
Rubens Omettto já tinha dado o recado quando aceitou se desfazer da Vale, amargando um prejuízo multibilionário em nome da redução do endividamento da Cosan — holding que controla companhias como Raízen, Compass, Moove, Rumo e Radar.
O trabalho de desalavancagem, no entanto, ainda está longe de ser concluído. Na disputada teleconferência de resultados com analistas nesta quinta-feira, Rodrigo Araújo, CFO da Cosan, disse que a holding quer reduzir o endividamento em um terço no curto prazo.
“Acho que é possível assumir compromisso de reduzir a dívida que sobrou aí em uns 30% nos próximos meses”, disse o executivo.
Atualmente, a dívida líquida gerencial está na casa dos R$ 15 bilhões, aos quais se somam R$ 8,6 bilhões em um saldo de ações preferenciais do Bradesco e Itaú — servidas com dividendos da Compass e da Raízen.
No caminho para fazer com que a holding volte a gerar caixa — com a dívida de hoje, a Cosan só consegue pagar juros —, a companhia de Ometto conta com uma série de caminhos a serem explorados. Um “problema bom”, nas palavras de Thiago Duarte, analista do BTG Pactual, que fez uma pergunta sobre o tema durante a teleconferência.
Os executivos evitaram cravar caminhos explícitos, mas, pelo tom da conversa, a prioridade número um está na análise de ativos de qualidade e dos menos prioritários, a fim de fazer desinvestimentos. Um dos resultados já conhecidos dessa estratégia é o processo de venda do Porto de São Luís.
“A externalidade positiva do movimento de Vale, a demonstração de pragmatismo, trouxe interesse de investidores em outros ativos do portfólio. São ativos resilientes, de visão de longo prazo, por mais que o macro seja desafiador”, explicou Marcelo Martins, CEO da Cosan, aos analistas.
O racional da companhia se divide em duas premissas: não perder qualidade do portfólio e visão de valor sobre os ativos — ou seja, vendas só vão acontecer no preço correto.
O raciocínio também se estende à Raízen, com a revisão do portfólio de usinas. No call, Martins não especificou quantas usinas podem entrar nesse processo, mas frisou que a reavaliação da base de ativos está acontecendo.
“A Raízen pode vender ativos bastante relevantes, o que deve ter um impacto positivo na alavancagem. Depois, pode ser que haja necessidade de algum tipo de capitalização, mas isso será considerado no momento adequado”, explicou Martins.
Na holding, uma eventual necessidade de capitalização não passa despercebida — ainda que o foco para isso esteja no médio prazo.
“Ao preço atual, ninguém tem interesse em ser diluído. Temos uma situação completamente incoerente com os ativos que temos. Nosso objetivo é mudar a situação para o mercado avaliar corretamente nossas empresas”, afirmou o CEO.
Os movimentos são apenas exemplos da nova fase da Cosan. A holding, daqui para frente, não vai mais se alavancar para criar novas verticais e vai preferir um modelo de agenda de crescimento capitaneado pelas próprias empresas investidas.
Ineficiência fiscal (de captações na holding) e o custo de capital mais caro estão por trás da decisão, bem como a capacidade das próprias controladas de conseguirem fazer parcerias com sócios estratégicos e comerciais.
“Não vamos resolver o problema de Cosan aumentando o dividendo das controladas, drenando a capacidade de crescimento delas. Nós temos que nos adequar à limitação dos dividendos possíveis dentro do nosso sistema, para preservar o crescimento das companhias, não são elas que têm que se adequar à nossa dívida”, pontuou o CEO.
Os primeiros passos
No caminho para melhorar a própria situação de endividamento, a Cosan já deu alguns passos neste início de 2025. A companhia anunciou, em janeiro, o resgate de US$ 392 milhões em bonds que venceriam em 2027 — e sinalizou que os esforços de liability management vão continuar.
A holding tem uma concentração importante de vencimentos em 2028. Uma parte disso será resolvida no primeiro semestre desse ano, quando, segundo Araújo, condições mais atrativas serão abertas para quitar parte dessa dívida.
“Hoje, o custo de bonds swapados é o mais alto que temos no portfólio, um dos principais motivos para que sejam substituídos por operações mais longas e recompras”, sinalizou Araújo.
As operações com as ações preferenciais de Compass e Raízen também estão na mira da companhia, uma vez que o custo dessas operações vai aumentando ao longo do tempo.