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Na Inpasa, a próxima fronteira do etanol está no sorgo

Para responder à crescente demanda por etanol, Inpasa firma parceria com Embrapa para fomentar a produção de sorgo, que tem produtividade por litro igual a do milho

Na Inpasa, o sorgo é pop. Apesar de uma produção tímida no Brasil, o cereal tem uma grande oportunidade de ganhar espaço como matéria-prima na produção de etanol e de DDGS — um subproduto da fabricação do biocombustível com grande teor de proteína e usado na alimentação animal.

Com uma produtividade por litro igual a do milho, o sorgo é a aposta da Inpasa para regiões que onde o cultivo da safrinha não é tão favorável ou em anos de janela apertada para o plantio, em meio à crescente demanda por biocombustíveis. “Existe potencial para dobrar ou até triplicar a produção nos próximos anos”, disse Daniel Sarmento, gerente comercial da Inpasa, líder na produção de etanol de milho no País.

Trazer o cereal para o jogo, entretanto, ainda é um desafio. Enquanto a colheita de milho ultrapassa 120 milhões de toneladas no Brasil, a produção de sorgo é de aproximadamente 4 milhões de toneladas por ano. Falta (quase) tudo: desde conhecimento sobre as melhores práticas de cultivo, além de previsibilidade de compra, logística e armazenagem.

A visão da Inpasa é de que o etanol, pelo seu porte de produção, conseguirá equalizar essas questões ao longo do tempo. Como primeiro passo para solucioná-las, a companhia firmou uma parceria com a Embrapa em junho deste ano para aumentar o conhecimento sobre a produção de sorgo, o quinto cereal mais cultivado no mundo.

O plano ainda está em fase inicial, com levantamento de dados e de informações com produtores no Maranhão e no Mato Grosso do Sul sobre os principais desafios no cultivo. Num segundo momento, a Embrapa deve estruturar um projeto de desenvolvimento de tecnologias próprias para o cultivo do cereal. Por enquanto, ainda não foram divulgadas datas a respeito da entrega desse plano.

Além do milho

Sarmento explicou, durante evento promovido pela consultoria Datagro em Cuiabá (MT), na semana passada, que a escolha dos estados para realização do estudo está ligada ao alto potencial de cultivo de sorgo como segunda safra e à localização de duas plantas da companhia que estão sendo preparadas para processar outros cereais além do milho.

No médio prazo, a Inpasa também vê a possibilidade de produzir etanol a partir de trigo e de milheto, além do sorgo.

Uma dessas plantas industriais em preparação para receber o sorgo é a usina de Sidrolândia (MS), que começa a operar no próximo mês, e tem uma capacidade de produzir 450 mil toneladas por ano de DDGS e 800 milhões de litros de etanol. A outra deve entrar em operação em março de 2025 e está localizada em Balsas (MA). Vai produzir 225 mil toneladas por ano de DDGS, além de 400 milhões de litros de etanol. 

Assim que as novas plantas ficarem prontas, a Inpasa vislumbra resolver a questão de previsibilidade para produtores, firmando contratos para compra de sorgo, bem como fornecer a eles capacidade estática de armazenamento — outro gargalo. 

Demanda de sobra

Os planos da Inpasa com o sorgo — e o fomento à produção de etanol a partir de outros cereais — vão ao encontro a uma demanda vertiginosa por etanol. De acordo com estimativas da consultoria Datagro, a produção brasileira de etanol de milho deve atingir 7,7 bilhões de litros na safra 2024/25, ante apenas 41 milhões de litros em 2013. Cresce, em média, 25% ao ano. 

“Hoje, a produção mundial é de 120 bilhões de litros, mas, segundo estimativas, para que se atinja as metas do Acordo de Paris, a produção de biocombustíveis sustentáveis deveria chegar no mínimo a 500 bilhões de litros em 2030. Em 2050, esse número deve chegar a 1,12 trilhão de litros para atingir as metas de forma mais eficaz e com menor custo”, afirmou Plínio Nastari, presidente da Datagro.

Os ganhos com DDGS

Existem mais de dez produtos diferentes dentro da categoria conhecida como grãos secos de destilaria (os subprodutos da produção de etanol). Em geral, eles são divididos entre DDG e DDGS. A principal diferença entre eles é a presença de fibras, o que torna o DDGS um produto com nutrientes solúveis. A Inpasa produz apenas o DDGS.

O Brasil se destaca cada vez mais na produção de DDGS. Um estudo de cinco anos, feito pela Inpasa em parceria com a Unesp Jaboticabal, já mostrou resultados promissores em seu segundo ano. Ao aumentar a quantidade de DDGS fornecida a 800 bois, a Inpasa encurtou pela metade o tempo de ganho de peso dos animais, na fase de cria: saiu de um ganho de peso de cerca de 500 gramas por dia para 1,1 quilo.

Com isso, além da perspectiva de melhorar o fluxo de caixa dos pecuaristas, a companhia reduziu a pegada de carbono da carne produzida com mais DDGS. 

“O resultado da última beta-análise americana foi de uma redução de 38% na pegada de carbono com o uso de DDGS. Quando nós fizemos a análise com o DDGS com planta forrageira de clima tropical, reduzimos em 54%.  A gente saiu de uma pegada de 810 gramas de metano por dia, por quilo de ganho desse animal, e foi para 370. Ninguém tem essa informação no mundo, ninguém tem esse resultado no mundo”, afirmou Sarmento. 

É esse mercado, mais sustentável e com uma demanda crescente por biocombustíveis, que a companhia quer alcançar. A inovação no sorgo parece mesmo ser só o começo. 

“O Brasil é protagonista na produção de biocombustíveis e de proteína de origem animal. Mas, mais do que isso, temos uma oportunidade única de ter sistemas mais equilibrados no mundo, em ambiente tropical e com uma pegada de carbono ímpar”, diz Sarmento.