Armazenagem

Na Kepler Weber, a recuperação fica para a safra 2025/26

Na bolsa, os investidores reagem mal aos resultados. Nesta manhã, ações da fabricante de silos caem mais de 7%

Kepler Weber

Depois de um ano marcado por quebra de safra e alta da Selic, os resultados da Kepler Weber, a líder disparada do mercado brasileiro de silos agrícolas, refletiram o desafio. No ano passado, a empresa até aumentou o faturamento (em um dígito), mas perdeu rentabilidade, com as linhas de Ebitda e de lucro recuando.

No balanço divulgado ontem à noite, a Kepler Weber mostrou uma receita líquida de R$ 1,6 bilhão em 2024, crescimento de 6,3%. O Ebitda, no entanto, caiu 2,4% (para R$ 328,7 milhões) com uma margem de 20,4%, queda de 1,8 ponto percentual. Na última linha, a redução foi de 19%, fechando o ano com um lucro líquido de R$ 199,2 milhões.

A analistas, o CEO da Kepler Weber, Bernardo Nogueira, disse que os resultados refletem a conjuntura econômica de um ano desafiador, especialmente para a cadeia de grãos.

“Em um ano de safra menor e juros maiores, quando o cliente compra, pressiona por mais descontos para caber no orçamento, o que afetou nossas margens. Mas vamos ver esse cenário sendo revertido no segundo semestre, com o crescimento da safra de soja e aumento dos preços do milho em toda a cadeia”, projetou.

Na bolsa, os investidores da Kepler Weber reagem mal aos resultados. Nesta manhã, ações da companhia (KEPL3) caem mais de 7%, o que também é influenciado pela menor liquidez dos papéis. A fabricante de silos está avaliada em R$ 1,6 bilhão.

As apostas de crescimento

Mesmo com as maiores expectativas direcionadas para o segundo semestre, quando a safra 2025/26 começa a ser plantada, algum início dessa trajetória deve aparecer já no segundo trimestre do ano, sinalizou Nogueira.

“No segundo trimestre, já começaremos a encostar de volta nos patamares do ano passado. Por enquanto, no primeiro trimestre, ainda devemos ver essa acomodação de margens vista no quarto trimestre”, admitiu.

A aposta da Kepler Weber é que, enquanto as vendas para produtores rurais ainda vão levar algum tempo para se recuperar, o crescimento seja compensado pelas divisões de Portos e Terminais, além de Negócios Internacionais.

Em 2024, essas divisões apresentaram o maior crescimento percentual das cinco unidades de negócio da companhia. Na área internacional, por exemplo, o crescimento beirou 80%, batendo R$ 199 milhões em receita.

Na avaliação de Nogueira, o crescimento de dois dígitos altos deve ser o “novo normal” para a divisão. “Estamos muito otimistas com projetos para a Argentina. No ano passado, tivemos nossa primeira venda para o país, depois de anos sem atividade. Nossa matriz fica bem próxima à fronteira, o que nos traz uma logística excelente”, explicou.

Em Portos e Terminais, o avanço foi de 20%, para R$ 113,4 milhões — batendo recorde. No final do ano passado, a Kepler Weber ainda fechou outros três projetos: mais um em Santos, um em Rondonópolis (MT) e outro em Candeias (BA). “Esperamos divulgar mais um fechamento de negócio relevante até o final do primeiro trimestre,”, adiantou Nogueira.

Impacto do Plano Safra

Nas vendas aos produtores, a Kepler Weber depende mais do ambiente de crédito. Diante das incertezas do Plano Safra — que responde por 15% da receita da fabricante de silos, a empresa tem buscado alternativas de financiamento aos clientes com bancos parceiros.

“A liberação do Plano Safra tem sido muito baixa. Dos R$ 8 bilhões anunciados para o PCA [Plano de Construção de Armazéns], foram liberados R$ 2,3 bilhões. É uma proporção muito menor do que a dos últimos anos, em que a liberação já havia chegado a 60%, 70%”, disse Renato Arroyo, diretor financeiro e de RI da Kepler Weber.

Uma das alternativas de funding é levantar um fundo imobiliário para aluguel de silos, uma estratégia anunciada durante o último Kepler Day e que está caminhando. O fundo da Kepler será administrado pela Jubarte Capital, com a emissão coordenada do BTG Pactual, disse Arroyo.