Governança

Nada ISE: Marfrig deixa o índice de sustentabilidade da B3

A saída da Marfrig do ISE causou surpresa na companhia, que estava bem ranqueada em praticamente todos os indicadores do índice

Na mais nova revisão da carteira teórica do ISE, o índice de sustentabilidade empresarial da B3, a Marfrig foi excluída, um revés para a estratégia da companhia de Marcos Molina de se posicionar como a referência dos frigoríficos em matéria ambiental.

Na indústria de proteína animal, a concorrente Minerva Foods e a BRF — que é controlada pela própria Marfrig — fazem parte do índice. A JBS, maior companhia de carnes do planeta, já estava fora do ISE e assim permaneceu.

Ao todo, a carteira teórica possui 78 companhias. Na mais nova revisão, que passará a vigorar na próxima segunda-feira, três companhias foram excluídas. Além da Marfrig, Equatorial e Casas Bahia foram retiradas do índice. Do outro lado, a rede de laboratórios Dasa, Carrefour e Cyrela foram incluídas.

Embora responda por uma parcela diminuta das negociações (o ETF do Itaú que replica o ISE possui um patrimônio de apenas R$ 17 milhões), a presença das companhias brasileiras no índice é vista como um selo de qualidade e ninguém quer perdê-lo.

A saída da Marfrig do ISE causou dúvidas na companhia, que estava bem ranqueada em praticamente todos os indicadores do índice, que inclui métricas ambientais, de governança e sociais.

Na COP-28, realizada realizada em Dubai no fim do ano passado, a Marfrig antecipou as metas de rastreabilidade total do rebanho que adquire para 2025, em um esforço para controlar a cadeia de fornecimento desde o nascimento dos bezerros.

Procurada pela reportagem, a Marfrig disse que “recebeu com surpresa o anúncio de sua saída da 19ª carteira do ISE. Entre as mais de 70 empresas que compõem o índice, a Marfrig constava como a 22ª mais bem avaliada. A despeito dessa decisão, a companhia reafirma seu compromisso inegociável com a sustentabilidade e as melhores práticas ESG, reconhecidas por diversos rankings e índices globais relevantes, em que a Marfrig também figura como a empresa mais bem avaliada do setor”.

A razão para a exclusão da companhia do índice veio da avaliação externa de reputação da RepRisk, uma companhia suíça contratada pela B3 que usa inteligência artificial e faz uma espécie de clipping de notícias para atribuir uma nota de reputação.

Para fazer parte do índice, as companhias precisam ter menos de 50 pontos no RepRisk, mas a Marfrig ficou com 51, um reflexo de notícias de teor negativo publicadas ao longo deste ano.

A principal motivação foram reportagens que citavam um relatório do Greenpeace que pressionava os bancos a deixaram de financiar companhias de commodities supostamente associadas ao desmatamento. Entre elas, estava a Marfrig.

Outra notícia, veiculada em janeiro, mencionava que a Marfrig e outras companhias como a Amaggi possuem o Selo Mais Integridade, um prêmio concedido pelo Ministério da Agricultura.

Teoricamente, deter este selo é positivo, mas como a Marfrig foi citada pela reportagem do Repórter Brasil que questionava a presença da empresa entre as selecionada pelo certificado de boas práticas, foi penalizada pelo RepRisk.

“A metodologia da RepRisk não faz sentido. Veja só: um prêmio se torna motivo de penalização”, criticou uma fonte que acompanha os meandros das discussões sobre sustentabilidade na pecuária.

Essa não é a primeira vez que a metodologia da RepRisk é criticada. Há dois anos, a B3 fez uma consulta pública sobre o tema. A maioria das empresas pediu alterações, mas a bolsa decidiu preservar a metodologia da companhia suíça.

A expectativa é que a Marfrig abra um diálogo com a B3, questionando novamente os critérios usados pela RepRisk. Até lá, no entanto, ficará fora do ISE.

A nova carteira teórica vale até agosto.