O processo de redução dos estoques de insumos agrícolas pode, finalmente, chegar ao fim no segundo semestre deste ano, abrindo caminho para uma recuperação das margens nas indústrias e varejistas. A previsão é das grandes corporações globais no setor.
Nos primeiros meses deste ano, os estoques de defensivos nas revendas agrícolas diminuíram em relação a 2023, mas ajustes adicionais são necessários, afirmaram, nas últimas semanas, executivos de empresas como Corteva, Syngenta, FMC e Nutrien. Todos eles relataram menores vendas no primeiro trimestre, um reflexo do esforço dos distribuidores que buscam alcançar (e manter) níveis mais baixos de estoque.
“A mensagem das empresas é a mesma: o processo de ajuste de estoque está em andamento, e o segundo semestre deve ser muito melhor do que o primeiro”, disse Guilherme Palhares, analista do Santander especializado no setor, ao The AgriBiz.
A Corteva apresentou queda de 20% nas vendas no segmento de proteção de cultivos no primeiro trimestre, com o desempenho no País impactando os volumes. “O Brasil ainda está desequilibrado, mas está indo na direção certa”, disse o CEO da Corteva, Chuck Magro, durante a teleconferência de resultados da empresa realizada em 2 de maio. Embora os estoques nos canais tenham diminuído desde dezembro, “o Brasil precisa desabastecer um pouco mais”, acrescentou.
Com a demanda na porteira das fazendas saudável e a área plantada prevista para aumentar durante a safra de inverno do milho e da próxima safra de soja, a Corteva espera que as aplicações de proteção de cultivos aumentem, incluindo produtos biológicos, onde companhia adquiriu uma posição de destaque após a aquisição da Stoller.
“Esperamos que os volumes no Brasil comecem a melhorar no segundo semestre de 2024”, disse o CEO da Corteva.
Preços ‘normalizados’
Os preços dos agroquímicos caíram dos picos observados em 2021 e 2022 devido a interrupções no fornecimento devido à pandemia de Covid-19 e à invasão da Rússia à Ucrânia. À medida que os preços dos insumos agrícolas retornam aos níveis normais e os custos de produção atingem níveis históricos, espera-se que a demanda dos agricultores melhore, permitindo que os estoques dos varejistas, adquiridos a preços elevados, finalmente sejam esgotados.
“Leva mais do que uma safra para as empresas conseguirem resolver essa questão”, disse o analista do Santander.
A FMC, possivelmente a indústria mais impactada pelo desequilíbrio no mercado brasileiro, disse em sua apresentação de resultados, no início deste mês, que o processo de desabastecimento deve estar “bem avançado” até o final do primeiro semestre, melhorando as condições de mercado na segunda metade do ano.
No primeiro trimestre, a receita da FMC na América Latina caiu 20% devido a uma queda de preços “na casa dos dois dígitos” e volumes mais baixos.
“Nossa perspectiva para o ano todo assume que o mercado melhore à medida que o ano avança, mas também considera que os clientes buscarão manter níveis mais baixos de estoque”, disse Mark Douglas, CEO da FMC.
O impacto do desabastecimento dos varejistas nos resultados da empresa desencadeou uma reestruturação nas operações no Brasil, com executivos de alto escalão sendo substituídos nos últimos meses.
Para a Syngenta, os números do primeiro trimestre sinalizaram que a recuperação pode estar próxima. As vendas de pesticidas na América Latina caíram 1%, enquanto na América do Norte houve uma queda de 44% e na Europa, de 28%.
Líder global em distribuição de insumos agrícolas, a Nutrien disse que as margens no varejo devem melhorar no segundo semestre de 2024, com uma recuperação na renda dos produtores de soja em relação aos níveis comprimidos de 2023 e uma maior área plantada —ambos devem suportar uma demanda maior por insumos agrícolas.
A perspectiva também é promissora para a safrinha de milho, com a área plantada ficando acima das expectativas iniciais em meio a condições climáticas favoráveis.
Fertilizantes
A compra “da mão para a boca” define o status do mercado de fertilizantes no Brasil atualmente. Ou seja, produtores e revendas estão adquirindo produtos apenas para suprir necessidades imediatas, com o planejamento para a próxima safra ainda bastante atrasado.
A dinamarquesa Yara, por exemplo, reduziu suas entregas no país em 26% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior. A demanda dos agricultores tem sido fraca até agora, pois os produtores estão focados em pagar (ou renegociar) dívidas da safra 2023/24, a maioria vencendo entre abril e final de maio. Depois disso, se voltarão para o planejamento da safra e encomendas de fertilizantes.
Assim que a questão da dívida for resolvida, será mais fácil entender como será o comportamento da demanda por fertilizantes no Brasil este ano, segundo Palhares, do Santander. “O ritmo das entregas ainda será lento no segundo trimestre”, disse ele.
A Mosaic é otimista: “No Brasil, apesar dos desafios de crédito e liquidez na região, o baixo estoque e uma perspectiva favorável de demanda preparam o cenário para remessas máximas ou quase máximas de fertilizantes em 2024”, disse a empresa em seu comunicado de resultados.
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