Balanço

Por que os defensivos ainda ofuscam o brilho da Corteva

Preços baixos e alta competição fizeram a gigante de insumos cortar as perspectivas de Ebtida, apesar dos bons resultados em sementes

Fachada da Corteva | Crédito: Schutterstock

A dificuldade em controlar o estoque global de defensivos agrícolas continua arranhando os resultados das gigantes globais de insumos. Nem mesmo a Corteva, a companhia que melhor atravessa as turbulências graças à fortaleza do negócio de sementes nos EUA, conseguiu passar ilesa.

No balanço divulgado no início da noite, a Corteva cortou ligeiramente as projeções para o faturamento e o Ebitda em 2024, um reflexo da competição ainda agressiva e dos preços baixos no mercado global de defensivos agrícolas.

Inicialmente, a companhia esperava fazer uma receita líquida na faixa entre US$ 17,4 bilhões e US$ 17,7 bilhões. Agora, a expectativa é encerrar o ano entre US$ 17,2 bilhões. No ponto médio da faixa, a redução foi de 1,1%. No Ebitda, o guidance foi cortado em 2,7%.

A reação inicial do mercado foi negativa. No after market, as ações da Corteva chegaram a cair mais de 5%. Ao longo dos últimos meses, no entanto, a companhia criada a partir da fusão entre Dow e DuPont faz inveja à concorrência.

Enquanto as ações de Bayer e FMC caem perto de 40% em um ano, a Corteva ficou estável e, quando se considera só o desempenho dos papéis ao longo deste ano, a companhia se valorizou 17%, um feito.

Na bolsa, a Corteva está avaliada em US$ 39 bilhões.

Os defensivos, de novo

Embora venha colhendo resultados impressionantes no negócio de sementes, a área de defensivos tem sido um detrator dos resultados. No segundo trimestre, por exemplo, a área amargou uma queda de 20% no Ebitda.

“O ambiente de preços competitivos e a inflação de custos estão mais do que anulando as economias de produtividade e o crescimento de volume”, escreveu a Corteva, no comunicado que acompanha o balanço.

Um alento para o negócio de defensivos agrícolas talvez seja, justamente, o crescimento do volume de vendas – apesar do preço baixo. No trimestre, o volume de vendas de defensivos da Corteva aumentou 6%, com a América Latina (e o Brasil, por óbvio) entregando um crescimento de 11%.

O problema é que, enquanto os preços seguirem deprimidos, a rentabilidade da companhia seguirá sob pressão. Ao que indica, restaurar a relação entre oferta e demanda no mercado de defensivos vai levar mais tempo do que se imaginava. Num resultado também divulgado hoje, a FMC transmitiu uma mensagem parecida.

Sementes, a joia da Corteva

Enquanto ainda recalibra a velocidade de recuperação do negócio de defensivos agrícolas, a Corteva não tem do que reclamar na área de sementes. No segundo trimestre, a divisão reportou um Ebtida de US$ 1,7 bilhão, um salto de 16% na comparação anual.

“A execução de preços, a redução das despesas com royalties e as ações para melhorar produtividade e custos estão mais do que compensando os investimentos em P&D”, justificou a companhia.

Na área de sementes, a América do Norte é disparada a principal região de atuação da Corteva, representando 86% do negócio. Em defensivos, a balança geográfica é mais equilibrada, com América do Norte ficando com 35% e América Latina com 19% do total.

Globalmente, a área de sementes da Corteva representa 70% do negócio. Regionalmente, a América do Norte faz 65% da receita.

No segundo trimestre, a Corteva lucrou US$ 1 bilhão, um resultado bem superior aos US$ 717 milhões reportados um ano antes e acima do que os analistas esperavam. Não fosse a perspectiva menos otimista para os defensivos, a reação inicial do mercado muito provavelmente seria outra.