Quando a Minerva divulgou os resultados do primeiro trimestre, Edison Ticle apanhou do mercado. A queima de caixa de R$ 853 milhões, um efeito colateral da restrição de crédito que os bancos impuseram após a crise da Americanas, parecia nublar as perspectivas para a maior exportadora de carne bovina da América do Sul.
Durante aquela teleconferência, Ticle tentou tranquilizar os analistas. Em alguns trimestres, disse, boa parte daquele capital de giro seria liberado. Seis meses depois, a Minerva cumpriu a palavra de Edinho, como o diretor financeiro é mais conhecido na Faria Lima.
No balanço do terceiro trimestre que acaba de divulgar, a Minerva gerou R$ 608 milhões em caixa livre. Quando excluído o desembolso feito para honrar as aquisições da australiana ALC e do frigorífico uruguaio BPU, o fluxo de caixa recorrente chega a R$ 1,2 bilhão.
“Tivemos uma devolução importante de capital de giro. Eu prometi que ia voltar ao longo deste ano, e a devolução está acontecendo. A grande notícia é a geração de caixa livre, via capital de giro”, comemorou Ticle, em entrevista a jornalistas.
No terceiro trimestre, a conta de capital de giro melhorou R$ 581 milhões, praticamente garantido a geração de caixa que a companhia teve no trimestre. A forte queda dos preços do boi gordo no Brasil, maior responsável pelos custos de produção, certamente ajuda na conta de fornecedores (aliviando o desembolso necessário para comprar gado).
Duplo dígito
A queda dos preços do gado no Brasil, um reflexo da oferta abundante típica da atual fase do ciclo pecuário, ajudou a engordar as margens da Minerva. No terceiro trimestre, a margem Ebitda da companhia chegou a 10,1%, um acréscimo de 0,5 ponto na comparação com o mesmo período do ano passado.
Em entrevista, o CEO da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, disse que a melhora das margens (dois dígitos é um excelente indicador nesse setor) é mais uma demonstração de que a indústria de carne bovina deve ser encarada como um “spread business”, característica essencial de um típico negócio de commodity.
Graças à redução dos preços do boi, a margem Ebtida melhorou mesmo com a desvalorização dos preços da carne bovina, que se refletiu em receita e Ebitda menor no terceiro trimestre.
Abaixo do esperado
A receita menor é um dos pontos de atenção dos analistas, que temem a lenta retomada da demanda chinesa. Segundo Galletti, a China passa por uma “recuperação gradual” de preços. No médio prazo, a severa restrição de oferta nos EUA tende a melhorar a cotação internacional da carne, ajudando a carne da América do Sul.
De julho a setembro, a receita líquida da Minerva caiu 16,2% na comparação anual, somando R$ 7 bilhões, abaixo do consenso Bloomberg, de R$ 7,4 bilhões. O Ebitda, por sua vez, recuou 11,5%, totalizando R$ 713,7 milhões, também abaixo dos R$ 754 milhões que os analistas do BTG Pactual projetavam.
Para Leonardo Alencar, analista da XP, o resultado abaixo do esperado em receita e Ebitda deve decepcionar os investidores, potencialmente pressionando as ações no pregão de quinta-feira. Segundo ele, os resultados foram “frustrantes”, com um efeito muito pequeno do momento favorável do ciclo pecuário.
Alavancagem
Na última linha do balanço, a Minerva entregou um lucro líquido de R$ 141 milhões, estável na comparação com o terceiro trimestre do ano passado.
O índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) pro-forma ficou em 2,8 vez, mas essa conta ainda não comtemplou o adiantamento de R$ 1,5 bilhão que a Minerva já fez à Marfrig como parte do acordo de R$ 7,5 bilhões para a aquisição de frigoríficos. Com isso, a conta fica perto de 3,5 vezes.
Com o M&A, que ainda depende da aprovação dos órgãos antitruste, a alavancagem pode ficar próxima de 4 vezes, um indicador que a Minerva espera reverter ao longo de um ano.
A Minerva está avaliada em R$ 4,8 bilhões. No ano, as ações caem 38%.