Frigoríficos

Marfrig deixa a concorrência comendo poeira — outra vez

No balanço que acaba de divulgar, a companhia de Marcos Molina mostrou que a National Beef vem conseguindo navegar melhor à escassez de gado

Está virando rotina. A Marfrig bateu os principais concorrentes em mais um trimestre, evidenciando uma persistente diferença de margens na comparação aos rivais nos Estados Unidos e também no Brasil.

No balanço que acaba de divulgar, a companhia de Marcos Molina mostrou que a National Beef, quarta maior indústria de carne bovina dos Estados Unidos, vem conseguindo navegar melhor à escassez de gado do que JBS USA e Tyson Foods.

No América do Sul, o negócio de carne bovina entregou uma margem Ebitda superior à Minerva e Friboi. A cereja do bolo, é claro, foi a BRF. A dona da Sadia já havia divulgados os resultados em fevereiro, com uma margem de 13,2%, mas a comparação com a Seara (que fez apenas 6%) escancarou a diferença.

Como poucas vezes se viu desde que a JBS comprou a Seara, em 2013, a competição está mais árdua para a companhia dos irmãos Batista. Por dez anos, a situação era o completo oposto, com uma BRF fragilizada perdendo participação de mercado.

Não à toa, Gilberto Tomazoni ficou mais próximo da gestão da Seara, e já indicou que está correndo para fechar o gap.

O trimestre da Mafrig

A melhora dos resultados da BRF, aliás, foi crucial nos resultados da Marfrig. No quarto trimestre, a dona da Sadia foi responsável por 64% do Ebitda da companhia de Marcos Molina. Um ano atrás, eram 44%.

Globalmente, o Ebitda da Marfrig aumentou 32,1% na comparação anual, alcançando R$ 2,9 bilhões. A margem também melhorou, saindo de 6% no último trimestre de 2022 para 8%.

Isso não seria possível sem a BRF, especialmente porque a National Beef — maior responsável pela geração de caixa da Marfrig nos últimos anos — registrou uma queda de 44,5% no Ebitda — foram apenas US$ 79 milhões.

O negócio de carne bovina da América do Sul também contribuiu, com um crescimento de 38,4% no Ebitda — atingindo R$ 732 milhões, uma margem de 10,3%, acima dos 9,8% registrado pela Minerva Foods e 5,9% pela Friboi.

“Mais uma vez, estamos entregando margens melhores do que os pares”, comemorou Tang David, diretor financeiro da Marfrig, em entrevista a jornalistas.

Com esses resultados, a Marfrig conseguiu gerar R$ 441 milhões em caixa livre, o que ajudou a reduzir o nível de endividamento. Em dezembro, o índice de alavancagem atingiu 3,71 vez, um pouco abaixo dos 3,91 vez reportados no fim de setembro.

Quando se inclui os R$ 6 bilhões que a companhia ainda tem a receber da Minerva pela venda de frigoríficos na América do Sul, a alavancagem ficaria em 3,07 vez.

A diferença da National

Com um modelo de negócios que garante 25% da compra de gado dos pecuaristas que são sócios minoritários, a National Beef consegue um portfólio de cortes mais caros — com os selos Choice e Prime do USDA —, fazendo margens melhores, na média.

“Mas não é só isso. O Tim Klein é a pessoa que mais entende de carne nos Estados Unidos”, disse um graduado executivo de uma concorrente, citando o CEO da National Beef.

Em entrevista nesta quarta-feira, Klein voltou a afirmar que o ciclo de escassez de gado nos EUA deve perdurar até 2026, mas ele está confiante na capacidade da indústria de entregar margens mais saudáveis mesmo nesse cenário.

A expectativa do CEO da National Beef é que a margem Ebitda do negócio ficará em “low-single digit”, uma mensagem semelhante à transmitida por Wesley Batista Filho, CEO da JBS USA, em teleconferência com investidores durante a manhã.

Na leitura de Klein, o atual momento de retenção de vacas será menos doloroso para os frigoríficos do que o ciclo anterior, entre 2014 e 2015, quando as margens ficaram no zero a zero ou negativas.

No quarto trimestre do ano passado, a National Beef fez uma margem Ebtida de 2,6%, enquanto JBS USA Beef e Tyson ficaram no vermelho.

Bottom line

Em geral, os resultados vieram próximos das estimativas dos analistas, com a receita líquida um pouco acima do consenso e um Ebitda ligeiramente inferior. Ao todo, a receita líquida da Marfrig atingiu R$ 36,5 bilhões no trimestre, queda de 2,2%.

Na última linha do balanço, a Marfrig reportou um lucro ainda modesto, de quase R$ 12 milhões, mas bem melhor que o prejuízo de R$ 628 milhões registrado um ano antes.

Se a BRF continuar entregando bons resultados, a Marfrig pode voltar a pagar dividendos aos acionistas, avalia uma fonte.

Na B3, a Marfrig está avaliada em R$ 8,5 bilhões. Em doze meses, as ações sobem 38%, mas no acumulado de 2024 caem 5,3%.