A recuperação da rentabilidade da BrasilAgro, sinalizada pela companhia em setembro, apareceu de fato no balanço do primeiro trimestre da safra 2024/25. A empresa aumentou receita, Ebitda e lucro, apoiada em uma estratégia de comercialização atrasada (e bem-sucedida) da soja e em ganhos com a operação de cana — pontos que podem ajudar a companhia a retomar seu patamar histórico de margens nos próximos meses.
A BrasilAgro cresceu de cima a baixo no balanço. A receita líquida total saltou 73%, com um ganho expressivo em Ebitda, passando de R$ 23 milhões para R$ 61 milhões. A margem que mais do que dobrou, passando de tímidos 8% para 19%. Os ganhos se estenderam até a última linha, com um lucro líquido de R$ 97 milhões, ante R$ 29 milhões no ano anterior.
O lado operacional foi o principal impulsionador dos ganhos. Nesse sentido, a companhia ressaltou, assim como em setembro, o papel da comercialização tardia da soja. Se tivesse vendido a soja em 30 de julho, a companhia teria vendido a saca por R$ 100. Com a espera, conseguiu preços melhores, entre R$ 123 a R$ 125 por saca.
“Do estoque de 50 mil toneladas, temos ainda 20 mil toneladas de soja para vender, que também devem aproveitar esses ganhos”, sinalizou Gustavo Lopez, CFO da BrasilAgro, em coletiva de imprensa.
A entrada do açúcar
Além dos ganhos na soja, a companhia também aproveitou uma melhora de margem a partir de uma mudança na estratégia de venda de cana-de-açúcar, deixando de atuar somente na comercialização da cana para etanol para também vendê-la para a produção de açúcar — uma oportunidade que veio a partir da aquisição de uma fazenda em Brotas (SP).
Ao longo do último trimestre, das 2 milhões de toneladas de cana vendidas, 400 mil toneladas foram destinadas para a produção de açúcar. “Hoje, vendemos a cana a R$ 1,35 por quilo para açúcar e R$ 1,26 por quilo para etanol”, explica o CFO, exemplificando a vantagem entre os diferentes mercados.
Além de conseguir um mix de vendas melhor, a companhia teve um aumento de ATR (açúcar total recuperável), passando de 135 quilos para 139 quilos. Com uma produção maior e custo menor, a BrasilAgro apresentou um incremento de 20% na margem de produção da cana.
Daqui para frente, a companhia deve perseguir novos contratos de fornecimento de cana, acompanhando o aumento da área plantada, sinalizou André Guillaumon, CEO da BrasilAgro.
“Infelizmente, a gente vê que a paridade comercial entre açúcar e etanol foi se perdendo ao longo do tempo. Pode ser até que volte por causa dos biocombustíveis, mas, no médio prazo, estamos focados em aumentar a produção de açúcar nos novos contratos”, afirma o CEO.
Com essa combinação de preços da soja fixados em patamares superiores aos do mercado, melhores preços de cana e redução do custo de produção, a companhia vê espaço para trilhar um caminho de recomposição de margens, voltando para algo próximo a 30% de margem Ebitda.
Com essa volta, a empresa teria um Ebitda operacional na faixa de R$ 150 milhões a R$ 180 milhões, estima o CFO. “Não é um guidance, mas apenas uma estimativa do que poderíamos gerar na frente operacional com a recomposição de margens”, frisou.
A próxima safra
Para os próximos meses, a estratégia de hedge vai continuar exercendo um papel fundamental dentro da empresa. Atualmente, a BrasilAgro estima produzir cerca de 210 mil toneladas de soja no Brasil (líquido de arrendamento) e, desse total, comercializou 33% antecipadamente.
Essa receita tem um valor equivalente em dólares e, desse total, a empresa já travou 50%. Por políticas da companhia, a relação do volume travado de soja e o equivalente em dólares não pode ultrapassar 20%.
Em uma visão mais abrangente, a safra 2024/25 deve ter um restabelecimento dos estoques de passagem. “Nós somos conservadores nos preços de Chicago. Mas em todas as commodities o Brasil se beneficia muito da desvalorização cambial”, diz Guillaumon.
A lógica, então, é de que apesar de um ano mais fraco para a soja, o câmbio deve ajudar a puxar os resultados para cima. Em paralelo, o CEO cita a discussão geopolítica com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, que pode gerar novas oportunidades em uma eventual guerra comercial com a China.
O CEO também citou o aumento dos biocombustíveis, com as perspectivas mais imediatistas de aumento da mistura de etanol na gasolina, além de biodiesel e das perspectivas para o SAF, que impulsionam a demanda por commodities em médio e longo prazo.
Venda de terras
No trimestre, o resultado da BrasilAgro também foi turbinado pelo reconhecimento de uma receita relacionada à venda da fazenda Alto Taquari — a maior negociação da história da empresa, feita em 2021 — que trouxe um impacto de R$ 107 milhões para a receita da companhia. O montante foi reconhecido agora porque foi neste trimestre que a posse foi transferida ao comprador.
Ao longo dos últimos cinco anos, a BrasilAgro faz, em média, de R$ 260 milhões a R$ 270 milhões com venda de ativos. A postura vendedora deve permanecer daqui para frente, sinalizou Guillaumon, ressaltando oportunidades de venda de terras na operação da Bolívia e no Paraguai.
“Em países que demonstraram mais insegurança jurídica, temos mais anseio de vender. É uma situação contrária à do Paraguai, por exemplo, em que há uma crise climática, mas um país com um governo muito mais pró-negócio, uma possibilidade de crescimento ímpar”, afirmou o CEO.
Há ainda uma possibilidade de oxigenação de portfólio, dado que a BrasilAgro tem áreas no Paraguai com mais de dez cultivos. Dado o histórico da companhia de fazer vendas entre o 10º e o 11º ano de operação, a oportunidade por lá se acentua. “Já fizemos pequenas vendas no Paraguai, vendas muito pequenas ainda, trabalhando para intensificá-las”.