Insumos

Na Agrivalle, um ex-Bayer para o boom dos biológicos

Andre Kraide veio da Bayer para acelerar o crescimento da companhia de bioinsumos trazendo diretores da Syngenta, Nutrien e Novartis

Antes dos corredores que levam aos laboratórios da Agrivalle, há uma sala de reuniões com um ponto de interrogação inserido propositalmente como nome de batismo do espaço. Na fábrica de Indaiatuba (SP), uma das mais modernas da indústria brasileira de bioinsumos, é a única sala sem um nome convencional.

Quando estão naquela sala ou passam na frente dela, os pesquisadores são lembrados da missão: encontrar respostas para a próxima revolução da agricultura.

“Todas as salas têm nomes de produtos do nosso portfólio. Apenas essa vem com essa característica pois ali é onde devem sair ou nascer os próximos blockbusters da Agrivalle que vão gerar muito valor para nossos agricultores e clientes”, diz Edsmar Rezende, sócio da 10b — gestora da Tarpon que comprou o controle da Agrivalle em 2019, por R$ 160 milhões.

Fábrica da Agrivalle em Indaiatuba, no estado de São Paulo: companhia pode quadriplicar capacidade de produção | Crédito: Divulgação

A próxima revolução da agricultura é também o desafio que fez os olhos de Andre Kraide brilharem, a ponto de deixar uma carreira de quase duas décadas na Bayer (onde liderou a área de sementes de soja no Brasil e em posições de comando em países como México e Singapura). Há cinco meses, Kraide é o CEO da Agrivalle.

Formado em agronomia pela Esalq, o executivo vê três ondas de adoção de tecnologia na agricultura. A primeira, claro, foi a Revolução Verde, que chegou há quatro décadas no Brasil pelas mãos da Embrapa e turbinou a produtividade no campo com a adoção do pacote de defensivos químicos, fertilizantes e sementes.

Uma segunda aceleração da produtividade agrícola veio com o desenvolvimento das sementes de transgênicas, com a soja geneticamente modificada chegando no fim dos anos 1990 ao Brasil (a primeira tecnologia foi desenvolvida pela Monsanto).

Agora, a nova onda vem com a adoção em escala dos insumos biológicos, uma mudança de paradigma necessária para a agricultura para lidar com as mudanças climáticas e a maior resistência de pragas aos químicos.

A estratégia da Agrivalle

Fundada há 20 anos, a Agrivalle despontou como uma das protagonistas da indústria brasileira de insumos biológicos, um mercado que ganhou mais atenção da Faria Lima nos últimos anos, especialmente após o IPO da Vittia e a recente venda da Biotrop aos belgas da Biobest, por R$ 2,8 bilhões.

Desde que teve o controle adquirido pela 10b, a companhia vem multiplicando de tamanho e investindo na fábrica, onde produz defensivos biológicos com base em bactérias e fungos. Só o biorreator para multiplicar bactérias, por exemplo, custa cerca de R$ 40 milhões.

Da forma modular como ergueu a fábrica de Indaiatuba, a Agrivalle está preparada para acompanhar o crescimento do mercado de biológicos. “Podemos quadruplicar de capacidade”, disse Kraide. A depender da tecnologia adaptada, o que inclui aperfeiçoamento dos microrganismos e melhores nos processos, o crescimento poderia ser ainda maior.

No ano passado, a Agrivalle fez uma receita líquida de R$ 232 milhões e um lucro de R$ 24,3 milhões, mostram as demonstrações financeiras da companhia.

Ainda que o ritmo de crescimento do mercado de biológicos fique menos intenso com a queda dos preços dos grãos, quem já adotou a tecnologia dificilmente retrocede e o caminho e o salto nos próximos anos parece inevitável.

No passado recente, o mercado brasileiro de biológicos cresceu mais de 50% ao ano, uma taxa talvez alta demais para esta safra 2023/24 mas ainda crescente. Na visão de Kraide, o apetite dos agricultores deve voltar a se acelerar a partir de 2025.

As mudança de Kraide

Sob o comando de Kraide, a Agrivalle trouxe diversos reforços para a equipe, tirando executivos de companhias tradicionais do agronegócio. Max Fernandes, que estava na Syngenta, assumiu como diretor de operações comerciais da Agrivalle.

Kraide vê muitas oportunidades para ganhar eficiência comercial na companhia, que atua em três canais de distribuição: atendimento a revendas, cooperativas e vendas diretas para agricultores de maior porte.

A Agrivalle também contratou João Oliveira, que era diretor de recomendações agronômicas da Nutrien na América Latina e veio liderar a área de P&D da Agrivalle, a quem caberá trazer as respostas de inovação.

Andre Kraide, CEO da Agrivalle
Andre Kraide assumiu como CEO da Agrivalle há cinco meses, depois de quase duas décadas na área agrícola da Bayer

Paralelamente ao P&D interno, a companhia também mantém parcerias com universidades e inovação aberta, o que pode acelerar o desenvolvimento de novos produtos.

Os reforços da Agrivalle também chegaram aos recursos humanos, uma área que Kraide tem particular interesse (em seu último cargo na Bayer, liderou o RH, cuidando da gestão de mais de 6,5 mil pessoas). Para a Agrivalle, trouxe Eduardo Potenza, que era diretor de RH da farmacêutica Novartis.

A julgar pelo time que acabou de montar, a Agrivalle e os sócios ainda vêm muito espaço para crescer antes de um M&A fazer sentido, como Marcelo Lima — o gestor da 10b — já havia sinalizado em entrevista recente ao The Agribiz. “Quanto mais a Agrivalle crescer, mais retorno a gente dá”.