescer para a planta fazer sentido.

Na atual safra 2022/23, a produção de milho no Pará está estimada em 1,3 milhão de toneladas, conforme o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Na construção da Grão Pará Bioenergia, a CMAA oferece a expertise industrial, por já saber operar usinas, e comercial na venda do etanol. Sediada em Minas Gerais, a CMAA possui três usinas de cana-de-açúcar e fatura mais de R$ 2 bilhões. Na atual safra, o grupo faz uma margem Ebitda de quase 45%.

Estrutura de capital

Os sócios da Grão Pará Bioenergia ainda não bateram o martelo sobre a origem dos recursos para o investimento na usina de etanol de milho, mas a tendência é que o capex seja financiado com uma mescla de capital próprio e de terceiros, disse Mafra Jr.

Na leitura do empresário, o projeto também vai estimular o cultivo de milho no Pará além do plantio de eucalipto, o que pode trazer um benefício ambiental ao recuperar pastagens degradadas com uma árvore que protege o solo e sequestre carbono.

A oferta de eucalipto é essencial para fornecer a biomassa necessária para rodar as caldeiras das usinas.

DDG para o boitel

Com a usina, a joint venture também venderá DDG, um coproduto da produção de etanol de milho que é usado como ração animal para bovinos, aves e suínos. Estima-se que o DDG represente de 30% a 40% da receita da usina.

Na Grão Pará, uma das ideias é oferecer o serviço de “boitel” para os pecuaristas da região, fornecendo uma dieta com DDG aos bovinos do confinamento que companhia terá.

A família Mafra já possui um confinamento no Pará, que fornece gado para o frigorífico da JBS em Redenção.