A Marfrig voltou a bater os principais concorrentes no terceiro trimestre, mostrando que a estratégia de buscar mais produtos industrializados pode ser um diferencial para reduzir o peso das margens mais apertadas no negócio de carne bovina nos Estados Unidos, que deve seguir assim pelo menos até 2025.
Se a recuperação da BRF se consolidar em 2024, como os últimos resultados vêm apontando, a companhia de Marcos Molina pode até suplantar os efeitos negativos do ciclo da pecuária nos EUA — que afetam a National Beef.
Na última linha do balanço, a recuperação da BRF será fundamental para a empresa de Marcos Molina voltar ao azul. Neste último trimestre, a dona da Sadia atingiu o breakeven, algo que não fazia há bastante tempo, mas ainda não lucrou.
No balanço que acabou de divulgar, a Marfrig apresentou um prejuízo de R$ 112 milhões, o que reflete basicamente o prejuízo da BRF, na qual a companhia detém o controle de 47% das ações. Não fosse isso, o resultado seria positivo.
Batendo os pares (e o consenso)
Em entrevista a jornalistas, executivos da Marfrig destacaram o desempenho da companhia na comparação com a concorrência. Assim como já havia ocorrido no segundo trimestre, a empresa apresentou um desempenho de margem superior à Minerva, Tyson e JBS.
“Novamente, a Marfrig opera acima dos pares”, ressaltou Tang David, diretor financeiro da companhia.
Em carne bovina na América do Sul, por exemplo, a Marfrig registrou uma margem de 11,6%, enquanto a Minerva fez uma margem de 10,1%.
Excluindo da conta as 16 unidades que foram vendidas à concorrente, mas que ainda dependem de aprovação dos órgãos antitruste, a margem da Marfrig na América do Sul seria ainda maior, de 14,4%, disse Rui Mendonça, CEO da companhia.
Na América do Norte, onde opera com a National Beef, a Marfrig registrou uma margem de 4,4%, acima dos 1,6% da JBS USA Beef. O negócio de carne bovina da americana Tyson também teve um resultado operacional praticamente zerado. “A National Beef é uma geradora de caixa”, disse David.
Na BRF, os resultados também ficaram acima da Seara. Enquanto a dona da Sadia fez uma margem Ebitda consolidada de 9% — e 11,9% no Brasil, a companhia da JBS registrou uma margem de 5,5%.
Nos resultados operacionais, a Marfrig também bateu o consenso dos analistas para receita líquida e Ebitda. Considerando só as operações de bovinos (América do Sul e do Norte), a receita da Marfrig ficou em R$ 21,8 bilhão, 7,5% acima da média das estimativas dos analistas de BofA, XP, Itaú BBA, BTG, Safra, Morgan Stanley, Santander e Barclays. Em Ebitda, a Marfrig superou as projeções do sell side em 5,5%, chegando a R$ 1,2 bilhão.
Geração de caixa
Com os custos mais baixos do gado no Brasil, a Marfrig também conseguiu liberar capital de giro, um movimento que já havia contribuído com os resultados da Minerva.
No terceiro trimestre, o fluxo de caixa operacional da companhia ficou em R$ 3,7 bilhões, já excluindo da conta o adiantamento de R$ 1,5 bilhão que a companhia recebeu pela venda dos ativos à Minerva.
Ao todo, o fluxo de caixa livre ficou em R$ 1,9 bilhão. A conta poderia ser ainda melhor se a companhia não tivesse desembolsado R$ 1,4 bilhão para aumentar a posição na BRF.
De qualquer forma, os resultados ajudaram a Marfrig a reduzir marginalmente o índice de alavancagem. Em setembro, o indicador (relação entre dívida líquida e Ebitda) ficou em 3,91 vezes, uma leve melhora sobre as 4,05 vezes do fim de junho.
Incluindo os R$ 6 bilhões que vai receber quando concluir a venda dos ativos à Minerva, a alavancagem cairia para 3,21 vezes.
Em bolsa, a Marfrig está avaliada em R$ 7,2 bilhões. No ano, os papéis caem 9%.