Frigoríficos

Um guia para o mercado de carne na China — USDA vê queda nas importações

Dificuldades na economia devem levar chineses a reduzir importações em 5% no próximo ano e piorar perfil de consumo, diz USDA

O momento difícil pelo qual atravessa a economia chinesa vai afetar o consumo de carne bovina do país no próximo ano, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A China é o principal importador da carne brasileira, respondendo por quase 60% dos embarques. Qualquer soluço no mercado chinês tem impacto direto nos preços da carne, do gado e na estratégia dos frigoríficos.

O USDA divulgou um relatório nos últimos dias sobre como deve se comportar o consumo de proteína animal no gigante asiático no próximo ano. Para a carne bovina, a expectativa é de uma queda de 5% nas importações depois de relativa estabilidade em 2023. Já para a carne suína, o USDA espera um leve aumento de 1%, o que também sugere um enfraquecimento da demanda após a alta de 8% aguardada para este ano. A China também é o principal importador da carne suína do Brasil.

Mercado de carnes na China; produção doméstica pode ganhar participação no consumo em 2024, segundo USDA | Crédito: Shutterstock

As primeiras previsões do USDA para 2024 podem ajudar investidores e interessados no setor a fazer suas apostas sobre a trajetória dos preços de exportação e, como consequência, o desempenho das principais empresas com ações em bolsa.

A seguir, os principais pontos do relatório do USDA:

Beef

As importações de carne bovina devem cair 5%, para 3,32 milhões de toneladas. A demanda deve se manter estável em torno de 11 milhões de toneladas e a produção doméstica pode crescer 3%. Assim, o gap entre oferta e demanda que precisa ser preenchido por importações será menor.

O perfil de consumo deve sofrer um downgrade. É improvável que os chineses aumentem as suas despesas com alimentos mais caros. Com isso, a produção doméstica pode ganhar market share sobre os importados.

Mas a carne importada da América do Sul, mais competitiva, pode se tornar mais popular em restaurantes que servem comida típica chinesa e churrasco. Brasil, Argentina e Uruguai devem continuar dominando as importações, direcionadas principalmente ao food service.

Outro fator que deve influenciar o ritmo de importações é a capacidade financeira dos importadores chineses. Segundo fontes consultadas pelo USDA, os importadores não devem armazenar volumes semelhantes aos do primeiro semestre de 2023, quando os preços estavam mais baixos.

No mês passado, os estoques de carne bovina armazenados pelos importadores, incluindo os carregados desde 2022, ainda estavam elevados. Para recuperar parte de seus investimentos, importadores estão vendendo abaixo do preço de custo, o que tem colocado alguns deles em situação financeira adversa.

Pork

As importações devem subir cerca de 1%, para 2,32 milhões de toneladas em 2024, devido a uma queda na produção doméstica na mesma proporção. O Brasil — ao lado de Espanha, Dinamarca, Holanda, Canadá e Estados Unido — deve continuar entre os principais fornecedores. Para o consumo, a expectativa é de relativa estabilidade em razão do cenário macroeconômico desafiador.

A produção chinesa de suínos deve cair 1% para 695 milhões de cabeças devido a uma redução no número de matrizes em 2023. Baixos preços do animal e da carne suína causaram perdas ao setor de reprodução, com algumas empresas precisando vender animais para fazer caixa e pequenos produtores liquidando rebanhos para sair do mercado.

A persistência de casos de peste suína africana também contribuiu para um sentimento de pânico. Com isso, muitos suínos acabaram sendo abatidos antes de atingir o peso ideal. Desde o início de 2023, o preço do suíno vivo está abaixo dos custos de produção.

O cenário para a peste suína africana não deve mudar no próximo ano, o que deve continuar influenciando o ritmo de abates e peso dos animais, segundo o USDA. Grandes produtores seguirão com seus esforços para verticalizar a produção na tentativa de reduzir custos e ganhar rentabilidade com a presença em toda a cadeia.