Na Klabin, os próximos dois anos serão de desalavancagem. Depois, a companhia deve retomar o viés de crescimento, com indícios de investimentos em celulose fluff, usada em fraldas descartáveis e absorventes. A mensagem deu o tom da apresentação anual da companhia a investidores, realizada nesta terça-feira em sua fábrica de Piracicaba (SP), inaugurada neste ano.
“O fluff hoje tem um grande diferencial. A produção global é de seis milhões de toneladas e um único fabricante tem 35% de market share, com um custo caixa [de produção] alto, enquanto a Klabin consegue ter resultados mais lucrativos. Considerando tudo isso, o próximo investimento pós-período de desalavancagem pode ser em fluff”, disse Cristiano Teixeira, CEO da Klabin, a investidores.
O preço também ajuda a entender a equação: o spread entre a fibra longa (celulose de pinus) e a fibra curta (derivada do eucalipto) em 2023 foi superior a US$ 300 por tonelada. Na posição de liderança que a Klabin tem na produção de pinus no hemisfério sul, esse é um ponto a ser considerado.
“A demanda por fraldas geriátricas cresce em dois dígitos por ano, segundo estudos de mercado. E, na nossa visão, a melhor fibra para atender a essa demanda é a fibra longa”, afirmou Teixeira.
O CEO explicou que, para um novo projeto ser considerado pela Klabin daqui para frente, precisa apresentar uma TIR (Taxa Interna de Retorno) desalavancada de 14% a 15%, ou seja, considerando apenas recursos próprios para o investimento. Considerada a atual estrutura de capital da companhia (a Klabin tem 60% de capital próprio e 40% de dívida), o retorno nominal de novos projetos precisa de uma TIR perto de 20%.
Uma possível internacionalização está fora da pauta neste momento, segundo o CEO. A empresa vai continuar no caminho da fibra longa, com destaque para oportunidades no sul do país, região em que a Klabin já opera e vê espaço para crescer.
“Queremos ter o menor custo caixa do mundo no que fazemos. Não vamos fazer uma internacionalização que afete nossa competitividade. Investimento em floresta e em fibra é no Brasil”, pontuou o CEO, ressaltando as oportunidades em conversão de pastagens. Hoje, o Brasil tem 180 milhões de hectares de pasto, com uma produtividade média de aproximadamente uma cabeça de gado por hectare, afirmou o executivo.
Portfólio resiliente
Junto com as perspectivas de futuro, a Klabin relembrou aos investidores sua trajetória mais recente de crescimento. Ao longo dos últimos sete anos — como reflexo do plano decenal estabelecido em 2017 — a companhia se tornou mais diversificada, com um terço da sua produção dedicada à fibra, um terço ao papel e um terço à fabricação de embalagens.
“Somos uma empresa mais resiliente, mais flexível e que protege o ROIC (retorno sobre o capital investido)”, resumiu Teixeira. Como o papelão ondulado tem preços maiores e mais estáveis ao longo do tempo, a companhia consegue se desvincular de depender totalmente do ciclo da commodity.
A maior parte dos ativos da companhia está no upstream, com mais de 460 mil hectares de florestas. Depois, muito maquinário no miolo da produção da fibra e um maquinário marginal na conversão em outros produtos.
“A vantagem desse modelo é que quando eu faço o investimento em fibra para melhorar o retorno da floresta eu fico exposto a uma commodity, que varia muito ao longo do tempo. Na medida em que eu trago produtos mais ligados ao consumo, os preços variam menos. Todos os preços do downstream dos últimos seis a sete anos aumentaram mais do que o PIB brasileiro e do que a inflação”, explicou Teixeira.
Na média dos últimos cinco anos, o papelão ondulado cresceu um ponto percentual acima do PIB, por exemplo. A Klabin, com sua escala de produção, conseguiu crescer mais do que o mercado. Por exemplo: a média do IPCA no período foi de um aumento de 6%, o setor da Klabin cresceu 11% e a Klabin, 18% em bases compostas (CAGR). O preço do papelão é feito em contratos de três a quatro anos, o que também colabora para reduzir a volatilidade.
“Hoje a Klabin tem mais de 5 mil clientes de papelão ondulado e fabrica mais de 20 mil produtos. A companhia fornece 90% das embalagens da Nestlé, metade das embalagens da JBS (maior comprador de embalagens do Brasil) e tem 80% de participação na Unilever, além de outros 80% na Whirlpool”, disse Douglas Dalmasi, diretor de embalagens da Klabin.
Preparada para desalavancar
Depois de construir esse portfólio extenso, a empresa vê um momento para terminar o ramp up de projetos construídos ao longo dos últimos anos e reduzir sua dívida.
A empresa deve receber no primeiro semestre do ano que vem R$ 1,8 bilhão de uma TIMO (Timber Investment Management Organization), um veículo de investimentos criado por investidores institucionais visando ativos florestais. O montante deve reduzir em 0,2 vez a alavancagem da empresa, como afirmou Marcos Ivo, diretor financeiro da Klabin, a jornalistas.
Além desse empurrão financeiro, a companhia conta com boas perspectivas do lado operacional: a Klabin projeta aumentar em 200 mil toneladas sua produção no ano que vem. Desse total, 88 mil toneladas virão das máquinas 27 e 28 do projeto Puma II e, o restante, de pelo menos outros três fatores.
A Klabin não vai parar uma de suas fábricas (a de Monte Alegre) no próximo ano, seguindo o calendário de paradas a cada 15 meses. Além disso, também já sanou os efeitos de perda de celulose de fibra curta que afetaram a produção da empresa. E, numa reversão do cenário de baixa demanda por papelão ondulado e kraftliner, a companhia vai retomar a produção de sua fábrica em Paulínia (SP), que ficou desativada neste ano.
Custos estáveis
O custo de produção deve se manter praticamente estável no próximo ano. A empresa fez uma pequena revisão no guidance divulgado anteriormente, passando de um teto de R$ 3,1 mil por tonelada para R$ 3,2 mil a tonelada, refletindo uma pressão nos fretes marítimos para exportações em contêiner.
O câmbio atual também dá uma força aos resultados da empresa: A cada R$ 0,10 de variação do câmbio — para cima — a Klabin tem uma adição de R$ 160 milhões em Ebitda. Por outro lado, cerca de 15% do custo total é dolarizado.