Comércio exterior

Abertura do Japão para a carne está perto. A aposta da Abiec

Troca do ministro da Agricultura do Japão pode favorecer as negociações para a abertura do mercado à carne bovina; Roberto Perosa viaja para Tóquio em fevereiro

Roberto Perosa, presidente da Abiec, aguarda abertura do Japão

O Japão sempre foi um dos mercados mais cobiçados pela indústria brasileira de carne bovina, mas as desculpas sanitárias de Tóquio — o risco de febre aftosa talvez fosse a principal delas — nunca deixaram o desejo dos frigoríficos se materializar. Agora, as coisas parecem estar mudando.

As perspectivas para uma abertura do mercado japonês à carne bovina do Brasil nunca foram tão promissoras. A avaliação é de Roberto Perosa, o mais novo presidente da Abiec — associação que representa os principais exportadores de carne do País.

Não à toa, as projeções de crescimento das exportações brasileiras de carne bovina em 2025 já contemplam a abertura do mercado japonês. Pelas contas da Abiec, os embarques podem aumentar 10% neste ano, ultrapassando a barreira das 3 milhões de toneladas.

A demanda japonesa é gigantesca, passando de 700 mil toneladas por ano. O país é o terceiro maior importador de carne bovina, só atrás de China e Estados Unidos, e atualmente conta com apenas dois fornecedores de expressão volumétrica: Austrália e EUA.

Com a restrição de oferta de gado nos EUA, o Brasil poderia emergir como um fornecedor importante, suprindo as indústrias de alimentos japoneses com o que se convencionou chamar de “carne ingrediente”.

“Não vamos competir com o produtor japonês. O Brasil tem capacidade de fornecer qualquer tipo de carne para o mundo inteiro, mas o nosso foco na Ásia é a carne para ingrediente”, disse Perosa ao The AgriBiz, já vacinando o discurso contra os apelos protecionistas que inevitavelmente aparecem.

O que mudou

Em entrevista concedida na sede da Abiec, na avenida Faria Lima, Perosa disse que as questões técnicas com os japoneses já haviam sido superadas, ainda mais com o Brasil caminhando para ser reconhecido oficialmente como livre de aftosa sem a necessidade de vacinação — o status deve ser concedido pela Organização Mundial de Saúde Animal em maio.

O que faltava, no entanto, era a disposição política do lado japonês. Mas uma recente mudança no governo do país asiático criou uma situação favorável, com a indicação do deputado Eto Taku como Ministro da Agricultura do Japão.

“Tudo envolve política e momento diplomático. O ministro que estava lá antes não tinha muita abertura. Mas o novo ministro, por coincidência, esteve aqui no Brasil em agosto, visitando fazendas”, contou o presidente da Abiec.

Nessas visitas, Taku esteve no frigorífico de Mozarlândia (GO), que pertence à JBS, e teve uma audiência com o próprio Perosa, que ocupava o cargo de Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura — cadeira que deixou em outubro para substituir Antonio Camardelli na Abiec.

Quando houve a troca de ministro no Japão, Perosa viu uma oportunidade se abrir. Em fevereiro, o presidente da Abiec viajará ao país asiático ao lado de Renato Costa, que lidera o conselho de associação e é também o CEO da Friboi.

A ideia é que essa viagem seja uma precursora da visita de Estado que o presidente Lula fará ao Japão em março. “Estamos indo lá de novo. Acho que pode ser uma janela boa”, disse Perosa.

A esperança é conseguir preparar o terreno para anunciar a abertura de mercado durante a visita presidencial. Como sempre ocorre em negociações assim, pedidos de última hora podem mudar o rumo das conversas e frustrar os planos, mas a expectativa é das melhores.