Às vésperas do prazo fatal para obter a aprovação das autoridades uruguaias para adquirir três frigoríficos da Marfrig, a Minerva Foods tentou uma última cartada, sugerindo a venda de uma das plantas com a exigência de que a companhia de Marcos Molina não soubesse da nova proposta. Não deu certo.
Em uma decisão publicada no início da noite desta terça-feira, a ministra da Economia e Finanças do Uruguai, Azucena Arbeleche, não só manteve a reprovação da compra das três unidades, que já havia sido decidida pelo órgão antitruste do País, como criticou a postura da companhia dos Vilela de Queiroz.
“São incompreensíveis as reiteradas solicitações da Minerva para que não se comunique à Marfrig a nova proposta apresentada, sob o argumento de que se trata de informação sensível que poderia ser útil para concorrentes, solicitando confidencialidade nesse sentido, quando precisamente a Marfrig é parte da operação e recorrente nos autos”, mostra o documento.
O Ministério da Economia também considerou que a nova proposta da Minerva, formalizada na última sexta-feira (13 de dezembro), era “extemporânea, inoportuna e impertinente”, especialmente por ter sido feita próxima do prazo recursal, que venceu nesta terça-feira.
Mas as autoridades uruguaias parecem ter deixado uma porta aberta para a Minerva tentar obter a aprovação mais uma vez, ainda que não haja qualquer garantia do sucesso — a excessiva concentração dos abates no Uruguai, passando de 43% caso a compra fosse aprovada, parece um entrave difícil de transpor.
Se quiser tentar novamente, a Minerva terá de fazer uma nova solicitação à Comissão de Promoção e Defesa da Concorrência, o equivalente ao Cade uruguaio. Nesse caso, o processo recomeçaria praticamente do zero.
Num fato relevante divulgado agora à noite, a Minerva mencionou a possibilidade. “A companhia está analisando os termos da decisão, assim como avaliando as possíveis medidas e ações legais cabíveis a serem adotadas, inclusive, a reapresentação do caso, conforme sugerido pelas autoridades uruguaias”.
Nesse meio tempo, a aquisição pode ficar ainda mais custosa para a Minerva, considerando os juros embutidos na operação e a demora em obter a aprovação.
Pelos termos do M&A entre Minerva e Marfrig, as três unidades no Uruguai foram vendidas por R$ 675 milhões, e fazem parte parte do acordo maior de R$ 7,5 bilhões que envolveu frigoríficos no Brasil, Argentina e Chile — nos três países, a compra já foi consumada.
Neste momento, o montante relativo ao valor das aquisições no Uruguai está depositado em uma conta garantia (escrow account). Se desistir da operação no país vizinho, o que ainda não está claro, a Minerva poderia reaver a maior parte dos recursos que estão na conta garantia.
Em contrapartida, a Minerva teria de pagar uma multa de cerca de R$ 200 milhões à Marfrig ainda perderia a chance de dominar a indústria frigorífica no Uruguai, com a rival brasileira permanecendo na liderança.