Frigoríficos

O big data do Santander: carne (e margem) mais suculenta nos EUA?

Em uma nova série de relatórios, o Santander argumenta o perfil de consumo de carne nos EUA mudou, beneficiando as margens de Marfrig e JBS

Em uma nova série de relatórios capitaneada por Guilherme Palhares, o analista ex-BofA que assumiu a cobertura de alimentos e agronegócios, o Santander ofereceu alguns insights que ajudam a sustentar a leitura mais positiva para as ações de Marfrig e JBS.

Na primeira edição da série, batizada de Field-to-Fork, o analista argumenta que uma mudança no padrão de consumo de carne nos EUA, rumo à cortes de melhor qualidade, indicam margens positivas para a indústria frigorífica americana mesmo no atual momento, de oferta escassa de gado.

“São oito países, três categorias e mais de 270 visualizações geradas diariamente. Esse é apenas o início. Desenvolvemos uma tecnologia própria e escalável, de modo que vamos continuar a adicionar análises inéditas sobre o setor. Assim, esperamos contribuir para termos discussões mais aprofundadas e embasadas”, disse Palhares, em uma publicação em seu perfil no LinkedIn.

Para ilustrar o argumento, Palhares cita a análise feita a partir de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Ao longo dos últimos 15 anos, os cortes de melhor qualidade (que ganham o selo choice e prime) passaram a representar 82% do mercado.

Em 2010, os cortes de carne vendidos nos Estados Unidos estavam distribuídos da seguinte maneira: 30% para no select (selo de qualidade menor, numa carne com menos marmoreio), 60% no choice e apenas 2% no prime, o nível de maior qualidade — tipicamente, uma carne com bom marmoreio que você pode encontrar nas melhores churrascarias.

De lá para cá, essa distribuição mudou bastante, mostrou o Santander. Atualmente, os cortes prime já respondem por 10%, enquanto o choice passou para 72% e o select caiu para 15%.

Carne com marmoreio

Uma prova de que a qualidade dos cortes vendidos são os resultados da americana National Beef, controlada pela Marfrig, escreveu o analista do Santander.

Mais exposta aos cortes nobres do que a média do mercado americano, a companhia frequentemente registra as margens mais altas da indústria. É uma das razões pelas quais a Marfrig teve melhores resultados que as concorrentes JBS USA e Tyson.

Tipicamente, os cortes classificados como choice são vendidos com um prêmio de 10% sobre o select, enquanto o prime consegue um prêmio de 15%.

No curtíssimo prazo, a lotação dos confinamentos de gado nos EUA também pode ajudar a margem dos frigoríficos, avaliou o analista do Santander, mencionando que o estoque nos feedlots cresceu 3% em dezembro, na comparação anual.

Nesse ambiente, o Santander manteve a perspectiva positiva (o equivalente a uma recomendação de compra) para as ações de Marfrig e JBS. Palhares vê um upside de 66% nos papéis da Marfrig e de 54% na JBS em doze meses.

Segundo ele, a JBS deve se beneficiar da oferta de gado um pouco melhor nos Estados Unidos no curtíssimo prazo e também da melhora as margens da carne de frango ao longo de 2024.

Na Marfrig, Palhares acha que as ações da empresa de Marcos Molina estão subavaliadas considerando a fatia de 50% na BRF e as melhores margens de seu portfólio de cortes de qualidade (National Beef nos EUA) e com marca (Sadia e Perdigão no Brasil).

A partir do segundo semestre, no entanto, o ciclo de restrição de oferta de gado deve pesar mais nos Estados Unidos, até porque o número de novos animais indo para o confinamento estão caindo. Entre os frigoríficos americanos, parece consenso que a oferta de gado será restrita pelo menos até 2025.

Resta saber se o respiro imaginado por Palhares vai se confirmar. Se for o caso, bom para quem gosta de um churrasco de qualidade (e para JBS e Marfrig).