A Seara está interessada na aquisição dos frigoríficos da Languiru, cooperativa gaúcha que colocou os ativos de aves e suínos à venda para reestruturar as dívidas e sobreviver à pior crise financeira de sua história.
Uma primeira abordagem da ordem de R$ 400 milhões foi feita, mas os gaúchos rechaçaram. A cooperativa pleiteava R$ 1 bilhão pelos ativos, que incluem dois abatedouros (um de aves e outro de suínos) e uma fábrica de ração, apurou The Agribiz.
A pedida inicial da Languiru é alta demais para a situação da cooperativa, que vem se agravando. Na segunda-feira, a crise financeira levou à renúncia do presidente Dirceu Bayer, que estava há 20 anos no cargo, e de todo o conselho de administração. Uma assembleia de cooperados convocada para 29 de abril deve eleger os novos dirigentes da Languiru.
A aposta de quem conhece a indústria gaúcha é que novas conversas serão entabuladas com a mudança de comando na cooperativa, com chances de reduzir a diferença entre o pedido da Languiru e a sinalização da Seara.
Renúncia coletiva na Languiru
Um M&A é crucial para reorganizar as contas da Languiru, que deve mais de R$ 800 milhões a bancos e credores do mercado de capitais como o VGIA11, Fiagro da Valora que emprestou R$ 100 milhões à cooperativa por meio de um CRA.
No mês passado, a Languiru chegou a assinar um memorando de entendimentos com um consórcio chinês (ITG Holding e TJJT) que demonstrou interesse nos ativos. A ideia original era uma joint venture com os asiáticos. A cooperativa ficaria com alguma participação no negócio.
Há duas semanas, o então presidente da cooperativa, Dirceu Bayer, disse ao The Agribiz que a sociedade com os chineses equacionaria os problemas. “Se fizermos a joint venture, podemos pagar os bancos com esses recursos e ficar com pouca dívida na cooperativa”, disse o dirigente.
No entanto, há um receio no mercado de que a proposta dos asiáticos não vai se concretizar. A renúncia dos dirigentes só alimentou essa desconfiança.
Procurada, a Languiru disse que “trabalha com diferentes possibilidades de negociação”, mas que, “por questões de confidencialidade que as tratativas exigem, neste momento não irá se pronunciar”. A Seara não comentou.
O pacote de investimentos da Seara
Na Seara, o interesse pelos ativos da Languiru é mais uma demonstração da ambição da JBS de crescer o negócio no Brasil. Liderada pelo ex-PepsiCo João Campos, a companhia está no meio de um programa de R$ 8 bilhões em investimentos.
A compra de ativos de companhias em dificuldades é parte do DNA da JBS, gigante de carne que ergueu a maior companhia de proteína animal do planeta a partir de M&As.
A própria Seara, aliás, foi comprada há quase dez anos, aproveitando um momento em que a rival Marfrig precisava vender ativos para reduzir o endividamento.
No ano passado, a Seara faturou R$ 42,9 bilhões, um salto impressionante em dez anos — em 2013, o faturamento não passava de R$ 13 bilhões.
A diferença para a líder BRF, que fez uma receita de R$ 53,8 bilhões em 2022, vem se reduzindo rapidamente e alguns analistas apostam que a Seara ficará maior que a dona da Sadia até 2024.