
A BRF acaba de anunciar mais um importante passo para consolidar a sua posição de liderança na Arábia Saudita, num projeto grandioso que estava no radar há pelo menos cinco anos e que agora sai do papel em parceria com o fundo soberano do Reino.
A dona da Sadia e a Halal Products Development Company, subsidiária do PIF (Public Investment Fund, o fundo soberano da Arábia Saudita), vão investir US$ 160 milhões na construção de uma fábrica de alimentos processados em Jeddah, a segunda maior cidade do Reino.
Totalmente dedicada a alimentos processados, cujo consumo cresce a dois dígitos no país árabe, a unidade terá capacidade para produzir 40 mil toneladas por ano, mas já foi planejada para dobrar a capacidade à medida que a demanda permita. A planta deve começar a entrar em operação em meados do ano que vem.
O investimento será realizado na mesma proporção da participação das empresas na joint venture que mantêm juntas, a BRF Arabia Holding Company — ou seja, 70% dos US$ 160 milhões virão da BRF e o restante, da subsidiária do fundo soberano árabe. Neste ano, devem ser desembolsados US$ 63 milhões e outros US$ 98 milhões em 2026.
A fábrica de processados dá sequência a uma série de investidas da BRF na Arábia Saudita e aprofunda a sua relação com o fundo soberano, assumindo uma posição de protagonismo na busca do governo saudita pela autossuficiência.
“Essa fábrica joga no coração da segurança alimentar e da transferência de tecnologia. Esse é um investimento que está com a bênção de todas as autoridades de lá e realmente vem para ajudá-las”, resumiu Igor Marti, vice-presidente para o mercado halal da BRF, em entrevista ao The AgriBiz.
“Jeddah é a segunda maior cidade da Arábia Saudita e sua localização estratégica permite melhor acesso ao mercado consumidor e aos parceiros comerciais”, ressaltou Marquinhos Molina, CEO da BRF Arábia, em comunicado divulgado nesta segunda-feira.
Segundo Fahad Alnuhait, CEO da HPDC, a fábrica não apenas atenderá à crescente demanda doméstica por produtos processados, mas também reduzirá a dependência do Reino de importados. “Ela apoia diretamente o mandato mais amplo da HPDC de desenvolver o ecossistema halal e posicionar o Reino como o centro global de produtos halal”, afirmou no mesmo comunicado.
Laços reforçados
A relação da BRF com a Arábia Saudita, um mercado-chave para a companhia, é antiga. A marca Sadia chegou ao país na década de 1970 e hoje é líder de mercado. Os investimentos na produção local se intensificaram nos anos recentes, em resposta aos planos do Reino de tornar a Arábia Saudita autossuficiente em frango até 2030.
O desafio não é trivial. Com a inclusão das mulheres no mercado de trabalho, a demanda por alimentos processados tem crescido rapidamente na Arábia Saudita — e deve continuar aumentando. Em 2030, a população do país deve chegar a 50 milhões de habitantes, ante aproximadamente 30 milhões atualmente.
A empresa brasileira começou a produzir alimentos processados na Arábia Saudita em 2022, na cidade de Damman, numa planta de menor porte, com capacidade para 16 mil toneladas.
Em outubro do ano passado, anunciou a entrada na produção de frangos na Arábia Saudita ao comprar uma participação na Addoha Poultry Company, uma indústria de aves local, por meio da sociedade com o PIF.
Essa unidade oferecerá parte da matéria-prima para a nova planta de processados, mas ainda está longe de conseguir suprir integralmente a capacidade da fábrica. Por isso, a maior parte do frango que será processado em Jeddah será exportado do Brasil.
“Existe um desejo por parte de todos de que o Reino produza mais matéria-prima, mas isso é uma evolução natural”, disse Marti.
Com a nova planta, que triplicará a capacidade de processamento da BRF na Arábia Saudita, a empresa brasileira completa um ecossistema que vem sendo formado há anos no Reino. Primeiro com marca, depois distribuição, processados e abate local.
O novo investimento em parceria com o fundo saudita também amplia a vantagem da dona da Sadia sobre rivais na Arábia Saudita, que, para garantir a autossuficiência, passou a adotar várias medidas para restringir o acesso ao mercado a estrangeiros que não investem no país, numa estratégia que combina barreiras de entrada e incentivos econômicos. Vale lembrar que a Salic, firma de investimentos da Arábia Saudita, possui 11% da BRF.