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Venda da Biotrop pode movimentar mais de R$ 2,5 bi

Quanto vale a tese dos insumos biológicos? A Biotrop, companhia que saiu da cabeça do biólogo Antonio Carlos Zem, está no meio de um processo competitivo de venda.

Quanto vale a tese dos insumos biológicos? A Biotrop, companhia que saiu da cabeça do biólogo Antonio Carlos Zem, está no meio de um processo competitivo de venda com potencial para criar uma nova referência de valuation na indústria.

O Itaú BBA está com o mandato da Biotrop, três fontes disseram ao The Agribiz. O processo atraiu companhias como a norueguesa Yara, uma das gigantes globais de fertilizantes.

Quando se consideram as cláusulas de desempenho futuro (earnout), a transação poderia passar de R$ 2,5 bilhões. A oferta base da Yara pela Biotrop estava em R$ 2,2 bilhões, segundo as fontes. Procurada, a companhia norueguesa disse que não comentaria “especulações do mercado”.

Repercussão na concorrência

O M&A da Biotrop pode mexer com a percepção de valor do ecossistema dos biológicos como um todo, o que inclui companhias listadas como a Vittia, que fatura R$ 945 milhões e está avaliada em R$ 1,5 bilhão, e players como Agrivalle, Solubio e Gênica.

A venda da Biotrop vai coroar o investimento feito pelo Aqua Capital, que controla a companhia desde sua criação. Zem, um executivo com quase quatro décadas de FMC, era conselheiro da gestora quando sugeriu criar do zero um negócio de insumos biológicos em 2018, num modelo pouco usual para a firma de private equity.

A empreitada deu certo, aproveitando o boom de adoção da tecnologia pelos agricultores. No ano passado, a Biotrop faturou R$ 375 milhões, com uma margem Ebitda da ordem de 35%. “Há poucos ativos com tecnologia, registros, escala e esse nível de lucratividade”, disse uma fonte. Em muitas das linhas de negócios, a margem bruta está na casa de 80%.

Para um negócio que deve crescer 60% neste ano, uma oferta de R$ 2,2 bilhões significaria um múltiplo de quase 13 vezes o Ebitda projetado para 2023. Para se ter uma dimensão, a americana Corteva, gigante de defensivos e sementes, negocia a um múltiplo (EV/Ebitda) de 11,4 vezes.

A Biotrop também deve gerar bons retornos para o GIC. O fundo soberano de Singapura comprou uma participação minoritária na companhia de biológicos há dois anos, injetando capital para financiar o crescimento da companhia, o que demandou investimentos para ampliar a fábrica de Curitiba. Uma nova unidade deve ser inaugurada este ano.

Potencial brasileiro

Com capacidade fabril e novos produtos no pipeline, a Biotrop tem potencial para agregar mais de US$ 370 milhões (o equivalente a R$ 1,8 bilhão) só com lançamentos.

O negócio de insumos biológicos, aliás, é um raro setor que tem o Brasil como protagonista no desenvolvimento de tecnologias, uma consequência de sua agricultura tropical e da necessidade ambiental (e econômica) de reduzir o uso de produtos químicos. Estima-se que o mercado brasileiro de biodefensivos chegará a R$ 17 bilhões em 2030.