Alimentos

JBS bate o consenso — Seara, enfim, começa a entregar

Depois de um período abaixo dos níveis esperados pela diretoria, companhia dos irmãos Batista surpreendeu com um Ebitda de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre

Frango da Seara

Depois de um raro ano em que a diversificação geográfica e de proteínas da JBS não mostrou sua razão de ser, a companhia dos irmãos Batista virou o jogo em 2024, batendo o consenso dos analistas por boa margem no primeiro trimestre.

No balanço que acaba de divulgar, a JBS veio com um Ebitda de R$ 6,4 bilhões, mais de 20% acima do consenso Bloomberg — os analistas projetavam, em média, R$ 5,1 bilhões.

É também um resultado em muito superior ao registrado no primeiro trimestre do ano passado, quando a JBS amargou dificuldades em praticamente todas as divisões de negócios e entregou um Ebitda de apenas R$ 2,1 bilhões.

O bottom line também ficou acima das expectativas. De janeiro a março, a JBS fez um lucro líquido de R$ 1,6 bilhão, enquanto o consenso projetava R$ 1,1 bilhão. Um ano atrás, a companhia teve um prejuízo de R$ 1,4 bilhão.

Pela primeira vez em muitos trimestres, a Seara surpreendeu positivamente, mostrando os resultados das medidas de reestruturação iniciadas em meados em meados do ano passado e, é claro, dos grãos mais baratos.

“A Seara estava muito abaixo do potencial. Ainda está abaixo do que pode fazer, mas consideramos que colocamos nos trilhos. Agora, é acelerar”, disse Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em entrevista ao The AgriBiz.

No trimestre, os negócios de frango e alimentos processados (Seara, no Brasil, e Pilgrim’s Pride, nos Estados Unidos e Europa) ajudaram a engordar as margens consolidadas da JBS, minimizando o ciclo negativo da pecuária que afeta as operações de carne bovina nos EUA.

Globalmente, a margem Ebitda da JBS ficou em 7,2%, saltando 4,7 pontos na comparação anual. Na Seara, as margens se recuperaram impressionantes 10,2 pontos, atingindo 11,6%. Listada na Nasdaq, a Pilgrim’s já havia divulgado o balanço trimestral, com margem de 8,5% (salto de quase 5 pontos).

Mesmo na operação de carne bovina americana, que vem sendo penalizada pela severa restrição de gado — algo que está longe de melhorar —, os resultados melhoraram. No trimestre, a margem Ebitda da JBS USA North America ficou em 0,2%, saindo do terreno negativo.

“Vai levar um tempo ainda para que esse negócio se normalize. Mas é aí que está o valor da nossa diversidade. Empresas que não têm plataforma ficam muito mais dependentes de um negócio que tem ciclo. Para nós, se está ruim nos EUA, no Brasil está bem forte. Na Austrália, da mesma forma”, argumentou Tomazoni.

Alavancagem em queda

A diversidade geográfica também começa a se traduzir na estrutura de capital. Depois de atingir o pico em 2023, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da JBS começa a cair e, ao que tudo indica, vai ficar perto de 2,5 vezes ao fim de 2024, um nível confortável que preserva o grau de investimento da companhia. No fim de março, a alavancagem da JBS atingiu 3,7 vezes em reais, abaixo das 4,32 vezes reportadas em dezembro.

Se conseguir uma margem Ebitda de 7,5% ao longo dos próximos trimestres, o que é factível considerando a sazonalidade (o primeiro trimestre é geralmente o mais fraco do ano), a JBS reduziria a alavancagem para algo próximo de 2,5 vezes. A meta da companhia é ficar entre 2 e 3 vezes.

De olho na estrutura de capital, a JBS vem reduzindo a dívida bruta. No trimestre, foram mais de R$ 650 milhões armortizados. “Vamos continuar fazendo esse movimento de pagar dívida bruta no segundo trimestre”, adiantou Guilherme Cavalcanti, CFO da companhia.

Aos poucos, a melhora na estrutura de capital vem se refletindo. No mercado secundário, o spread sobre os títulos do Tesouro americano pagos pelos bonds da JBS diminuiu em comparação a concorrente americana Tyson Foods. A diferença, que estava em 0,75 ponto em março, passou para 0,45 ponto.

Quando a listagem na bolsa de Nova York se completar, a JBS pode reduzir ainda mais essa diferença. Estruturalmente, a plataforma da companhia dos irmãos Batista é mais resiliente do que a Tyson, um negócio ainda muito dependente dos Estados Unidos.

Para completar a listagem nos EUA, a companhia brasileira ainda aguarda o sinal verde da SEC, a xerife do mercado de capitais americano. Depois disso, precisa convocar uma assembleia de acionistas para apreciar a proposta.

Nesta terça-feira, Tomazoni reiterou a expectativa da JBS para a listagem em Nova York. A ideia é concluir a operação neste ano.

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Na B3, a JBS está avaliada em R$ 55,7 bilhões. Em doze meses, os papéis sobem 55%.