Reestruturação

Com plano de RJ, Agrogalaxy tem injeção de R$ 91 milhões no caixa

Quantia ainda é tímida diante da dívida de R$ 4 bilhões que a empresa tinha ao protocolar pedido de recuperação judicial

Agrogalaxy

Sete meses depois, a Agrogalaxy aprovou seu plano de recuperação judicial, abrindo caminho para uma modesta injeção de recursos em curto prazo. Pelo menos R$ 91 milhões devem vir para o caixa da rede de revendas a partir da venda de uma carteira de recebíveis.

A captação é tímida diante dos R$ 4 bilhões em dívidas que a empresa tinha ao protocolar o pedido de recuperação — mas, ainda assim, é um primeiro lampejo de recursos que podem compor o caixa da companhia. 

A mecânica do aporte, como antecipou The AgriBiz, envolve uma quantia em dinheiro (R$ 91 milhões) e troca de papéis. Os detalhes ficaram um pouco mais claros nesta manhã, em coletiva de imprensa.

Ao todo, a Agrogalaxy está vendendo uma carteira de créditos vencidos, avaliada em R$ 683 milhões (que será paga com a quantia em dinheiro) além de uma carteira de recebíveis a performar até 2034, avaliada em R$ 292 milhões, que será usada para amortizar os CRAs dos credores que optarem pelo FIDC.

“No início das negociações, a carteira [de vencidos] era muito maior, superior a R$ 1 bilhão. Mas, conforme as negociações com as gestoras foram seguindo, a carteira foi minguando, seja porque os créditos foram pagos, seja porque durante a auditoria foram constatados problemas de constituição, de formalização de documentos”, explicou Gustavo Salgueiro, advogado da recuperação judicial.

Os principais interessados em comprar essa carteira são os credores de um CRA emitido pela empresa, incluindo grandes gestoras do mercado, como JGP, Capitânia, XP e Kijani. Dos R$ 500 milhões da emissão, cerca de R$ 290 milhões estão na mão desse seleto grupo.

Junto com a Jive, as gestoras engendraram uma solução para receberem o que lhes é devido sem passar pelo desconto de 85% colocado pela Agrogalaxy. A solução envolve colocar esses recebíveis dentro de um FIDC, trocando os papéis do CRA pelos do FIDC. 

A compra não é um processo trivial. Pelo fato de a empresa estar em recuperação judicial, a venda desses recebíveis tem de ser realizada por meio de um leilão, em que outros concorrentes poderão aparecer. 

Como será o leilão

Uma vez homologado o plano, será publicado um edital para que o processo competitivo possa ser realizado. Uma vez publicado o edital, transcorrerá um prazo de cinco dias corridos para os interessados em apresentar uma proposta se habilitarem. 

Então, será realizada uma audiência, com a leitura das propostas fechadas e, se houver uma proposta por um valor superior ao oferecido pelos credores do CRA, eles poderão igualar o valor para levarem a carteira (uma vez que começaram a analisá-la antes mesmo de ser colocada à venda). 

“Na oferta atual, está previsto um valor em dinheiro, somado a um valor em créditos velhos [os papéis do CRA]. Esses créditos deixam de ser pagos pela Agrogalaxy, no fluxo do plano, e serão pagos com a entrega da carteira de créditos para o vencedor”, explica Salgueiro. “Nós temos a certeza de que essa carteira será vendida pelo menos pelo valor da proposta atual”, completa.

A proposta atual é de R$ 91 milhões em dinheiro, somados a até R$ 300 milhões em papéis do CRA — o número exato será definido ao longo dos próximos dias, à medida que os detentores dos CRAs realizem assembleias para deliberar sobre o tema. 

Caso essa seja realmente a proposta vencedora, os investidores do CRA que vão comprar a carteira de créditos vencidos e créditos futuros — portanto, vão colocar dinheiro novo na empresa — vão receber uma debênture que tem um prazo de 2 anos de carência e 8 anos de vencimento, corrigida pelo IPCA, que vai obrigatoriamente compor o FIDC.

O investidor do CRA que não optou por colocar dinheiro novo para investir na compra da carteira vai receber outra debênture, um título de três anos de carência, 13 anos de amortização corrigido pela TR, com um haircut de 85%. Um formato que levantou dúvidas e descontentamentos em credores.

Os demais credores

A aprovação da proposta, ocorrida ontem depois de mais de 12 horas de reunião, foi marcada por idas e vindas. Fora do mercado de capitais, um dos mais combativos durante a reunião foi o Banco do Brasil, um dos maiores credores da Agrogalaxy com mais de R$ 390 milhões a receber, além de possuir garantia na forma de fluxo de grãos.

O banco chegou a pedir mais prazo para analisar as opções de pagamento — fato que levou a companhia a interromper a assembleia algumas vezes, segundo Salgueiro. Mas, por fim, o BB decidiu ficar em uma debênture de longo prazo em vez de converter os créditos em uma debênture conversível em ações.

Entre os credores financeiros, apenas o Santander quis converter a dívida atual em papéis conversíveis em equity. Os débitos com o banco somavam R$ 273 milhões.

A nova safra

A aprovação do plano nesta época do ano, o período mais crítico de vencimentos para o setor, prepara o terreno para a atuação da Agrogalaxy na safrinha e na próxima safra. A revenda ainda vê o produtor com um comportamento de compra bastante atrasado, deixando para adquirir os insumos mais perto do plantio — da mão para a boca, no jargão do setor. 

“Nós percebemos que existe uma esperança, por exemplo, de baixar o preço de fertilizantes, que começou a aumentar. Mas, no geral, do ponto de vista de produtividade, a maioria dos produtores está feliz. Se o produtor está feliz, todas as revendas também estão, porque há produtos para entregar e pagar a conta. Isso é muito positivo”, destacou Eron Martins, CEO da Agrogalaxy.