Frigoríficos

Minerva vê R$ 600 milhões de melhora no capital de giro

O pior já passou. Numa teleconferência mais longa que o habitual nesta manhã, a Minerva Foods conseguiu aplacar as preocupações de quem ainda estava surpreso com a queima de caixa de R$ 853 milhões do primeiro trimestre, um efeito colateral do escândalo contábil da Americanas.

A conta para financiar os fornecedores — pecuaristas, em linhas gerais — ficou mais salgada porque a Minerva precisou usar mais de seu próprio caixa, uma vez que os bancos ficaram muito mais refratários às linhas de supply chain finance (risco sacado). A boa notícia: daqui para frente, o capital de giro vai contribuir com os resultados, liberando recursos do balanço.

“Não parece claro que as coisas [capital de giro] deveriam voltar a ser o que eram antes [da Americanas]. Quanto disso poderia tratar como não recorrente?”, indagou Ricardo Alves, analista do Morgan Stanley, na primeira pergunta da call com analistas.

Edison Ticle, o diretor financeiro da Minerva, discorreu longamente sobre o tema – sem fugir de uma resposta direta. É verdade que os bancos não vão retomar os limites de crédito para o risco sacado rapidamente, mas a conta de capital de giro deve melhorar substancialmente ao longo do ano.

Com os bancos refratários ao risco sacado, Minerva precisou financiar mais os pecuaristas

Na leitura do executivo, a Minerva deve contar com uma devolução de capital de giro da ordem de R$ 600 milhões ao longo do ano. Parte disso virá da linha de fornecedores, especialmente no segundo semestre, à medida em que os bancos fiquem mais confortáveis.

“A necessidade máxima de capital de giro deve ser de R$ 200 milhões no ano. Se piorou R$ 850 milhões no primeiro trimestre, pode esperar uma melhora da ordem de R$ 600 milhões ao longo dos próximos trimestres”, disse Ticle.

Retomada da China

Além dos fornecedores, uma boa contribuição ao capital de giro virá da linha de contas a receber, com a retomada das exportações à China aumentando as vendas e, portanto, os adiantamentos que os importadores asiáticos fazem aos frigoríficos.

A retomada da China, aliás, também ajudará a Minerva – especialmente no segundo semestre. Se o país asiático voltou mais lento do que muitos esperavam após a suspensão de um mês ocasionada pelo caso atípico do vaca louca, os próximos trimestres tendem a ser diferentes.

“Continuamos otimistas com volumes. O que aconteceu é que eles vão ficar concentrados no segundo semestre”, disse ele. A expectativa da Minerva é que os volumes cresçam dois dígitos em 2023, com preços estáveis. “Teremos expansão de Ebitda, receita e principalmente de geração de caixa livre”, repetiu.

Ticle também aproveitou a teleconferência para tentar guiar o mercado sobre os dados semanais de exportação divulgados toda segunda-feira pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), um relatório que nos últimos tempos tem pressionado as ações do frigorífico.

“O mercado fica muito volátil quando vê queda de volumes. Acho que a Secex pode ser uma boa bússola, mas é preciso ter o pé atrás com o dado que vem de lá. Já faz algum tempo que as estatísticas estão um pouco defasadas”, emendou. Às vezes, há um atraso de dois meses no registro da informação da exportação nos dados da Secex

Política de dividendos

Os sinais positivos não foram apenas esses. Uma indicação de Ticle sobre dividendos não passou despercebida.

A política de dividendos da Minerva prevê que, se o índice de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) estiver igual ou menor que 2,5 vezes, o payout mínimo é de 50% (acima dos 25% exigidos pela lei da S/As).

No fim de março, o indicador estava em 2,6 vezes. Ticle espera que a melhora das operações no segundo semestre reduza o indicador ao longo do ano, mas mesmo assim passou um recado.

“Se estiver em 2,6 vezes, 2,7 vezes, nada impede que o conselho decida distribuir mais. A política estabelece o mínimo de dividendos, mas não o que deve ser feito quando está diferente. É decisão do conselho”.

As mensagens da direção da Minerva foram bem recebidas no mercado. No início da tarde, as ações subiam mais de 4%, figurando entre as cinco maiores altas do Ibovespa. No acumulado do ano, porém, o papel ainda acumula uma baixa de 24%.

A Minerva vale R$ 5,8 bilhões.