O mercado de distribuição de insumos agrícolas está voltando à normalidade. A queda livre nos preços de defensivos e fertilizantes foi interrompida e os altos estoques nas revendas estão quase equacionados. No próximo ano, será possível ver um processo de recuperação de margens no setor. A análise é de Ruy Cunha, CEO da Lavoro, a maior empresa de distribuição de insumos do País.
“Já vemos uma tendência de estabilização e recuperação nos preços de fertilizantes e agroquímicos. Vemos isso nos nossos fornecedores e isso vai chegar na ponta”, Cunha disse em entrevista ao The Agribiz, após divulgar os resultados do ano fiscal 2023 e um guidance para 2024.
Ao reportar os resultados, a Lavoro considera como ano fiscal o mesmo período do ano safra, ou seja, ele começa em julho e termina em junho do ano seguinte. Na safra 2023-24, a receita líquida da Lavoro subiu 24%, para US$ 1,8 bilhão. O Ebitda ajustado foi de US$ 150 milhões, um aumento de 64% em relação ao ano anterior, com a margem Ebitda atingindo 8,3% ante 6,3% na mesma comparação. No quarto trimestre, a margem atingiu apenas 0,9%.
“As margens devem começar a melhorar nos próximos meses. Já enxergamos isso na nossa carteira de pedidos”, afirmou o CEO.
A companhia espera um crescimento de até 28% na receita e de 11% no Ebitda ajustado em 2024, considerando a banda de cima das estimativas. O CEO da Lavoro vê um “crescimento saudável e importante de volume”, o que compensará parcialmente os preços mais baixos da primeira metade do ano safra. Mesmo assim, as estimativas mais otimistas da companhia sugerem uma margem Ebitda cerca de 1 ponto percentual menor do que registrada em 2023.
No segmento de varejo, os contratos de barter estão ganhando força à medida que os produtores buscam mais formas de financiar os custos e se proteger de quedas de preço. Segundo ele, modalidades de barter exclusivas da Lavoro podem ajudar a companhia a ganhar market share, hoje em torno de 10% do mercado brasileiro.
Outro efeito positivo das operações de barter é o menor risco de inadimplência, pois o pagamento pelo produtor à revenda é feito em grãos, como ponderou o CFO da Agrogalaxy, Eron Martins, em entrevista recente ao The Agribiz.
Estoques
A expansão prevista para o próximo ano ainda está abaixo da média histórica da Lavoro devido ao cenário desafiador nesta primeira metade do ano safra 2023-24. Mas, na segunda metade da temporada (a partir de janeiro), o jogo deve começar a mudar, o que explica o otimismo.
“Ainda devemos ver algum reflexo do excesso de estoques nos próximos meses, mas eles já estão a caminho da normalização”, disse Cunha. Para o CEO da Lavoro, as revendas vão concluir o processo de ajuste até o final de 2023. “Em janeiro, fevereiro ou março de 2024, os estoques devem estar normalizados”, afirmou.
O elevado nível de estoques no varejo agrícola acentuou a queda de preços dos insumos, que também está relacionada a uma desvalorização no preço dos grãos e do retorno à normalidade da cadeia global de suprimentos depois dos impactos da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia.
“Há cerca de dez anos, tivemos uma queda importante nos preços do milho e da soja. Também vimos uma queda relevante nos insumos. O movimento atual é similar, mas muito mais acentuado por causa do ponto de onde ele começou”, afirmou Cunha, relembrando as máximas registradas em 2022.
A retração no preço do glifosato, em 12 meses, é de 65% e de quase 60% no caso dos fertilizantes fosfatados. “E entre a revenda e o cliente ainda tem o estoque, um outro componente que torna o cenário ainda mais difícil de prever”.
Safrinha
O cenário desafiador neste segundo semestre também tem origem no atraso da comercialização de insumos para a segunda safra. Além da queda na rentabilidade do cultivo e venda do milho, o atraso no plantio de soja colocou mais pressão sobre os produtores, que terão uma janela mais apertada para plantar e colher a safrinha.
“É muito cedo ainda para dizer como serão as vendas da safrinha porque o mercado está muito represado”, disse Cunha, que não espera um recuo relevante na área plantada com as culturas de inverno.
Biológicos
Para 2024, a expectativa continua sendo positiva com a Crop Care, unidade de negócios da Lavoro que compreende os segmentos de biológicos, fertilizantes foliares e a importação de químicos. A unidade, de margens mais altas, vem aumentando a sua representatividade na companhia principalmente devido ao avanço nas vendas de biológicos. No ano passado, a Crop Care representou 19% do Ebitda da Lavoro, mais que dobrando em relação ao ano anterior, ressaltou Cunha.
Apesar de também identificar um atraso nas vendas de biológicos, da mesma forma como acontece no mercado em geral, o consumo desses produtos continuará crescendo devido a uma tendência estrutural, avalia Cunha. “Há uma demanda relacionada ao tema da sustentabilidade, resistência de pragas e aumento da produtividade. Isso não vai mudar”.
Aquisições
No release de resultados divulgado na manhã desta quarta-feira, Cunha escreveu que a Lavoro está numa posição única para “capitalizar no atual momento do mercado”. Ao The Agribiz, disse que a companhia continuará ativa em M&As e que está com um pipeline muito forte de aquisições. “Estou com o time bem ocupado olhando targets”.
O caixa da Lavoro mais que dobrou na safra passada, saltando de R$ 254 milhões para R$ 564 milhões. As ações da companhia caíram 47% nos últimos 12 meses na Nasdaq, onde vale US$ 594 milhões.