Prestes a se tornar uma companhia centenária, a Kepler Weber vai incluir uma nova linha de receita em seu modelo de negócios: o aluguel de silos. O plano, ainda em gestação, é estruturar um fundo imobiliário de R$ 500 milhões, contou Diego Wenningkamp, diretor de implantação de projetos e serviços digitais, ao The AgriBiz.
“Esse é o primeiro round do que queremos fazer com esse fundo. Já temos compromissos antecipados”, sinalizou o executivo, indicando que o veículo pode ficar maior ao longo do tempo.
Segundo Wenningkamp, a Kepler Weber está em tratativas finais com a gestora que deve administrar o veículo, em princípio, um fundo fechado. As conversas vem ocorrendo desde primeiro semestre do ano passado.
A lógica da operação é simples de entender. Na prática, o fundo imobiliário fará o aporte para a construção do silo — comprando o material da Kepler Weber — e receberá um aluguel periódico de um cliente indicado pela companhia de logística.
Os contratos de arrendamento devem ser longos, entre 10 e 20 anos. O cap rate (o retorno de capital do imóvel, de maneira simples) deve ficar entre 8% e 10%, calculou Renato Arroyo, diretor financeiro e de RI, durante o Kepler Day, encontro com analistas e investidores realizado durante a manhã no prédio da baleia, na Avenida Faria Lima.
Ao fazer o meio de campo entre o cliente interessados na capacidade de armazenagem e o fundo, a Kepler Weber ficará com uma comissão do aluguel (um modelo similar a um ‘rebate’ do fundo) ao mesmo tempo em que prestará serviços de manutenção.
Nesse modelo, a Kepler terá três fontes de receita: a venda do equipamento em si — da mesma forma como já faz hoje – o rebate do fundo e o taxa de manutenção.
“Vamos capitalizar a nossa posição única no mercado. Temos uma experiência de quase 100 anos, mais de mil negócios sendo fechados por ano, mais de 100 engenheiros e, só nesse momento, temos 294 obras em andamento. É um conjunto que nos traz muita confiança”, afirmou Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber, durante o evento.
Para o modelo ser viável, as unidades construídas sob esse formato precisam ter escala. São unidades de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões de custo total, o que se reflete numa capacidade de 500 mil sacas e de 1 milhão de sacas, respectivamente. Para referência, a companhia comercializa hoje unidades a partir de R$ 3 mil.
A principal região considerada para esse empreendimento é o Mato Grosso, com esse formato sendo oferecido a clientes de grande porte da Kepler Weber. O racional do negócio é oferecer o produto a clientes que precisam de capacidade de armazenamento, mas não querem onerar o próprio balanço.
“Cerealistas, tradings e grandes grupos agrícolas são nosso principal foco. Nesse grupo, tradings multinacionais têm nos procurado, por questões de opex e capex em que alugar funciona melhor do que o investimento”, afirmou Nogueira.
Outras alternativas
Além do modelo de aluguel, a companhia também estuda contratos de leasing — em que o cliente paga pelo ativo em moldes similares ao da locação, mas, no final, fica com o ativo. Neste cato, ainda são planos de médio prazo.
“Avaliamos leasing, mas não descartamos. Também pode parar de pé. Mas, por enquanto priorizamos a construção de unidades independentes, com contratos de longo prazo”, explicou Nogueira.
No formato mais tradicional, de compra de silos, a companhia tem um fundo de R$ 300 milhões com o BTG Pactual, que já teve R$ 40 milhões emprestados a clientes que queriam adquirir um silo.
Segundo Arroyo, as alternativas privadas vem ganhando forma à medida em que o PCA, linha de crédito do governo federal para investimento em armazenagem, ainda não ganhou tração.