De fora da festa do açúcar nas últimas safras, a BrasilAgro acaba de encontrar uma forma para se expor à commodity. A companhia arrendou uma área de cana-de-açúcar em Brotas, marcando também sua estreia no Estado de São Paulo.
Com a nova operação, que vai demandar um investimento inicial de R$ 18 milhões, a BrasilAgro passa a fornecer cana para uma usina que produz açúcar e etanol. Com isso, uma parte dos preços fica atrelada ao adoçante, um mercado bem mais remunerador do que tem sido o etanol.
Até então, a BrasilAgro só fornecia cana-de-açúcar para usinas de Mato Grosso e Maranhão dedicadas exclusivamente à produção de etanol, o que limitava a remuneração da empresa nessa frente. Nos últimos encontros com analistas e investidores, a gestão já vinha abordando o tema e sinalizando sua busca por exposição ao açúcar.
“Essas usinas já foram estruturadas para produzir 100% etanol, e não tínhamos oportunidades de que elas mudassem o mix. Requeria investimentos relevantes”, disse Gustavo Lopez, diretor financeiro e de relações com investidores da BrasilAgro, em entrevista a jornalistas.
Com o arrendamento em Brotas, no interior paulista, a BrasilAgro vai ampliar a área de cana em 28%. Na safra 2023/24, a área plantada com a cultura somava 24,8 mil hectares.
Ao todo, a fazenda arrendada possui 7 mil hectares, mas a empresa vai assumir a área em etapas, concluindo o processo em 2029. A BrasilAgro não divulgou o nome da usina que comprará a cana dessa fazenda, mas a unidade mais próxima da área é a Paraíso, usina que pertencia à Tonon e que hoje faz parte da Raízen.
Investimentos
Na primeira etapa do arrendamento, a BrasilAgro assume 4 mil hectares de cana que já começa a fornecer à usina a partir de abril, quando começa a safra 2024/25. A companhia também vai plantar mais 900 hectares, o que deve custar R$ 18 milhões considerando o custo de R$ 20 mil por hectare.
O acordo prevê um reembolso aos proprietários das fazendas pelos tratos culturais — aplicação de fertilizantes e defensivos — já feitos nos 4 mil hectares, a um custo de R$ 3 mil por hectare. São mais R$ 12 milhões que serão pagos em um segundo momento.
Pelos termos do contrato, a BrasilAgro vai pagar entre 20 e 21 toneladas de cana por hectare por safra aos proprietários das fazendas.
Pelas estimativas de Lopez, o projeto de cana em Brotas vai demandar um investimento total de R$ 70 milhões até chegar aos 7 mil hectares, mas a maior parte dos recursos deve vir da própria geração de caixa originada venda da cana da área.
“Vai ser financiado com os recursos que a operação vai gerar”, frisou Lopez. A expectativa é que apenas o desembolso inicial seja um dinheiro novo.
Ter uma área que vende para o açúcar também dará flexibilidade financeira para a BrasilAgro firmar posições de hedge com os contratos futuros de açúcar negociados na bolsa de Nova York.
Retorno
Historicamente, a cana é um negócio que oferece retornos atrativos para a BrasilAgro e com a vantagem de ajudar na estabilidade do fluxo de caixa quando comparado aos grãos, cujas vendas são mais concentradas em determinados períodos do ano.
A margem de contribuição da área de cana no interior paulista deve ficar entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil, com uma taxa de retorno entre 12% e 14%.
No contrato de fornecimento à usina, a BrasilAgro conseguiu fechar um prêmio sobre o Consecana, que baliza os preços da matéria-prima, estratégia que a companhia também adota nas áreas de cana de Mato Grosso e Maranhão. Em geral, o prêmio desses contratos oscilam perto dos 20%.
Novas expansões
Para a BrasilAgro, a expansão em Brotas é só a primeira de um plano que vislumbra ampliar a área de cana fornecedora para usinas que produzem açúcar e não só etanol.
A meta da companhia é ter cerca de 30% da área total plantada com cana. Dessa área, cerca de 50% da matéria-prima idealmente deve ser destinada à fabricação de açúcar.
Ao todo, a área plantada da BrasilAgro ficou em 172,4 mil hectares na atual safra (2023/24). Os grãos e o algodão representam a maior parte, ficando mais de 100 mil hectares. A companhia possui ainda 15,4 mil hectares de pastagens e 26,7 mil em outras culturas, o que inclui gergelim.
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Listada na B3, a BrasilAgro está avaliada em quase R$ 2,4 bilhões. Em doze meses, as ações caem 8,9%.