Em 2026

O caminho da Minerva para voltar a pagar dividendos gordos

Alavancagem pode voltar a 2,5 vezes no primeiro trimestre de 2026, condição para a distribuição mínima de 50% dos dividendos, diz CFO

Edison Ticle, diretor financeiro da Minerva

O aumento de capital privado da Minerva Foods abre caminho para a companhia dos Vilela de Queiroz voltar a pagar dividendos gordos aos acionistas a partir de 2026, retomando uma característica que tornou o frigorífico um dos queridinhos da bolsa até agosto de 2023, quando o endividamento feito para comprar os ativos da Marfrig azedou o humor os investidores.

Em teleconferência nesta terça-feira, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, indicou que a alavancagem da empresa pode voltar ao nível pré-aquisição, ou seja, ao redor de 2,5 vezes, já no primeiro trimestre de 2026. A política de dividendos da Minerva prevê que, com a alavancagem igual ou menor a 2,5 vezes, o pagamento mínimo de dividendos sobe para 50% — acima do mínimo de 25% determinado pela Lei das S.A.

A estimativa de Ticle para a alavancagem considera o efeito do aumento de capital sobre a dívida, que deve cair em R$ 2 bilhões, e a expectativa de geração de caixa livre entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões em 2025 e 2026.

“Com o aumento de capital, antecipamos em um ano a curva de desalavancagem. Então provavelmente vamos atingir esses níveis de alavancagem [2,5 vezes] no primeiro trimestre do ano que vem”, disse Ticle durante teleconferência com analistas para detalhar a operação.

Segundo ele, os recursos vindos do aumento de capital, que serão utilizados para eliminar dívidas mais onerosas do balanço, e a geração de caixa permitirão a convergência para esse nível de alavancagem, considerado ótimo pelo executivo para a indústria frigorífica. “Não há necessidade de vender ativos”, garantiu.

Durante a teleconferência, Ticle reforçou que o aumento de capital gera valor ao acionista, mesmo considerando a diluição da base em aproximadamente 50%. O racional é o seguinte: a redução da dívida líquida vai proporcionar uma economia de aproximadamente R$ 320 milhões com juros, e a menor despesa financeira resultará em um lucro líquido maior.

Assim, o lucro líquido estimado pelo consenso do mercado para 2025, de R$ 313 milhões, deveria aumentar para cerca de R$ 580 milhões, nas contas do CFO. O lucro por ação teria um acréscimo de 12%, de R$ 0,53 para cerca de R$ 0,60, nos cálculos de Ticle.

“É uma operação super friendly para a base de acionistas”, defendeu o CFO. “Ela coloca a companhia numa situação muito mais favorável sob o ponto de vista de estrutura de capital e ela tem uma externalidade positiva: a despeito da diluição, ela é accretive para a conta de earnings per share”, afirmou.

Com a estrutura de capital arrumada, a Minerva quer focar na operação para extrair, de fato, o valor que espera da aquisição dos frigoríficos da Marfrig. “Ter uma estrutura de capital otimizada e mais leve nos dá o benefício de focar ainda mais nessa extração de sinergias operacionais”, disse Ticle.

No Brasil, a última planta recebida da Marfrig que permanecia fechada deve começar a operar na segunda quinzena de abril, segundo Ticle. No Uruguai, a companhia continua aguardando uma definição sobre a aprovação da aquisição até o final de junho.

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As ações da Minerva caíam 5,5% por volta das 11h, para R$ 6,07. O movimento é esperado, considerando que o preço definido na operação foi de R$ 5,17 (a média de negociação dos últimos 60 dias), um desconto de 20% em relação ao fechamento de ontem.

Para os minoritários, a atratividade da operação está no recebimento de um warrant, que será convertido em ações da Minerva nos próximos três anos. A cada par de ações subscritas na operação, o acionista receberá um warrant (o equivalente a uma ação da Minerva no futuro). Caso todos os warrants, sejam exercidos, a injeção de capital na Minerva pode chegar a R$ 3 bilhões.

“Acreditamos que essa estrutura incentiva fortemente os acionistas a participar do aumento de capital, capturando não apenas o desconto do último preço de fechamento da ação, mas também a opção de compra gratuita concedida na forma do warrant”, afirmam os analistas Thiago Duarte, Guilherme Gutilla e Gustavo Fabris em relatório do BTG Pactual.

“O warrant não apenas garante que o aumento de capital será um sucesso, mas também sugere que atingirá o tamanho máximo de R$ 3 bilhões”, acrescentam os analistas.