O governo chinês abriu, nesta sexta-feira, uma investigação que pode gerar tarifas sobre as importações de carne bovina, atingindo em cheio os frigoríficos brasileiros — principais fornecedores de carne à China. As ações do setor reagem em queda na Bolsa.
A decisão atende a um pedido de medidas de salvaguarda apresentado por diversas associações de produtores chineses de carne bovina, que reclamam prejuízos devido ao forte aumento das importações desde 2019.
Durante o período da investigação, que deve durar oito meses, não há aplicação de tarifas adicionais. Os termos comerciais permanecem os mesmos, mas a decisão de Pequim certamente vai pairar como uma espada sobre a cabeça de todos os exportadores — e qualquer ação fora do que os chineses desejam pode gerar punições.
O pedido, acatado pelo Ministério do Comércio da China, alega que o volume importado de carne bovina já representa 44% da produção total do país asiático, tendo crescido de forma exponencial em relação aos 20% de 2019. Entre o primeiro semestre de 2019 e o mesmo período de 2024, o volume importado mais que dobrou.
Para as associações que pediram a investigação, a disparada nas importações causou “sérios danos às indústrias domésticas”.
A investigação, que se inicia hoje, tem prazo de oito meses que poderá ser estendido em circunstâncias especiais, segundo o comunicado do Ministério do Comércio chinês. Após esse período, Pequim vai decidir que medidas deve adotar para conter eventuais danos à indústria local.
Os frigoríficos chineses, que tem enfrentado o aumento das importações há anos, podem ter atingido o seu limite máximo de tolerância diante da queda nos preços da carne bovina em 2024. No varejo, a carne bovina foi a que mais caiu este ano na China, passando de aproximadamente 80 yuans por quilo para menos de 70 yuans por quilo em outubro.
Apesar de a investigação não ter nenhum efeito imediato, as ações de Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) estão entre as maiores baixas da Bolsa nesta sexta-feira. Por volta das 11h, os papéis caíam cerca de 5% e 2,5%, respectivamente. A JBS (JBSS3), mais diversificada e considerada menos exposta ao mercado chinês, perdia 1,3%. BRF (BRFS3) caía na esteira da controladora Marfrig, com 3,4% de desvalorização.
Em nota, a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) informou que acompanha a investigação com atenção e que está comprometida a cooperar com as autoridades chinesas e brasileiras.
O Ministério da Agricultura também divulgou nota afirmando que, em conjunto com o setor exportador, “buscará demonstrar que a carne brasileira exportada à China não causa qualquer tipo de prejuízo à indústria chinesa, sendo, pelo contrário, importante fator de complementariedade da produção local chinesa”.
E agora?
Ainda não está claro o efeito colateral que a investigação pode ter no comércio entre os dois países enquanto durarem as apurações. Um desdobramento possível é uma suspensão no processo de habilitação de novas plantas para exportação de carne bovina à China.
Na última rodada de aprovações, em março deste ano, a China habilitou 24 indústrias brasileiras para exportação, elevando o número total de plantas autorizadas para 65 — o que pode ajudar a explicar os preços mais deprimidos este ano.
Apesar de a investigação atingir todos os países exportadores de carne bovina, o Brasil certamente está no centro das apurações: o País teve uma participação de quase 60% nas importações de carne bovina da China este ano, com o envio de mais de 1 milhão de toneladas ao parceiro asiático.
O segundo lugar em market share nas importações chinesas é ocupado pela Argentina (18%), país que também conta com o protagonismo de empresas brasileiras. Austrália, Uruguai, Bolívia, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia aparecem na sequência, com uma participação de aproximadamente 5% cada um.
Com exceção da Austrália e Nova Zelândia, isentas de taxas, todos os outros exportadores já são submetidos a uma tarifa de importação de 12%.