Máquinas

Como a maior concessionária da AGCO polui os resultados da Vamos

Controlada da Simpar teve um bom desempenho na divisão principal, de caminhões, mas a área de máquinas agrícolas derrubou o resultado

As agruras das concessionárias de máquinas agrícolas machucaram os resultados da Vamos no segundo trimestre. Dona da maior rede de concessionárias AGCO — fabricante das marcas Massey Ferguson, Valtra e Fendt —, a companhia controlada pela holding da família Simões sofreu com a tibieza das vendas de máquinas e com o aumento dos casos de inadimplência no Centro-Oeste.

Num momento em que as principais fabricantes de máquinas paralisam fábricas e reportam vendas em queda livre, a Vamos não conseguiu escapar das turbulências. De abril a junho, a conjuntura negativa para a cadeia de grãos foi a grande responsável pelo aumento das provisões para devedores duvidosos (PDD). Ao todo, a Vamos provisionou R$ 79 milhões.

O PDD não foi o único problema relacionado ao agronegócio. A companhia reportou um recorde de veículos retornados — devoluções por não pagamento ou por fim de contratos também influenciadas pelo setor—, e relatou que recuperações judiciais de companhias de transportes de commodities contribuíram com a piora da inadimplência.

Nesse ambiente, as ações da Vamos desabaram. No pregão de ontem, a companhia registrou a maior queda do Ibovespa, recuando mais de 10%. Nesta quarta-feira, os papéis ensaiam uma recuperação, subindo mais de 3%. Na B3, a Vamos está avaliada em R$ 8,3 bilhões. Em um ano, as ações caem 33%.

A batalha de expectativas

Diante do momento do mercado brasileiro de máquinas agrícolas, amplamente conhecido, não dá para dizer que os investidores foram pegos de surpresa, mas fato é que a magnitude do movimento impressionou, como evidencia o desempenho das ações da Vamos.

De qualquer forma, a fraca demanda por máquinas agrícolas — refletida nos resultados da divisão de concessionárias da Vamos —, poluiu um resultado que ainda foi positivo na principal divisão da companhia: o aluguel de caminhões. A área de locação representa 58% das vendas.

No consolidado, a Vamos conseguiu entregar um aumento de receita, Ebitda e lucro líquido, mas não o suficiente para impressionar positivamente. No trimestre, a companhia lucrou R$ 141 milhões, 6,5% abaixo do que o consenso Bloomberg estimava. A receita líquida cresceu 28%, somando R$ 1,8 bilhão.

Contornar esse cenário é a missão do CEO da Vamos, Gustavo Couto. Na terça-feira, o executivo elencou uma série de medidas que visam tanto diminuir custos — o que inclui demissões — quanto aumentar a demanda em cima de ativos já existentes.

A esperança é chegar ao fim de 2024 com uma alavancagem menor. No fim de junho, a relação entre dívida líquida e Ebitda estava em 3,39 vezes. Nos contratos com credores, os covenants de dívida estabelecem um teto de 3,75 vezes para a alavancagem.

Recuperação do agro?

Por enquanto, a Vamos evita dar qualquer sinal de recuperação da demanda por máquinas. “Dado o ciclo de baixa sem sinais de recuperação, seguimos focados na redução dos estoques, pessoal e melhora do capital de giro”, justificou a companhia, na apresentação a investidores.

Durante a teleconferência com analistas realizada ontem, o CEO da Vamos reconheceu a frustração com o desempenho do mercado de máquinas. “Esperávamos que o segundo trimestre já viesse mais forte, mas isso ainda não pode ser observado. No primeiro semestre, as vendas caíram de 30% a 40%”, disse Couto.

Atualmente, a divisão de concessionárias da Vamos é a mais afetada pelo agronegócio. Cerca de 30% das vendas estão atreladas ao setor, com o restante sendo preenchido por concessionárias de caminhões e produtos de linha amarela.

Apesar de a demanda desses dois produtos ter se mantido em patamares “normais”, segundo o CEO, a queda do agronegócio gerou um tombo em rentabilidade. Com isso, o Ebitda da divisão encolheu 70%. No semestre, a queda foi similar, de 76%. A margem Ebit (lucro antes de juros e impostos) das concessionárias foi negativa no trimestre.

A fraqueza das vendas de concessionárias agrícolas também pesou sobre o ROIC (retorno sobre capital investido), que fechou o segundo trimestre em 14,7%, ante 18,4% em 2023. “Da mesma forma que impulsionou os resultados em 2022 e 2021, agora pesa na ponta contrária”, justificou José Cezário, diretor financeiro e de relações com investidores da Vamos.

A aposta nos seminovos

No caminho para contornar o cenário difícil, a Vamos tem apostado em novas estratégias comerciais.

Em resposta ao alto volume de ativos devolvidos, a companhia anunciou um programa chamado Sempre Novo, cujo foco é alugar caminhões e outros equipamentos usados em bom estado de manutenção, de olho em ampliar o público potencial e chegar a clientes que não podem pagar pela locação de um zero quilômetro. 

“Vamos trazer um segundo ciclo de locação de ativos líquidos e que se apreciaram, na média, 37% ao longo dos últimos anos. São veículos com menos de cinco anos, reformados e que vão para locação ou venda, com baixa quilometragem. A forte apreciação dos ativos tem o potencial de gerar novos contratos com rentabilidade bastante atrativa, além de trazer receita nova para investimentos já realizados”, explicou o CEO. 

A companhias também vem trabalhando liberar capital de giro. Ao longo do último ano, a Vamos já melhorou em R$ 1,2 bilhão essa linha, mas a ideia devolver ainda mais recursos para o balanço até dezembro. As novas iniciativas em locação, por exemplo, deve trazer uma eficiência de R$ 200 milhões a R$ 400 milhões.

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A Vamos é a companhia mais valiosa da Simpar, holding liderada por Fernando Simões que também controla JSL (de logística) e Movida (aluguel de carros).