Revendas

Na virada do ciclo do gado, Agro Amazônia resgata raízes na pecuária

Rede de revendas controlada pela Sumitomo vê alta de até 15% nas vendas de produtos para pecuária e investe para aproveitar o bom momento do setor

Confinamento em São Paulo

Nem parece, mas há 40 anos a Agro Amazônia nasceu como uma revenda de pecuária em Mato Grosso. A Casa Tordon, como a rede ficou conhecida na época, rapidamente conquistou os produtores locais e diversificou os negócios, entrando também na agricultura em meio à rápida expansão da soja no Estado.

Durante essas quatro décadas, a pecuária ficou mais tímida dentro da companhia — hoje, responde por apenas 15% do faturamento da rede de revendas controlada pela japonesa Sumitomo. Mas, em 2024, uma volta às origens começa a ser desenhada com investimentos e contratações. 

O objetivo não é abandonar a agricultura, mas sim aproveitar a oportunidade de crescimento que o segmento traz. “Vislumbramos uma previsão de crescimento de 12% a 15% por ano em faturamento (na pecuária)”, explica Bernardo Veras, gerente de Negócios da Agro Amazônia, ao The AgriBiz.

Para chegar lá, a revenda investe desde o início do ano para fortalecer equipes ligadas ao segmento e criou uma diretoria ligada à pecuária. A equipe de vendedores ficou maior e a identidade visual das lojas tem mudado, pouco a pouco, para incluir a pecuária, um ponto já contemplado nas unidades recém-inauguradas.

Mesmo com todas essas mudanças, o número de vendedores de produtos para a pecuária (cerca de 150) ainda é bem menor do que o da agricultura (mais de 350). A maior parte da força de vendas está no Mato Grosso, mas a empresa também está trabalhando para ganhar espaço no Pará, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás e Maranhão.

“Fizemos essas mudanças para colher os frutos no ciclo de 2025 para 2026, com a tendência de virada de ciclo pecuário. Mas isso foi antecipado devido a vários motivos, como falta de matéria-prima, mercado de carne aquecido e exportação crescente”, diz Veras. “Se tiver abertura ao Japão, então, o mercado vai crescer ainda mais.”

Bucando o cliente ‘no laço’

Na prateleira de produtos para a pecuária, a Agro Amazônia planeja lançamentos em herbicidas de pastagem e semente de forrageira, por exemplo. Além disso, o segmento de nutrição animal, um ponto feito de forma própria pela revenda, tem sido fortalecido com produtos e inovação de tecnologia disponível no mercado.

Com o preço da arroba do boi gordo no patamar de R$ 300, alcançado nesta quinta-feira segundo o indicador Cepea/B3, o pecuarista voltará a investir, na visão de Veras. “Nos últimos dois anos, ele não investiu. Estamos olhando para lucratividade com aumento de vendas e produtos que agregam valor”, afirma.

Para chegar ao pecuarista, a Agro Amazônia aposta no relacionamento com os produtores, fornecendo assistência para fidelizar clientes. A estratégia resultou no LucrAA, um projeto de incentivo a práticas agropecuárias sustentáveis. Em sua terceira edição neste ano, fazendas selecionadas recebem assistência técnica durante oito meses. Nesse período, são realizados quatro encontros: o primeiro para mostrar a situação atual da fazenda, outros dois de acompanhamento e o último de resultados. 

“É um programa exclusivo da Agro Amazônia focado na produção de arroba barata com iniciativa na integração de tecnologia sustentável para pecuaristas de diversas regiões do país”, resume Veras. Totalmente gratuita, a consultoria traz, indiretamente, um aumento de vendas para a Agro Amazônia. Se um pecuarista comprava só fertilizante, tende a adquirir produtos de outras categorias.

Ganhos de produtividade

Nas duas primeiras edições, os pecuaristas tiveram margem operacional por hectare de R$ 2.082, mais do que o triplo da média de propriedades brasileiras, usando como base os dados do Cepea, que apontam de R$ 550 por hectare. Um retorno conquistado com um método que não envolve adubos químicos ou potencializadores de crescimento de pastagem foi aplicado em 15% da área de cada propriedade, beneficiando aproximadamente 30% do rebanho.

Considerando 128 dias (período de fase das águas que proporciona ótimo aproveitamento do pasto), o método do LucrAA registrou uma produtividade média de 13,74 arrobas por hectare, ante a média de 7,2 arrobas por hectare no País. Além disso, um custo médio por arroba de R$ 68,3, ante a média nacional de R$ 175, considerando dados do Cepea. 

Os possíveis candidatos a participar do programa são selecionados pelas equipes de vendas da Agroamazônia nas cidades selecionadas a cada edição e o programa só é implementado com o aval do pecuarista. Pelo menos 20 pecuaristas participam do LucrAA.

Neste ano, a região escolhida é Guarantã do Norte (MT). O processo de seleção já começou, num projeto que deve começar a ser implementado até novembro. A primeira edição aconteceu em Rondonópolis, em 2022, e a segunda edição aconteceu simultaneamente em Jussara (GO), Barra do Garças (MT), Cáceres (MT), Alta Floresta (MT) e Campo Grande (MS).