
Os protagonistas da revolução da pecuária leiteira deram mais uma prova do potencial brasileiro para se transformar em uma potência do leite.
Além de quintuplicar a produção desde o início deste século, os maiores produtores de leite do País registraram o maior crescimento anual em mais de duas décadas em 2024, um sinal de que os ganhos de produtividade ainda podem ir longe.
No ano passado, os 100 maiores produtores de leite do Brasil aumentaram a produção média diária em 13,3% (um crescimento de fazer inveja à China), alcançando 32,5 mil litros. Os dados fazem parte do tradicional levantamento realizado pela MilkPoint Ventures em parceria com a Abraleite (Associação Brasileira dos Produtores de Leite).
Em apenas um ano, a produção dos cem maiores aumentou em 100 milhões de litros de leite, levando a oferta total desse grupo para 1 bilhão de litros comercializados em 2024, o que representa 5% da produção formal de leite no Brasil.
Nessa lista, despontam alguns velhos conhecidos. A Fazenda Colorado, um colosso encravado em Araras (SP), liderou o ranking dos 100 maiores pela décima segunda vez consecutiva. Dona da marca de leite Xandô, a companhia produziu 36,2 milhões de litros no ano passado, o equivalente a 98,9 mil litros por dia.
“Mais do que saber que são os 100 maiores, o que desperta curiosidade, muito mais interessante é analisar a transformação que vem acontecendo na cadeia do leite com o passar dos anos”, disse Marcelo Carvalho, CEO da MilkPoint Ventures, ao apresentar os dados do levantamento em um painel online que reuniu alguns dos maiores produtores do País.
Em 2001, quando o primeiro levantamento foi realizado pela MilkPoint, bastavam 3,4 mil litros por dia para figurar entre os 100 maiores produtores de leite do Brasil. Atualmente, o centésimo maior produtor — Ovídio Soares Vilela, um pecuarista da mineira Piumhi — faz 16,7 mil litros de leite por dia, em média.
O salto da produção de um contingente de produtores que talvez seja a elite do leite no Brasil não ocorreu por acaso.
“Só existe uma resposta para esse crescimento. É o investimento. Todo mundo está investindo em tecnologias, em novidades, em expansão e intensificação da atividade”, avaliou Roberto Jank, vice-presidente da Abraleite e diretor da Agrindus — a sexta maior produtora de leite do País.
Mas investir custa dinheiro, o que ainda ajuda a explicar porque o sucesso da elite do leite ainda não se espraiou por todo o espectro de produtores do País — incluindo os de pequeno e médio porte.
Para Jank, os maiores produtores conseguiram crescer porque possuem acesso a crédito nos bancos para investir em tecnologia, mas essa nem sempre foi a realidade de toda a cadeia.
“Por que o leite não participou da festa da soja, do café, da laranja, e das carnes? Porque não tinha bancabilidade. Mas acho que isso é uma coisa que ao longo dos tempos vai ficando mais acessível para outros produtores”, disse o diretor da Agrindus.
Com mais acesso a crédito — que pode vir do bancos tradicionais ou mesmo do mercado de capitais —, a cadeia do leite pode acompanhar a transformação que ocorrendo no grupo dos maiores do País.
“O desempenho das propriedades do Top 100 está muito acima da média nacional, indicando que os maiores produtores têm sido protagonistas na modernização e expansão da pecuária leiteira”, apontou o levantamento da MilkPoint.
Para se ter uma ideia das oportunidades para melhorar a produção dos pequenos e médios, basta comparar o ritmo de crescimento desde 2001. Enquanto a oferta dos 100 maiores aumentou 400%, a produção total no Brasil (formal e informal) aumentou apenas 76,3%, segundo estimativa da MilkPoint Mercado.
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Entre 15 de 16 de maio, a MilkPoint realiza o MilkPro Summit, um evento em Atibaia (SP) que vai reunir os maiores produtores de leite, grandes laticínios e especialistas para discutir as oportunidades e o futuro da pecuária leiteira no Brasil.
O encontro quer disseminar informações e estimular o crescimento da atividade, mostrando que os ganhos de produtividade dos maiores podem ser espraiar por todo a cadeia.