“Mais uma rodada de números de exportação decepcionantes”. A frase veio de um recente relatório de Gustavo Troyano, do Itaú BBA, sinalizando um tema que tem preocupado os investidores de frigoríficos quase que semanalmente. Toda segunda-feira, os dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior mexem com os preços das ações da Minerva Foods, para a incredulidade do diretor financeiro Edison Ticle.
“Quem está olhando só a Secex e operando as ações, que é o que tem acontecido semanalmente, está gerando oportunidade para quem está olhando o negócio mais estrutural, saindo do curto prazo. Esse dado da Secex é misleading”, vem repetindo o executivo, por enquanto sem ser ouvido.
Em entrevista concedida ao The Agribiz antes de entrar no período de silêncio que precede o balanço, Edinho — como o executivo de fala direta é conhecido na Faria Lima — e Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva, reafirmaram a visão construtiva para a demanda da China, mercado responsável por 50% das exportações da Minerva.
Recuperação gradual
Ao contrário do que os números da Secex talvez indiquem, a demanda do país asiático está melhorando, disse o CFO da Minerva. “Na China, os preços estão subindo”. Ele também minimiza a preocupação com o ritmo da economia chinesa. “Se você olhar os números de China, que causaram muita incerteza, ainda é de 6%, mesmo que o crescimento tenha frustrado”.
A Minerva trabalha com um cenário de recuperação gradual dos preços e do volume de exportações, com o pico neste terceiro trimestre. “No segundo trimestre, você já observa uma melhora em relação ao que teve no início do ano”, disse ele. Durante quase todo o primeiro trimestre, os frigoríficos ficaram fora do mercado chinês devido à restrição causada pelo caso atípico do mal da vaca louca.
As exportações brasileiras de carne bovina para a China caíram 29% em receita no primeiro semestre deste ano, enquanto o volume recuou 4,6%, o que é bem razoável considerando o primeiro trimestre perdido. Em junho, os embarques dispararam, aumentando 33% na comparação anual, mas preço médio ainda está quase 30% mais baixo, segundo os dados consolidados da Secex.
Demanda chinesa
Na leitura de Ticle, a preocupação dos investidores de Minerva com a demanda da China abre, na verdade, uma oportunidade para quem conhece o negócio de carne bovina estruturalmente.
“Acho que as ações têm potencial para ir melhor do que a média da bolsa porque nosso caso chinês é muito sólido. Acho que não está precificado um crescimento mais robusto de China”, afirmou o executivo.
O ciclo da pecuária também joga a favor da Minerva. “A oferta de gado no Brasil é super positiva, e isso num momento em que os EUA estão num ciclo reverso e com pouca chance de recuperação”, disse Galletti.
Entre os frigoríficos listados, a Minerva é de fato a mais exposta ao momento positivo do ciclo pecuário no Brasil. Nas rivais Marfrig e JBS, o negócio americano tem um peso muito maior.
Mesmo assim, no acumulado do ano as ações da Minerva caem 23%, enquanto o Ibovespa sobe 9%. A companhia controlada pela família Vilela de Queiroz está avaliada em R$ 5,8 bilhões. Marfrig e JBS caem 21% e 13%, respectivamente.
Nas contas do Itaú BBA, as ações da Minerva negociam a um múltiplo (EV/Ebitda 2023) de 4,1 vezes, um desconto de 10% sobre a média histórica da companhia. Se a companhia conseguir uma margem de dois dígitos neste terceiro trimestre, os investidores poderão ficar mais confiantes na capacidade da Minerva entregar um Ebitda perto de R$ 3 bilhões em 2023, o que pode contribuir com a recuperação do papel.
Capital de giro
Além da situação chinesa, a gestão de capital de giro também chegou a preocupar os investidores de Minerva no início do ano — o escândalo da Americanas tirou o apetite dos bancos para o risco sacado.
Na última teleconferência, em maio, Ticle já havia tranquilizado os investidores. A queima de caixa do primeiro trimestre, de mais de R$ 853 milhões, seria em boa parte revertida ao longo deste ano. Na época, ele estimou uma melhora de cerca de 80% (R$ 600 milhões) em capital de giro.
Por questões regulatórias, o executivo evitou detalhes, mas deixou o recado. “Não posso dar guidance, mas as coisas estão andando de acordo com o que falamos. O cenário que traçamos é que teria liberação de capital de giro, o que está se concretizando. Continuamos otimistas para que até o final do ano parte daquele capital de giro consumido seja devolvido”, resumiu.