Depois de ser surpreendida pelos impactos do El Niño no primeiro trimestre da safra 2023/24, a Lavoro indicou que o pior pode estar (finalmente) ficando para trás, um alívio para o segundo semestre do ano-agrícola.
Na teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre, realizada ontem à noite, o CEO Ruy Cunha tranquilizou os analistas sobre as expectativas para o restante da safra, que está na metade.
“Nossa perspectiva é até um pouco melhor do que imaginávamos [no trimestre anterior]”, afirmou o executivo da rede de revendas controlada pelo Pátria.
Durante a call, Cunha também abordou os impactos dos pedidos de recuperação judicial de agricultores no Brasil, em resposta a um questionamento de Bobby Burleson, analista da Canaccord.
Para o CEO da Lavoro, o crescimento dos pedidos de RJ se deu sobre uma base muito pequena, embora seja necessário acompanhar a extensão do problema. Na companhia, no entanto, ele está seguro com as provisões que já fez.
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“Na Lavoro, acho que todos os efeitos negativos sobre provisões para perdas com créditos já estão contemplados. Não muda nossa perspectiva”, afirmou Cunha. No balanço do segundo trimestre da safra, a Lavoro provisionou cerca de R$ 50 milhões para potencial perdas por inadimplência (especialmente no Brasil).
Na Nasdaq, os investidores não querem pagar para ver. Nesta sexta-feira, as ações da Lavoro caem mais 4%.
Safrinha melhor
Na avaliação de Cunha, o clima veio um pouco melhor do que o esperado para o plantio da safrinha. “Isso significa que a janela de plantio melhorou comparado ao que esperávamos originalmente”.
Em janeiro, os executivos da Lavoro haviam sinalizado que o clima desfavorável para o plantio da safrinha estava afetando a decisão dos agricultores em Mato Grosso, resultando em redução do pacote tecnológico — o que piora o mix de vendas de sementes, um dos insumos que mais gera margem para as revendas agrícolas.
Agora, com o clima melhor do que o esperado, há alguma chance de vendas de insumos de última hora para a safrinha, conjecturou o CEO da Lavoro. O volume, no entanto, é difícil de prever.
A deflação dos defensivos
No balanço do quarto trimestre, a Lavoro mostrou que a deflação dos defensivos agrícolas e fertilizantes — combinada ao processo de redução dos estoques — ainda pesou sobre os resultados.
No trimestre fechado em dezembro, o Ebitda da Lavoro caiu 54% na comparação anual, saindo de R$ 403,3 milhões no segundo trimestre da safra 2022/23 para R$ 186,8 milhões. Com isso, a margem caiu pela metade, de 12,8% para 6,6%.
Numa leitura sequencial, a Lavoro destacou o copo meio cheio. “As margens brutas registraram uma tendência notável de melhora”, escreveu a companhia. Enquanto no primeiro trimestre da safra a margem bruta havia caído mais de 10 pontos percentuais, no segundo trimestre a queda foi de apenas 2,6 pontos.
“A melhora foi mais evidente em defensivos e fertilizantes, à medida em que os preços dos insumos aos agricultores se estabiliza e nosso custo continua melhorando com o ajuste dos estoques”, destacou a Lavoro.
Diante dos sinais de melhora, Cunha conseguiu manter as previsões dadas ao mercado em janeiro para o restante do ano.
Na safra 2023/24, a Lavoro projeta que a receita fique entre US$ 2 bilhões e US$ 2,3 bilhões, com um Ebitda entre US$ 80 milhões e R$ 110 milhões. No ponto médio da faixa, isso implica em uma margem de 4,4%.
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Listada na Nasdaq, a Lavoro está avaliada em US$ 748 milhões. Em doze meses, as ações caem 26,8%.