Polêmica

Na guerra da carne, o Carrefour tem bem mais a perder do que os frigoríficos

Carne bovina representa cerca de 5% das vendas da rede no Brasil — que corresponde a um quarto do faturamento global do Carrefour

Fachada de loja do Carrefour | Crédito: Schutterstock

A guerra deflagrada entre os frigoríficos brasileiros e o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, pode deixar feridos — e certamente não serão os produtores de carne bovina. Para a rede varejista, que tem cerca de mil lojas no Brasil considerando também as bandeiras Atacadão e Sam’s Club, a interrupção no fornecimento pode impactar as vendas.

Carne bovina representa cerca de 5% das vendas totais do Carrefour Brasil e um dígito dígito baixo do Ebitda, segundo relatório dos analistas de varejo do Bradesco BBI. Mais do que isso, a carne é uma categoria-chave para os supermercados, pois é um chamariz dos consumidores às lojas.

O Brasil é o segundo maior mercado para o Carrefour no mundo, atrás apenas da França, com uma participação de 25% nas vendas globais da empresa. No quarto trimestre do ano passado, as vendas do Carrefour Brasil se aproximaram de 6 bilhões de euros. Com a Argentina, o faturamento da América Latina sobe para 7 bilhões de euros, igualando-se à receita do Carrefour em todos os outros países europeus (excluindo a França).

Os resultados no Brasil, portanto, têm peso relevante no resultado global, o que torna a situação preocupante para a matriz. As lojas no Brasil correm o risco de ficar com os açougues desabastecidos caso o boicote seja mantido. Em nota enviada nesta segunda-feira, o Carrefour admitiu que a suspensão do fornecimento de carne impacta seus clientes, mas ressaltou que não há desabastecimento das lojas por enquanto.

Os frigoríficos aguardam uma retratação do CEO global do Carrefour para retomar as vendas à rede. Eles têm bastante fôlego. As maiores empresas de carne bovina do Brasil, que suspenderam as vendas ao Carrefour nos últimos dias, têm uma receita extremamente diversificada, que ficou bem menos dependente da Europa nos últimos anos. No ano passado, a União Europeia representou apenas 4,8% das exportações brasileiras de carne bovina, percentual que chegou a se aproximar de 50% em meados da década de 1990.

Para o Carrefour fora do Brasil, as vendas de carne brasileira são insignificantes. No Brasil, a rede tem um peso maior, considerando a sua relevância no varejo nacional. Mas quando se coloca em perspectiva a participação dessas vendas no balanço total dos frigoríficos, o impacto é marginal.

Segundo uma fonte de uma grande indústria de carne bovina, o corte ao fornecimento ao Carrefour deve ser rapidamente absorvido por outros varejistas. Pode ser que ocorra algum respingo no faturamento de curto prazo devido a ajustes que precisam ser feitos, mas os efeitos não seriam materiais.

Potencialmente, o efeito poderia ser maior para a Friboi, unidade de carne bovina da JBS no Brasil e que fornece cerca de 80% da carne comprada pelo Carrefour no Brasil. Para o resultado global da JBS, o episódio não faz nem cócegas. A JBS Brasil, onde está a Friboi, equivale a cerca de 15% da receita global da JBS — e as exportações representam cerca de 45% desse faturamento.

Por enquanto, a polêmica não abala as ações dos frigoríficos. Por volta das 12h, as ações da JBS e da Minerva operavam perto da estabilidade, enquanto a Marfrig sobe quase 1%. Já as ações do Carrefour caíam 1,5%.