Soja

A estratégia da Petrovina, uma sementeira de R$ 700 milhões

Após inaugurar um novo centro de distribuição em Campo Novo do Parecis (MT), companhia de Carlos Augustin, o Teti, ensaia entrada no mercado de capitais para dar crédito aos clientes

CAMPO NOVO DO PARECIS (MT) | A 13 metros de altura, uma ponte rolante iça 30 milhões de sementes de soja (o equivalente a 5,4 toneladas) para carregar o caminhão que levará a encomenda até a lavoura. O equipamento poupa o uso de empilhadeiras a diesel, evitando calor em um ambiente que precisa de rigoroso de controle de temperatura para preservar a qualidade do grão que domina o Mato Grosso.

Na última sexta-feira, a cena demonstrativa marcava a cerimônia de inauguração do novo centro de distribuição da Petrovina, uma das cinco maiores sementeiras do Brasil, a segunda de Mato Grosso. Criada na década de 1980 por Carlos Ernesto Augustin, o Teti, a Petrovina se movimenta para ter uma posição de destaque num mercado que ainda deve passar por um intenso processo de consolidação.

Com R$ 700 milhões de faturamento, a Petrovina está investindo para ficar mais próxima dos agricultores. “Se tem uma coisa que o agricultor não pode errar, é o dia do plantio. Estraga o ano inteiro dele. Por isso, é bom ter a semente do lado dele. Imagina chover e a semente não chegar ou uma greve de caminhão atrapalhar”, disse Teti, que está afastado do dia a dia da empresa enquanto se dedica ao Ministério da Agricultura como assessor direto do ministro Carlos Fávaro.

A escala da Petrovina

Em Campo Novo do Parecis, o novo centro de distribuição custou mais de R$ 20 milhões. Por um contrato de build to suit com a BDR Construtora, a Petrovina não desembolsou os recursos — vai pagá-los na forma de aluguel ao longo das próximas duas décadas.

Um outro centro de distribuição, nos mesmos moldes, também será erguido em Água Boa, mais ao leste de Mato Grosso. Com isso, a companhia passará a contar com três CDs. A Petrovina também possui um centro de distribuição em Lucas do Rio Verde.

A unidade de beneficiamento de sementes, coração do negócio, fica no município de Pedra Preta, na região da Serra da Petrovina e próxima de Rondonópolis.

Em Pedra Preta, é capaz de beneficiar 2 milhões de sacas de sementes por safra (cerca de 90 mil big bags, a métrica mais usada nesse mercado). O volume de produção efetivo está em 1,5 milhão por safra, mas a ideia é atingir 1,7 milhão na temporada 2023/24.

Novo centro de distribuição da Petrovina Sementes
Novo CD da Petrovina, em Campo Novo do Parecis: ponte rolante carrega seis big bags de sementes até o caminhão | Crédito: Divulgação

Para se ter uma base comparativa, a líder Boa Safra já fatura R$ 1,8 bilhão e caminha para alcançar 240 mil big bags em capacidade de beneficiamento de sementes.

Pelas estimativas da Petrovina, as sementes vendidas pela companhia de Teti chegam a 1 milhão de hectares, o equivalente a 8% da área plantada de Mato Grosso. 

Estrutura de capital

Até hoje, a Petrovina cresceu sem acessar o mercado de capitais. Mas a necessidade de dar crédito aos clientes — 70% das sementes são vendidas diretamente aos agricultores — pode aproximar a companhia dos investidores.

“Temos R$ 80 milhões em crédito direto do nosso balanço”, diz Celso Fugolin, executivo que assumiu como CEO da Petrovina com a ida de Teti para o Ministério da Agricultura.

A companhia já fez algumas conversas com gestores de crédito e casas como BTG Pactual e Pátria, e também mantém parcerias com as agfintechs Agrolend e Creditares, que ajudam a dar funding aos clientes.

Uma das ideias agora é estruturar um CRA da ordem de R$ 60 milhões usando os recebíveis da companhia como lastro, mas outros instrumentos de dívida também estão no radar. O que não passa pela cabeça de Teti é vender a companhia. “Quem vai ficar no mercado de sementes depois da consolidação? Eu vou”, garante.