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BRF dispara 7%; Ebitda para breakeven agora é de R$ 5,6 bi, diz BTG

Aos poucos, o mercado começa a precificar os benefícios do follow-on que injetou R$ 5,4 bilhões no caixa da dona da Sadia

As ações da BRF dispararam nesta sexta-feira, repercutindo a melhora na percepção de risco dos investidores. Os papéis fecharam em alta de 7,1%, a segunda maior do Ibovespa. Aos poucos, o mercado começa a precificar a menor alavancagem da companhia, proporcionada pelo follow-on que injetou R$ 5,4 bilhões no caixa da dona da Sadia.

Num amplo relatório enviado hoje a clientes, os analistas do BTG escreveram que a BRF escapou da armadilha da alavancagem. Com os recursos oriundos da oferta de ações, o endividamento será reduzido em cerca de 25%. A provável queda da Selic no Brasil também ajuda a companhia, cortando ainda mais as despesas com juros.

Nos cálculos dos analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, a melhora da estrutura de capital da BRF reduziu o Ebitda necessário para que a companhia fique no breakeven. A conta, que antes estava em R$ 6,6 bilhões (o que demandaria uma margem de 11,1%) agora caiu para R$ 5,6 bilhões. Para isso, uma margem Ebitda de 9,8% bastaria.

Melhora da estrutura de capital reduz Ebitda necessário para BRF pagar honrar compromissos e capex de manutenção | Crédito: Shutterstock

Como a BRF também está num processo para vender ativos (créditos tributários e o negócio de pet food) que pode trazer mais R$ 4 bilhões para o caixa, as contas para o Ebitda de equilíbrio podem ficar ainda menores. É possível que, nesse cenário, R$ 5,1 bilhões sejam suficientes para honrar todos os compromissos e manter o capex de manutenção sem queimar caixa.

No relatório, os analistas do BTG também citaram a forte recuperação de margens esperada para o segundo semestre. A rentabilidade da BRF deve ser bastante impulsionada pela queda dos preços da ração. Numa companhia cujas ações costumam operar pró-ciclicamente, a melhora das margens do frango deve dar suporte aos papéis.

Internamente, a dona da Sadia também vem trabalhando num plano bilionário de eficiência operacional, um projeto com o qual a BRF pode aumentar o nível de margem Ebitda em seis pontos percentuais.

Em entrevista ao The Agribiz nesta semana, o CEO Miguel Gularte disse que a companhia está batendo as metas operacionais mais rápido do que esperava, com alguns índices de produtividade agropecuária nos maiores níveis da história.

Nem toda a melhora de produtividade será percebida no curto prazo — o Ebitda do segundo trimestre ainda deve ser afetado pelo excesso de oferta de frango no mercado operacional —, mas a tendência é positiva.

 “Esperamos que as melhorias operacionais da BRF continuem dando frutos, com recuperação de margens já no segundo trimestre”, escreveu Leonardo Alencar, analista da XP, num relatório divulgado hoje.

De acordo com uma fonte, o consenso de mercado vinha trabalhando um Ebitda entre R$ 700 milhões e R$ 800 milhões para o segundo trimestre, mas já há quem espera um número melhor. A XP, por exemplo, estimou R$ 874 milhões.

Quando o assunto é a recuperação operacional, há quem prefira ceticismo. No relatório de hoje, por exemplo, os analistas do BTG disseram que esperam mais visibilidade no plano de eficiência operacional da BRF.

“Há alguns sinais preliminares encorajadores, mas eles são, de fato, apenas preliminares. A visibilidade sobre o plano permanece baixa até agora”, escreveram.

Não à toa, o BTG manteve a recomendação neutra para os papéis da BRF, com preço-alvo de R$ 12. A dona da Sadia está avaliada em R$ 14,4 bilhões.